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Coronavirus na suinocultura: atualização

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O coronavírus COVID-19 veio à tona nas últimas semanas. Neste artigo, revisamos as diferentes doenças causadas por vírus dessa família em suínos, lembrando que nenhuma infecção humana foi relatada por coronavírus de suíno.

Introdução

Os vírus da família Coronavirus são vírus de RNA pertencentes ao gênero Nidoviridales, que por sua vez contém duas subfamílias:

  • Coronaviridae, que compreende os gêneros Alphacoronavirus, Betacoronavirus e Gammacoronavirus.
  • Toroviridae, que inclui o gênero Torovirus e Bafinivirus.
  • Esses vírus são a origem de cinco patologias em suínos que, em ordem cronológica, são:
  1. Vírus da gastroenterite transmissível (TGE - 1946)
  2. Vírus da encefalomielite hemo-aglutinante (EHV - 1962)
  3. Diarréia epidêmica suína (PED - 1977)
  4. Coronavírus respiratório suíno (CRPv - 1984)
  5. Deltacoronavírus (PDCoV - 2009)

Três coronavírus suínos estão associados a distúrbios digestivos (TGE, PED e PDCoV). O coronavírus respiratório suíno (CRPv) está associado a problemas respiratórios e o vírus EHV dá origem a duas síndromes diferentes, a mais grave que é a doença do vômito e a encefalomielite.

Não foram relatadas infecções humanas por coronavírus de suíno

Vírus da gastroenterite transmissível

O vírus da TGE é um coronavírus que raramente é encontrado desde o final do século passado. Descrito em 1946, alcançou sua maior prevalência entre os anos 1970-80-90, tanto na Europa quanto nos EUA, sendo mais de 95% das granjas soropositivas européias nos anos 80. É um vírus altamente infeccioso que causa diarréia, desidratação e, ocasionalmente vômito, como um fator diferencial, e além disso, causa uma alta mortalidade em suínos jovens. O vírus da TGE é completamente sequenciado e apenas um sorotipo é conhecido. As homologias são descritas com Coronavírus bovino e humano e com Coronavírus Respiratório Suíno. Do ponto de vista epidemiológico, são descritas condições epidêmicas e endêmicas. É um vírus relativamente termoestável, resistente a pH baixo e a muitos desinfetantes. A 37ºC, é inativado em menos de duas horas, sendo muito sensível à luz e altamente resistente ao congelamento. O vírus permanece por longos períodos de tempo em canais de congelamento. Isso faz com que as principais focos da doença ocorram durante os meses frios (sazonalidade no inverno).

Patogênese

A via de infecção é fecal-oral precedente do material fecal. O vírus se multiplica principalmente nas células do trato gastrointestinal, estando presente no citoplasma das células infectadas após 4-5 horas, principalmente na base das vilosidades intestinais do intestino delgado. Causa atrofia das vilosidades, que reduz significativamente a absorção de nutrientes e causa diarréia osmótica agravada pelo menor transporte de sódio e glicose, gerando hipoglicemia. Ao mesmo tempo, ele se multiplica em diferentes órgãos extra-intestinais, como pulmões (macrófagos alveolares), tecido mamário e linfonodos. A IgA presente no colostro protege os leitões de 6 a 12 semanas de vida. Os anticorpos ativos aparecem uma semana após a infecção e podem persistir por 6 meses em animais de engorda, e até dois anos em fêmeas reprodutoras. O vírus pode persistir nos suínos após o desaparecimento dos sinais clínicos e pode ser excretado nas fezes por 10 semanas, e portanto, os animais podem permanecer como portadores assintomáticos com risco de infectar outros animais. Já as reprodutoras podem transmitir o vírus através do leite.

Outras vias de transmissão são caminhões, botas, dejetos e até cães e gatos, já que o vírus persiste por duas semanas no sistema digestivo, podendo ser excretado. O período de incubação é de apenas 1-2 dias e a duração do quadro clínico é de 7 a 10 dias.

