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Ficha Técnica: Ervilha

Ficha técnica com o valor nutricional (comparação de tabelas) e estudos mais recentes sobre as ervilhas.

Introdução

As ervilhas (Pisum sativum) são uma leguminosa herbácea de rápido crescimento que produz vagens deiscentes que contêm várias sementes globulares ou angulares, lisas ou rugosas, dependendo da variedade. As ervilhas possuem grande diversidade genética e os programas de seleção e melhoramento têm gerado muitas variedades que diferem na cor da flor, forma e cor do grão, etc. Entre elas, uma das características mais importantes associadas à cor da flor e do grão é o teor de tanino, sendo as variedades com flores brancas as que produzem sementes sem taninos. As ervilhas são uma boa fonte de proteína e energia, mas o seu valor nutricional é altamente variável e depende em grande parte de fatores antinutricionais (inibidores de tripsina e lectina), alergenicidade da proteína, estrutura proteica, taninos e teor de fibras. A sub-espécie hortense de flor branca e baixa concentração de fatores antinutricionais (5-5,5 IU inibidor tripsina/mg MS) é a mais utilizada para a produção de ervilha como fonte de proteína para rações já que o seu nível de inclusão não fica limitado. É uma fonte de proteína de alta qualidade, altamente digestível e muito palatável e rica em lisina, mas tal como outras leguminosas é deficiente em aminoácidos sulfurados. Possui baixo teor de gordura (1%) e alto teor de amido (43%) e aproximadamente 4% de açúcares. A fração fibrosa associada à casca da ervilha e parede vegetal é de fácil digestão pelos suínos (Coef. Digestibilidade >70%) o que permite utilizar o grão inteiro na maioria das fases fisiológicas, com exceção de animais jovens. A limitação de utilização nos leitões não está apenas relacionada com a fibra mas também com a dificuldade de digestão do amido e a presença de fatores antinutricionais, aspectos que com o processamento pelo calor favorecem a sua adição como fonte de proteína para leitões ao desmame. Outros tratamentos tecnológicos como a descorticagem, a micronização e o tratamento térmico melhoram muito a digestibilidade da proteína e amido, mas aumenta o custo como fonte de proteína para suínos. As ervilhas, pelas suas características, são uma cultura de estação fresca que podem ser encontradas tanto na Primavera como no Outono, o que a nível agrícola pode representar uma cultura interessante para introduzir o conceito de dupla colheita, alternando cereal de ciclo curto e a ervilha.

Estudo comparativo dos valores nutricionais

Os sistemas utilizados na comparação são: FEDNA (Espanhola), CVB (Holandesas), INRA (Francesa) e NRC (EUA) e de Brasil.

FEDNA CVB INRA NRC BRASIL1
MS (%) 89,3 88,6 86,4 88,1 -
Valor energético (kcal/kg)
Proteína bruta (%) 21,5 20,1 20,7 22,17 -
Extrato etéreo (%) 1,0 1,0 1,0 1,2 -
Fibra bruta (%) 6,0 5,3 5,2 6,16 -
Amido (%) 42,5 41,6 44,6 43,46 -
Açúcares (%) 3,5 4,3 3,9 - -
ED crescimento 3450 - 3320 3504 -
EM crescimento 3275 - 3160 3353 -
EL crescimento 2350 2399 2320 2419 -
EL matrizes 2420 2399 2380 2419 -
Valor proteico
Digestibilidade proteína bruta (%) 83 86 84 80 -
Composição aminoácidos (%)
Lys 7,16 7,10 7,30 7,35 -
Met 1,01 1,00 1,00 0,95 -
Met + Cys 2,40 2,50 2,30 2,35 -
Thr 3,80 3,70 3,80 3,74 -
Trp 0,91 0,90 0,90 0,95 -
Ile 4,15 4,10 4,20 4,24 -
Val 4,70 4,60 4,70 4,65 -
Arg 8,50 8,80 8,60 8,62 -
Digestibilidade ileal standartizada (%)
Lys 83 79 83 85 -
Met 77 69 80 77 -
Met + Cys 73 65,5 75 72,5 -
Thr 77 69 76 76 -
Trp 72 63 73 69 -
Ile 80 76 79 81 -
Val 78 72 77 78 -
Arg 89 87 89 90 -
Minerais (%)
Ca 0,08 0,09 0,11 0,09 -
P 0,40 0,38 0,40 0,42 -
Pfítico 0,21 0,21 0,18 0,17 -
P disponível 0,15 - - - -
P disponível 0,18 0,18 0,19 0,23 -
Na 0,02 0,01 0,01 - -
Cl 0,07 0,07 0,08 - -
K 0,96 1,00 0,98 - -
Mg 0,12 0,12 0,14 - -

1Não existem dados publicados para a ervilha no sistema de avaliação BRASIL que não contempla o ingrediente dentro do seu sistema de avaliação já que a produção total de ervilha na América do Sul não é superior a 2% do total da produção mundial.

