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Por que a nova geração se tornou um dos desafios mais relevantes para os gestores de granjas?

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As atitudes das diferentes gerações impactam a convivência, a rotina de trabalho e os resultados. A liderança é um fator chave para compreender e gerenciar produtivamente esta relação.

A suinocultura moderna vem passando por uma verdadeira revolução tecnológica e administrativa, acentuada pelo aumento da competitividade do setor. A isto se soma uma preocupação unânime sobre o comportamento e o desempenho da nova geração de trabalhadores das granjas, aqueles nascidos durante as últimas três décadas e que já chega a ocupar mais de 40% da folha de pagamento.

Cada vez mais, os gerentes precisam de mais esforço coletivo e liderança para equilibrar as forças, naturalmente esperando mais comprometimento de seus funcionários. Essa alta expectativa frequentemente causa frustração, conflito e estresse improdutivo no ambiente de trabalho, como evidenciado pelos resultados de uma extensa pesquisa com gerentes de granjas que realizei ao longo dos últimos 10 anos. Todos compartilharam a opinião de que contratar e manter bons funcionários hoje é uma tarefa muito mais difícil do que no passado e que o maior problema é a nova geração de trabalhadores, citando que eles são mais desatentos, mimados, imediatistas e difíceis de engajar em trabalho de equipe. Outro relato comum é a dificuldade de mantê-los por um tempo mínimo economicamente viável, pois geralmente são demitidos ou pedem demissão antes de gerarem retorno sobre o investimento em contratação e treinamento.

É essencial discutir o assunto, mudando o foco para encontrar soluções que atendam às necessidades tanto da produção quanto dos jovens trabalhadores. Afinal, não importa quão tecnificada e moderna seja a granja, seu desempenho ainda dependerá em grande parte das pessoas. Estimular uma reflexão sobre as causas dos conflitos abre possibilidades para enxergar soluções mais produtivas para lidar com este novo cenário no local de trabalho:

“Os jovens são realmente um problema, ou é o velho e ainda dominante modelo de liderança das gerações anteriores que ainda ignora as necessidades e valores dos mais jovens? É mais viável compreender e adaptar o ambiente de trabalho da granja às necessidades dos jovens ou tentar mudar o comportamento de toda uma geração?”

É útil entender se existem razões para justificar os comportamentos de diferentes gerações e compreender a natureza e o impacto dessas diferenças.

Padrões de comportamento observados em cada geração e a sua influência na rotina de trabalho

Atualmente, quatro gerações com perfis totalmente diferentes trabalham lado a lado nas granjas: Baby Boomers, Geração X, Millennials e Geração Z. Os comportamentos são questionados, principalmente, pelas gerações mais velhas.

Com base nas minhas observações de consultoria em granjas, desenvolvi o seguinte quadro, onde descrevo as principais características e padrões de comportamento de cada grupo:

Características

Geração Baby Boomers

(Nascidos entre 1945-1965)

Geração x

(Nascidos entre 1966-1979)

Geração Millenials e Z

(Nascidos a partir de 1980)

Contexto

- Período de pós-guerra

- Perspectiva de incertezas sobre o futuro.

- Criação rígida recebida dos seus pais quanto a ética e valores.

- Forte influencia da televisão e rádio.

- Transição da tecnologia analógica para a digital.

- Avanços tecnológicos e internet.

- Redes socias e globais.

- Comunicação instantânea (mensagens).

- Mercado mais competitivo.

Crenças sobre as relações hierárquicas - A hierarquia é fortemente considerada na relação. - Respeito ao líder existe na medida em que o mesmo demonstra competência.

- Respeito e confiança condicionada à sua admiração pelo chefe.

- Muito atento à coerência entre o discurso e o exemplo do chefe.

- Repugna o autoritarismo e a imposição.

- Quer saber se está indo bem no trabalho (precisa de feedback constante).

Crenças sobre a empresa e o trabalho

- O compromisso com o trabalho é uma prioridade na vida.

- Quer um trabalho estável e de baixo risco.

- Lealdade de longo prazo à mesma empresa.

- Valoriza o sacrifício.

- Não vale a pena exagerar com a ousadia e com riscos.

- É fundamental buscar independência e liberdade.

- Buscar crescimento é importante.

- Fácil adaptação a mudanças e desafios.

- Mudar de empresa é natural e necessário.

- É importante ter um trabalho que faça sentido.

- Busca empresa com perspectivas de crescimento.

- Valoriza o bem estar no trabalho.

Comportamentos positivos

- Mais experientes.

- Disciplinados.

- Precavidos.

- Leais, dedicados e experientes.

- Inovadores.