Clínica

Os quadros mais característicos são superagudos e agudos em granjas livres da TGE que são infectadas, apresentando surtos de diarréia que afetam animais de todas as idades em poucos dias. A diarréia é intensa, aquosa, verde amarelada e, às vezes, com mau cheiro. Nos leitões, o vômito é frequente, falta de apetite sem febre ou sinais nervosos, desidratação com alta mortalidade em 24-48 horas, atingindo 100% dos leitões com menos de uma semana, 50% na segunda semana e até 25% na terceira semana de lactação. Os leitões morrem desidratados, com estômago distendido, petéquias hemorrágicas no intestino delgado, mesentéricos hipertrofiados (lesão característica), atrofia de microvilosidades intestinais (duodeno, jejuno e íleo) com paredes mais finas, necrose de enterócitos no jejuno com redução da atividade enzimática e conteúdo amarelado. Nos leitões, são comuns coinfecções por bactérias digestivas, como E. coli e Clostridium spp, que agravam e prolongam o quadro clínico.

Em suínos com mais de um mês, a clínica é semelhante, mas de intensidade muito menor, com alta morbidade e mortalidade muito baixa. Nas granjas onde o Coronavírus era enzoótico, os animais foram afetados na transição para a engorda. As principais consequências para os animais de engorda são o baixo desempenho zootécnico e a penalização da conversão alimentar. Nas reprodutoras, exceto nos casos de diarréia que se espalham rapidamente, houve apenas um ligeiro aumento nos abortos e na mortalidade das fêmeas. Nas fêmeas lactantes , podemos encontrar casos de anorexia e agalaxia.

Diagnóstico

Os sinais clínicos e lesões são bastante evidentes, porém, devemos fazer o diagnóstico diferencial com quadros causados por cepas enterotóxicas de Escherichia coli, Clostridium spp, Rotavírus, Coccidios e Cryptosporidium. A idade dos animais infectados e a evolução do quadro clínico também nos ajudarão muito a focar o diagnóstico no coronavírus. A confirmação por análise laboratorial é determinada por:

  • ELISA com soro monoclonal específico de suíno para detectar o antígeno nas fezes e no conteúdo intestinal.
  • Microscopia eletrônica para detectar o vírus no conteúdo intestinal.
  • Neutralização sérica para detectar anticorpos 7-8 dias após a infecção e por 18 meses após.
  • Imunoperoxidase nos tecidos intestinais fixada para detectar o vírus em leitões em idades muito precoces.
  • PCR: isolamento do vírus do intestino, amígdalas e linfonodos, bem como nas fezes.

Tratamento

O tratamento visa combater os sinais clínicos. Vacinas comerciais não estão disponíveis. Havia uma nos EUA que não é mais comercializada hoje. A hidratação é a principal medida e o controle de infecções concomitantes nos ajuda a reduzir o impacto sem esquecer todas as medidas de biossegurança, vazios sanitárias e condições ambientais ideais, que são críticas e importantes para os leitões. O objetivo principal é infectar todos os animais da granja o mais rápido possível e adquirir imunidade ativa. Para o controle do processo, era prática habitual a reinfecção com fezes.

As principais medidas de controle são baseadas na prevenção:

  1. Biossegurança: roupas próprias, controle de visitas, alimentação e transporte de animais.
  2. Vazios sanitários em todas as áreas de produção. Limpeza, lavagem com água quente a 65ºC e desinfecção.
  3. Evitar a entrada de cães e gatos nas granjas.
  4. Programas de limpeza, desnaturação e desinfecção eficazes.
  5. Entrada de leitoas e machos de reposição negativas e de origem conhecidas.
  6. Isolamento, adaptação e quarentena de 8 a 9 semanas das futuras reprodutoras, com observação rigorosa de qualquer alteração digestiva.
  7. Protocolo de saneamento para água potável.
  8. Manejo de colostragem de leitões com sua própria mãe nas primeiras 24 horas antes de iniciar a movimentação/adoções.

Virus da encefalite hemo-aglutinante

É comum na suinocultura da América do Norte e Europa, mas a doença clínica é incomum. Isso ocorre porque a maioria das fêmeas foi infectada, são imunes e transmitem anticorpos aos seus leitões através do colostro, que os protege durante o período em que são vulneráveis. Embora o vírus possa infectar suínos suscetíveis de qualquer idade, ele causa apenas uma doença clínica em leitões com menos de 4 semanas. As cepas variam em virulência, dando origem a duas síndromes diferentes, a doença de vômito e encefalomielite. Ambos começam por volta dos 4 dias de idade e de repente, afetam ninhadas inteiras. Por isso, é sempre importante diferenciar entre infecção e doença.