Ao contrário de outras fontes de proteína de origem vegetal, a ervilha não é muito variável em comparação com outras fontes de proteína da indústria extrativa, onde o processamento tem um papel muito importante. Embora a fonte de variação possa estar associada à variedade cultivada e às condições de cultura, estas condicionarão tanto a digestibilidade das frações de proteína como de amido e vão gerar alterações na proporção de fibra. Embora a ervilha seja uma fonte de proteína considerada pela maioria dos sistemas de avaliação, o BRASIL não a considera como ingrediente por não ser tipicamente cultivado na América do Sul.

Para esta revisão, foram escolhidos os valores utilizados a nível comercial contemplados nas tabelas dos sistemas de avaliação FEDNA, INRA, CVB e NRC. Observa-se que o teor de proteína é muito estável (CV<3%) e não é condicionado pelo teor de fibra (CV~7,5%), de modo que o teor de fibra, dependendo da variedade e condições de cultura, pode duplicar a variação da proteína, mas sem afetar negativamente o teor final. A variação do coeficiente de digestibilidade da proteína é de 3%, entre os extremos CVB (86% Dig. Coef.) e NRC (80% Dig. Coef.), deixando FEDNA e INRA no ponto intermédio, apresentando coeficientes de digestibilidade muito semelhantes entre elas. É importante observar que, quando utilizado como grão inteiro na fabricação de rações, o teor e o tipo de fibra e amido são fatores determinantes no valor e na digestibilidade da energia. Em termos de energia líquida (EL), a avaliação é muito semelhante e as diferenças entre os extremos são de, no máximo 100kcal EN/kg. Embora INRA e FEDNA dêem um valor mais baixo (-50 em relação à média) e o maior valor seja para CVB e NRC, que são muito semelhantes. Estas diferenças podem ser explicadas por uma diferença na ponderação da digestibilidade do amido e na fração de fibra fermentável aplicada para CVB e NRC nas suas equações de predição de energia. O teor de amido não é muito variável (CV<2,6%), mas o INRA, embora tenha a maior concentração de amido, é o sistema de avaliação que estima o valor mais baixo de EL para animais jovens, enquanto o CVB com valor de amido mais baixo estima o valor mais alto de EL assumindo uma influência negligenciável no teor energético associado ao teor de açúcar (também pouco variável). Estas diferenças são claramente reduzidas e standartizadas para matrizes e animais adultos onde a capacidade de fermentação de fibras e digestão de amido reduz as diferenças entre os valores energéticos estimados para <20Kcal/kg. Em termos de aminoácidos totais, tomando como referência a lisina, verifica-se que não há grandes diferenças entre FEDNA, CVB e BRASIL (<1,5-2%), embora o NRC estime valores de quase +3% para a lisina e isoleucina e +5% para triptofano em relação à média dos demais sistemas de avaliação. No entanto, cabe destacar que a ervilha apresenta uma baixa concentração de aminoácidos sulfurados em comparação com o resto dos concentrados proteicos vegetais e, com exceção do CVB, que confere valores mais elevados de enxofre (+7%) e arginina ( +3%) em relação aos restantes sistemas de avaliação, apresentam valores muito estáveis. O coeficiente de digestibilidade da lisina mostra um intervalo entre 79% e 83% (FEDNA, CVB e INRA) com um extremo ascendente de 85% de NRC. O teor de minerais Ca, P e P fítico é muito baixo e pequenas variações geram grande variação (CV>5% a 10%), mas com pouco impacto no nível aplicado.

Descobertas recentes

1. Valor de energia líquida de bagaço de canola, ervilhas forrageiras e sêmea de trigo em dietas de suínos de terminação

Foram realizadas duas experiências para determinar os valores de energia líquida (EL) do bagaço de soja, bagaço de canola Napus e sêmea de canola Juncea, ervilha forrageira e sêmea de trigo por calorimetria indireta, e comparar os valores de EL determinados com os valores de EL calculados das mesmas rações, com base numa equação de previsão. O estudo mostrou que o valor de EL para o bagaço de soja e de canola pode ser previsto com base no valor de energia digestível (ED) e composição de macronutrientes dos mesmos alimentos. No entanto, o valor de EL para ervilhas forrageiras e sêmeas de trigo não pode ser previsto com precisão com base no valor de DE e na composição de macronutrientes dos mesmos alimentos.

