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Circovírus suíno tipo 3 (PCV3) associado a doença clínica em suínos no Brasil

Descrito pela primeira vez na América do Sul casos de infecção por PCV3 associados a doença clínica em leitões e como causa de falhas reprodutivas.

Circovírus suíno se divide em 4 espécies (PCV 1-4), dos quais o PCV1 é considerado não patogênico, o PCV4 ainda está em fase de elucidação sobre seu papel como causador de doença clínica e os PCV2 e PCV3 são comprovadamente patogênicos. Entretanto, apesar de pertencerem ao mesmo gênero, causam doenças diferentes.O PCV3 foi associado a doença clínica em suínos pela primeira vez em 2015, em uma propriedade com suínos com dermatite, síndrome da nefropatia suína e falhas reprodutivas (abortos) (Palinski et al., 2017). Desde então, inúmeros trabalhos em todo o mundo vêm demonstrando a associação de PCV3 com a ocorrência de inflamação multissistêmica, vasculite, encefalite, miocardite, mumificação fetal e pneumonia em fetos abortados (Arruda et al., 2019; Saporiti et al., 2021). No Brasil, até recentemente, apenas se havia detectado o material genético do vírus no soro de porcas com histórico de nascimento de leitões natimortos e em tecidos de leitões mumificados (Tochetto et al., 2018; Dal Santo et al., 2020).

Recentemente, a doença espontânea associada a PCV3 foi reportada no Brasil pelo grupo de pesquisa do Setor de Patologia Veterinária, SPV-UFRGS (Molossi et al., 2022a; Molossi et al., 2022b). As pesquisas iniciaram em 2020 quando suinocultores e médicos veterinários relataram sobre o nascimento e mortalidade de leitões com orelhas rotadas caudalmente, fraqueza e uma parte deles apresentava dispneia. Além disso, também houve a demanda pela investigação da ocorrência de abortos em matrizes suínas. Nas 5 propriedades avaliadas, havia nascimento de leitões que chamamos de “Dumbo-like piglets” (figura 1), que morriam até o quinto dia de vida. A maior parte desses leitões eram provenientes de leitoas de primeiro parto (77%) e a média de dumbos nascidos por leitegada foi de 4,8. No vídeo 1, leitões recém nascidos apresentando sinal clínico de apatia, característica da infecção por PCV3.

Vídeo 1: Seis leitões dumbos recém nascidos, demonstrando sinal clínico de apatia.

Figura 1: Leitões neonatos com orelhas rotadas caudalmente “Dumbos” (dois primeiros leitões), o primeiro demonstrava sinal clínico de apatia, enquanto os demais leitões não apresentavam alterações.
Figura 1: Leitões neonatos com orelhas rotadas caudalmente “Dumbos” (dois primeiros leitões), o primeiro demonstrava sinal clínico de apatia, enquanto os demais leitões não apresentavam alterações.

Em uma das propriedades estudadas, dois leitões conseguiram sobreviver e chegaram às idades de 35 e 60 dias de vida; no entanto, esses leitões apresentaram diminuição na taxa de crescimento quando comparados com outros leitões da mesma idade (figura 2) (Molossi et al., 2022a). Nas duas propriedades avaliadas, que tinham aumento da taxa de abortos, também foi observado aumento da taxa de natimortos e mumificados. Os abortos ocorreram em terço final de gestação (Molossi et al., 2022b).

Figura 2: Leitão de 60 dias de vida com orelhas rotadas caudalmente e diminuição da taxa de crescimento de tamanho e peso semelhantes aos demais leitões com apenas 35 dias de vida.
Figura 2: Leitão de 60 dias de vida com orelhas rotadas caudalmente e diminuição da taxa de crescimento de tamanho e peso semelhantes aos demais leitões com apenas 35 dias de vida.

Foi realizado exame post mortem desses leitões (neonatos, abortos e leitões mais velhos) e coleta sistêmica para processamento rotineiro e avaliação histológica, além de coleta de alguns órgãos congelados para realização de qPCR. Algumas amostras ainda foram submetidas ao exame de hibridização in situ (ISH). Na avaliação post mortem, os leitões apresentavam orelhas rotadas caudalmente e edema pulmonar. Na avaliação histológica, tanto dos leitões neonatos, quanto os abortos e os dois leitões mais velhos apresentavam inflamação perivascular frequentemente com vasculite multissistêmica, miocardite, a maioria com pneumonia intersticial, miosite e encefalite. Os exames de PCR assim como os cortes histológicos submetidos a ISH confirmaram a presença de PCV3. Na análise filogenética da ORF2 (open Reading frames) do vírus, as amostras analisadas foram agrupadas dentro do clade PCV3a. Em ambos estudos (neonatos e abortos), todos os diagnósticos diferenciais de doenças infecciosas foram descartados através do exame de PCR.

O diagnóstico de infecção por PCV3 é desafiador, visto que o material genético do vírus já foi detectado em suínos saudáveis. Entretanto, é possível realizar um diagnóstico acurado, associando-se o quadro clínico, lesões histológicas e exames moleculares. A técnica de ISH é considerada confirmatória, entretanto, no Brasil ela ainda não foi implantada para PCV3, principalmente devido ao elevado custo. Atualmente o grupo de pesquisa está estudando outras opções de confirmação acurada de diagnóstico da doença nos suínos afetados pelo vírus.

Nos vídeos 2 e 3, leitões dumbos com sintomatologia de infecção por PCV3.

Vídeo 2: Leitão dumbo neonato, com depressão do sistema nervoso central.

Vídeo 3: Leitão dumbo de 3 dias de vida, apresentando dispneia, com respiração abdominal e ruídos respiratórios.

Foi descrito pela primeira vez na América do Sul casos de infecção por PCV3 comprovadamente associados a doença clínica em leitões e como causa de falhas reprodutivas. Esses estudos indicam o PCV3 como doença emergente nos rebanhos suínos do Brasil e reforçam a necessidade de implantação de métodos de controle da doença, para que se diminuam as perdas por mortalidade de leitões e perdas com baixa performance reprodutiva. Mais estudos são necessários para esclarecer a morbidade, mortalidade e letalidade bem como o impacto econômico da doença no rebanho nacional.

Agradecimentos: Os autores agradecem a equipe do Setor de Patologia Veterinária -UFRGS envolvida nos estudos; ao setor de virologia da UFRGS pela realização dos exames de PCR. Ao professor Fabio Vanucci pela realização da hibridização in situ. Ao Luciano Brandalise e Gustavo Simão, por todo apoio à realização desse estudo.

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