Diarreia epidêmica dos suínos

É uma doença altamente contagiosa, com estrutura genômica e replicação muito semelhantes às de outras espécies animais e humanas. A virulência dos vírus isolados em diferentes países durante os quadros clínicos foi semelhante, com dispersão genética mínima. Apenas um sorotipo é conhecido. O vírus se espalhou epidemicamente por toda a Europa na década de 1970, causando sintomas diarréicos graves em leitões em lactação e diarréia recorrente em leitões desmamados e de engorda. Novos surtos epidêmicos na Europa e na Ásia ocorreram nas décadas de 80, 90, 2000 e até 2009 (Itália, Coréia, Tailândia), com quadros intermitentes em grande parte dos países produtores de suínos em todo o mundo.

Patogênese

A principal via de transmissão é a via fecal-oral direta ou indireta, através da entrada de animais infectados positivos, além de veículos contaminados e pessoas. A duração da excreção do vírus em animais infectados é de 7-9 dias pelas fezes, e o tempo de permanência do vírus em animais portadores não é bem conhecido. Assim, após um surto agudo de doença, a persistência ou desaparecimento do vírus em uma granja é muito variável. O vírus é destruído após 60 ° C e é estável a 37 ° C. O período de incubação é de apenas um dia ou um dia e meio. A replicação do vírus ocorre no citoplasma das células epiteliais das vilosidades intestinais do intestino delgado. Nesta parte, produz uma degeneração dos enterócitos, com uma atrofia acentuada das vilosidades intestinais e uma alta redução da capacidade de absorção de nutrientes.

Clínica

A morbidade em qualquer estágio da produção pode chegar a 100%, sendo mais variável nas reprodutoras. A mortalidade em leitões em lactação pode chegar a 100%, com taxas entre 30-50% sendo muito normais. O principal sinal clínico é a diarréia aquosa que causa a morte por desidratação em 2-4 dias nos leitões em lactação, além de vômitos e perda de apetite. Leitões em lactação e animais de engorda podem se recuperar da diarréia após uma semana, porém aparentam sinais de anorexia, depressão e alto retardo de crescimento. Após um quadro clínico que acomete as reprodutoras, elas adquirem imunidade e transmitem aos leitões, via colostro. O curso da doença em uma granja geralmente dura no máximo um mês, variando de acordo com o tamanho da granja e o sistema de produção. Esse período pode ser prolongado no caso de complicações secundárias devido a agentes infecciosos digestivos, como Escherichia coli, Clostridium perfringens, Rotavírus, Isospora suis, Salmonella spp, Lawsonia intracellularis ou Brachispira spp. Devemos ter em mente que as lesões se concentram exclusivamente no intestino delgado, que parece distendido com conteúdo aquoso amarelado e o estômago vazio. Presença de atrofia das vilosidades intestinais em até 70% e vacuolização de enterócitos com redução da atividade enzimática.

Diagnóstico

Os sinais clínicos, embora não sejam específicos, são bastante evidentes. O diagnóstico deve ser feito com análise laboratorial, enviando amostras apropriadas para fazer o isolamento antigênico. As amostras mais convenientes são seções do intestino delgado fechadas e refrigeradas no primeiro dia de diarréia e de um número significativo de animais. É necessário levar amostras de várias idades, onde a doença clínica é apresentada. As técnicas de imunofluorescência direta e teste imuno-histoquímico são muito específicas. As técnicas de ELISA também detectam o antígeno nas fezes e a PCR também permite diferenciar o coronavírus do PED e da TGE. As técnicas sorológicas para detectar anticorpos por ELISA requerem amostras emparelhadas com um intervalo de 3 semanas. Eles aparecem a partir de uma semana após a infecção. O pico de anticorpos nas granjas infectadas é observado quatro meses após a infecção para diminuir posteriormente.

Tratamento

Somente paliativos, tendo que priorizar a hidratação nos leitões desmamados com soro fisiológico, reidratação e substitutos lácteos. A transmissão via colostro de IgA específica de fêmeas para leitões é crítica, portanto a rápida exposição do vírus à fêmeas gestantes, infectando-as com fezes de leitões para estimular a produção de anticorpos, (dependendo da fase de produção onde a infecção começou), permite reduzir a duração do quadro clínico e a disseminação nas diferentes fases de produção. Também podemos evitar a transmissão entre as diferentes fases de produção, levando os leitões do desmame para um local 2 fora da granja. Quanto a vacina, esta está disponível na Ásia e nos Estados Unidos.