- Sempre buscando conhecimento.

- Valoriza o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

- Maior responsabilidade social, com os recursos naturais e o bem-estar animal.

- Abertura à diversidade social e de gênero.

- Valoriza mais o equilíbrio trabalho-vida pessoal.

- Naturalmente engajado com o trabalho quando em condições favoráveis.

Comportamentos desafiadores percebidos pelos gerentes

- Dificuldade para lidar com mudanças.

- Mais conservador e controlador.

- Dificilmente influenciado por terceiros.

- Menos inovador.

- Competitividade às vezes excessiva.

- Sobrecarrega-se de trabalho.

- Individualista e distante.

- Distraído e ansioso.

- Imediatista e exigente.

- Questionador e ousado.

- Demonstra aversão a trabalho braçais.

A classificação acima tem mais a ver com o comportamento do que com a faixa etária de cada grupo. Por exemplo, um gerente pode pertencer à Geração X, mas demonstrar comportamentos de outra geração. Além disso, há uma forte influência da cultura de trabalho da granja sobre o comportamento dos seus líderes.

Considere o caso de um gerente da nova geração trabalhando em uma granja onde o proprietário é um Baby Boomers, mais conservador e controlador. Sendo conduzido por um Baby Boomers, este gerente tende a agir com os mesmos comportamentos deste último, geralmente por medo de agir contra os princípios do dono.

Relações e conflitos entre gerações dentro das granjas

Analisando a realidade atual, verificamos que a maioria dos proprietários de granjas pertence ou comporta-se como Baby Boomers ou Geração X, com idade média entre 44 e 77 anos. Entre as características mais marcantes dessas gerações, podemos mencionar a sua postura e liderança mais rígida e conservadora, que leva mais tempo para acreditar em mudanças e para confiar nas pessoas. Já a nova geração tende a ser mais aberta, flexível, assume que mudança é algo natural e tende a confiar mais facilmente nas pessoas.

Além disso, a maioria das empresas suinícolas é familiar. Acompanhei algumas granjas onde os filhos jovens foram recentemente promovidos à diretoria ou já se encontram na alta administração há muitos anos. No entanto, suas autonomias ainda são limitadas pelos seus pais. Quando ambos não conseguem lidar adequadamente com conflitos de opiniões e ações, o planejamento e execução das estratégias e operações da produção são gravemente prejudicados.

Também tenho observado conflitos entre funcionários de diferentes gerações. Nas nossas entrevistas em granjas, é muito comum ouvirmos a seguinte expressão dos empregados veteranos: "Essa garotada de hoje não quer se comprometer com o trabalho, não leva o serviço a sério e ainda é muito rebelde".

A nova geração e a elevada rotatividade nas granjas

A alta rotatividade é um fenômeno que se tornou rotina no mercado de trabalho, especialmente entre os jovens nascidos após 1996, os chamados "nativos digitais". Este grupo tem a atitude de mudar de emprego com uma facilidade nunca vista, está à procura de novos desafios, rápido crescimento na carreira e de benefícios ou posições que ofereçam equilíbrio trabalho-vida pessoal. Em outras palavras, buscam “empresas mais humanas".

Este novo trabalhador tende a procurar um ambiente de trabalho “mais tranquilo” e evita conflitos com colegas de trabalho ou chefes diretos, pois não pretende passar muito tempo na granja e prefere preservar bons relacionamentos visando não fechar suas portas para o futuro, na mesma empresa ou como futuros empreendedores.

Esta nova movimentação dos jovens tem sido vista como um grande problema pelos proprietários e gestores de granjas, uma vez que a desistência ocorre normalmente nos primeiros meses de trabalho, quando ainda estão em formação ou adaptação, o que afeta a estabilidade da equipe e o desempenho da produção.

Considerações finais

Hoje enfrentamos o grande desafio de correspondência das expectativas dos jovens profissionais às dos seus gestores. O estabelecimento desta relação recíproca exige que o líder tenha uma compreensão profunda das necessidades de cada geração envolvida.

Contudo, face a comportamentos tão diferentes entre empregadores e empregados, como podemos efetivamente criar um ambiente de trabalho mais satisfatório e centrado em resultados que, ao mesmo tempo, atenda às necessidades reais de cada geração? No próximo artigo, iremos discutir algumas soluções e práticas simples de liderança para estimular e envolver as novas gerações no ambiente de trabalho, trazendo exemplos reais da rotina de granja.

Comentários ao artigo

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13-Fev-2023 AlvimarJallesExcelente! Podemos repetir Leon Megginson, falando sobre “A Origem das Espécies” de Charles Darwin, em 1963: “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.”
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