Costumo iniciar algumas apresentações com uma frase direta do agrônomo Fernando Penteado Cardoso: “Somos um país em que as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada.” E sempre reforço que, no nosso trabalho, na Bolsa de Suínos de Minas Gerais (BSEMG), buscamos fazer exatamente o contrário: medir tudo, observar bastante e achar o mínimo!
Esse princípio se aplica diretamente à forma como passamos a enxergar o mercado. Durante muito tempo, predominou um mito repetido à exaustão na suinocultura: “o frigorífico é o culpado pela queda dos preços.”

A frase parecia oferecer uma explicação simples para momentos difíceis, mas escondia o real funcionamento do mercado, atrasando a maturidade das decisões.
A evolução começou quando deixamos de lado as crenças reconfortantes e passamos a adotar critérios objetivos.
A análise técnica — baseada em fundamentos como oferta, demanda, expectativas, especulação e concorrência — permite entender que os preços refletem movimentos coletivos, que se irradiam pela cadeia de produção com comportamentos conhecidos dos seus agentes e sem culpados!
As nossas métricas atuais contemplam tanto variáveis objetivas de oferta de animais ao mercado quanto o processamento das opiniões e sensações dos seus participantes.
Até métrica da "vontade de vender" já conseguimos em uma amostra menor, mas de modo muito seguro!
Essa mudança de postura aproximou produtores e frigoríficos. Quando ambos os lados reconhecem que estão reagindo às mesmas forças de mercado, o diálogo se torna mais racional. Em vez de apontar culpados, busca-se interpretar tendências e construir estratégias que respeitem a lógica do sistema.
O alinhamento não significa ausência de conflito, mas sim a existência de uma linguagem comum. Gráficos, séries históricas e indicadores técnicos passaram a substituir os achismos e as acusações genéricas. Isso favorece negociações mais construtivas, porque os argumentos ganham base, e as decisões passam a considerar o todo.
O mercado não é regido por intenções individuais, mas por estímulos de escassez e abundância. Quando compreendemos isso com clareza, substituímos a reação emocional por ação estratégica. E é aí que critério vira vantagem competitiva.
Em 2025, por exemplo, a taxa de “acordos de mercado” em Minas Gerais (quando produtores e frigoríficos concordam com o preço para a semana) chegou a impressionantes 89,29%, com apenas 3 desacordos registrados em metade das semanas do ano.
Trata-se de um resultado objetivo que mostra como o avanço da análise técnica e a adoção de critérios racionais aproximaram os agentes do setor.
A Tabela 1 a seguir mostra a evolução anual dessas taxas desde 2019.
Tabela 1. Evolução anual das taxas de acordo e número de desacordos entre produtores e frigoríficos em Minas Gerais.
Ano | % de acordos | N° de desacordos |
---|---|---|
2019 | 66,67% | 17 |
2020 | 79,25% | 11 |
2021 | 69,23% | 16 |
2022 | 67,31% | 18 |
2023 | 71,15% | 15 |
2024 | 63,46% | 19 |
2025 | 89,29% | 3* |
(*) valores parciais até a metade do ano.
Média do período de sete anos: 71,18% de acordos — um resultado sólido, mas com evidente salto em 2025.
Trata-se de um resultado objetivo que mostra como o avanço da análise técnica e a adoção de critérios racionais aproximaram os agentes do setor. Afinal, os fundamentos de mercado nos dizem que o melhor resultado da Bolsa de suínos, em longo prazo, precisa contemplar liquidez.
Guerras onde ninguém tem razão só produzem satisfação momentânea, tumulto nas negociações e pouco resultado efetivo. Quanto mais acordos, maior a liquidez do mercado e por consequência o melhor preço médio de longo prazo!