Coronavirus respiratorio suíno

Sua incidência e prevalência em nível internacional são muito baixas e atualmente têm um leve impacto econômico na produção suína. Este vírus é uma variante da família de vírus da TGE que infecta o trato respiratório e não é eliminado pelas fezes. O coronavírus respiratório suíno produz anticorpos que neutralizam o vírus da TGE. O vírus infecta animais de todas as idades, seja por contato direto ou por transmissão aérea, sendo mais prevalente em áreas de alta densidade de animais. A apresentação da doença é subclínica, sendo comum encontrar muitos animais soropositivos sem nenhuma clínica na maioria das regiões do mundo que são endêmicas. Sua estrutura genômica e replicação são muito semelhantes às de outras espécies animais e humanas.

Patogênese

A rota de transmissão direta é por contato oral ou indireto por via aérea. O vírus se replica no trato respiratório (mucosa nasal e pulmões) e infecta células do epitélio nasal, traquéia, brônquios, bronquíolos e alvéolos. O vírus não atravessa a barreira placentária, embora possa ser encontrado no sêmen de javalis infectados 6 dias após a infecção. A imunidade colostral passiva geralmente dura de 10 a 15 semanas de vida, coincidindo com o tempo de entrada na engorda e mistura dos animais, quando temos o maior risco de infecção entre eles. Após a infecção, o tempo de excreção nasal do vírus é de 7 a 15 dias. Sua prevalência é sazonal, aumentando nos meses frios e diminuindo nos quentes.

Clínica

Os sinais clínicos incluem tosse, dispnéia, respiração abdominal, depressão, anorexia e leve retardos de crescimento, sintomas semelhantes aos da maioria dos problemas enquadrados no Complexo de Doenças Respiratórias de Suínos (CDRS). O agravamento da clínica ocorre em casos clínicos combinados ao vírus PRRS ou agentes infecciosos bacterianos, que causam, nesses casos, pneumonia que pode ser grave. O coronavírus respiratório pode estar localizado no trato respiratório superior e inferior. As lesões mais características, que não são patognomônicas, são:

  • Consolidação pulmonar
  • Pneumonia bronco-intersticial e bronco-catarral
  • Hiperplasia do epitélio bronquiolar com perda de células epiteliais
  • Infiltração de leucócitos, linfócitos e macrófagos no septo alveolar

Diagnóstico

Os sinais clínicos não são específicos. As lesões ajudam, mas dificilmente podemos fazer um diagnóstico definitivo com base na clínica e esse deve ser confirmado enviando amostras apropriadas ao laboratório para isolar o vírus, concentrando-se no tecido pulmonar, epitélio da mucosa nasal e fluidos nasais. A PCR permite diferenciar o coronavírus digestivo do respiratório. O ELISA e a Neutralização Viral (NV) detectam anticorpos neutralizantes que, quantitativa e qualitativamente, não podemos distinguir se eles vêm de um vírus ou de outro. A sorologia é usada para verificar a substituição, a fim de confirmar sua negatividade. No caso da NV, os anticorpos são detectados uma semana após a infecção, que persiste durante os 18 meses após a TGE, sem saber bem quanto tempo duram contra o coronavírus respiratório.

Prevenção e controle

A infecção precoce em leitões em lactação e desmamados resulta em imunidade contra o Coronavírus respiratório e também cria imunidade parcial contra problemas digestivos devido ao coronavírus da TGE. Não existem tratamentos antibióticos ou antivirais, apenas tratamentos paliativos em frente à clínica respiratória e agentes secundários agravantes. A primeira medida preventiva é impedir a entrada do vírus nos animais de reposição, por meio do gerenciamento com a empresa de genética e análises durante a quarentena. As medidas de biossegurança interna e externa são uma das maiores garantias para nos manter livres da doença. Os padrões de vazio sanitário, todos dentro -todos fora, são igualmente recomendados. Atualmente, não existem vacinas comerciais disponíveis para o Coronavírus Respiratório Suíno.

Comentários ao artigo

Este espaço não é um local de consultas aos autores dos artigos, mas sim um local de discussão aberto a todos os usuários da 3tres3.
28-Fev-2020 Gustavo_NedelCelitron Brasil disponibiliza equipamentos para redução bacteriológica de material potencialmente infectante. Para maiores informações entre em contato:
gustavojosenedel@gmail.com
https://celitron.com/en/news/coronavirus-safety-measures-at-major-international-airports
25-Mar-2020 PORK PLUSExcelente!!!
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