2. Digestibilidade de nutrientes de ervilhas forrageiras tratadas termicamente em leitões desmamados

Existe uma preocupação relativamente à inclusão de grãos de ervilha forrageira nas dietas devido à menor digestibilidade energética em relação ao bagaço de soja e grão de milho e à presença de inibidores de tripsina que podem afetar a digestão das proteínas. O processamento por calor e fricção pode reduzir a atividade do inibidor de tripsina em grãos de ervilha e aumentar a digestibilidade da energia e proteína, no entanto, o seu efeito em leitões desmamados é desconhecido. No entanto, o presente estudo mostrou que a peletização a frio reduziu a atividade do inibidor de tripsina e aumentou o valor energético do grão de ervilha forrageira e a extrusão reduziu a atividade do inibidor de tripsina e aumentou a digestibilidade ileal de alguns aminoácidos.

3. Rendimento do crescimento de leitões desmamados alimentados com ervilhas forrageiras cruas, granulados a frio, granulados a vapor ou extrusados

A ervilha forrageira é uma fonte alternativa de amido e proteína para suínos mas a inclusão de ervilhas forrageiras cruas em dietas de leitões desmamados pode reduzir a eficiência alimentar (G:F). No entanto, o rendimento de crescimento de leitões desmamados alimentados com ervilhas forrageiras processadas por tratamentos de calor e fricção é desconhecido, por isso propôs-se estudar o impacto da sua inclusão em dietas de desmame. O estudo mostrou que leitões desmamados alimentados com 400 g de ervilha forrageira/kg de dieta em substituição ao bagaço de soja foram capazes de manter o rendimento de crescimento. Uma maior ingestão média diária das dietas de ervilha forrageira em relação às dietas de bagaço de soja indicou que os suínos compensaram o valor energético reduzido das dietas de ervilha forrageira. A ervilha forrageira crua pode ser incluída em dietas ao final da transição sem tratamento térmico para substituir 300 g de bagaço de soja e 100 g de grão de trigo/kg de dieta.

4. Eficiência das sementes de ervilha em dietas para matrizes, leitões e suínos de terminação

Duas variedades de ervilhas, uma de flor branca (cv. Tarchalska) e outra de flor colorida (cv. Milwa), substituíram parcialmente o bagaço de soja nas dietas de matrizes, leitões e suínos de terminação. O efeito de um suplemento de enzimas alimentares no rendimento animal e na qualidade estimada da carcaça e da carne também foi determinado usando métodos padrão. As ervilhas tiveram pouco efeito sobre as características físicas da carne, melhoraram a sua capacidade de retenção de água, mas não alteraram a sua cor e luminosidade. A variedade Cv. Tarchalska reduziu significativamente todas as propriedades sensoriais estimadas. Conclui-se que as sementes de ervilha, principalmente variedades com flores coloridas, podem ser um substituto adequado para o bagaço de soja, em quantidades moderadas, durante todo o ciclo nutricional do suíno.

5. Previsão da digestibilidade de aminoácidos de sementes de leguminosas em suínos de terminação: meta-análise

O uso de ingredientes alternativos, como sementes de leguminosas, pode ajudar a reduzir o custo da alimentação e o impacto ambiental. De fato, as sementes de leguminosas são uma importante fonte de aminoácidos essenciais (EAAs) e, portanto, podem ser uma alternativa às farinhas de oleaginosas. No entanto, o uso correto dessas sementes de leguminosas requer um conhecimento preciso da digestibilidade ileal padronizada dos EAAs, que pode variar de acordo com sua variedade botânica. Foi realizada uma meta-análise da literatura disponível. Os resultados mostraram que a proteína bruta (PB) e a fibra bruta (FC) da dieta foram, respectivamente, os melhores preditores de cada digestibilidade ileal padronizada de EAA para fava, tremoço, ervilha e soja. Para o teor de EAA digestível, os melhores modelos de predição incluíram PB dietética e fibra em detergente ácido para fava, tremoço, ervilha e soja, respectivamente. Os modelos desenvolvidos neste estudo permitem prever a digestibilidade dos EAA nestas rações alternativas.

Referências

FEDNA: http://www.fundacionfedna.org/
FND. CVB Feed Table 2016. http://www.cvbdiervoeding.nl
INRA. Sauvant D, Perez, J, e Tran G, 2004, Tables de composition et de valeur nutritive des matières premières destinées aux animaux d'élevage,
NRC 1982. United States-Canadian Tables of Feed Composition: Nutritional Data for United States and Canadian Feeds, Third Revision.
Rostagno, H,S, 2017, Tablas Brasileñas para aves y cerdos, Composición de Alimentos y Requerimientos Nutricionales, 4° Ed

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