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Reinício sanitário: o poder do despovoamento e repovoamento para recuperar a rentabilidade

Quando as perdas e os custos decorrentes de uma má sanidade representam uma ameaça à rentabilidade atual e futura da granja, talvez devamos considerar um “recomeço do zero”.

A sanidade continua se consolidando como um dos principais fatores que determinam as diferenças de rentabilidade nas empresas de suinocultura. As doenças provocam uma redução no número total de leitões desmamados, aumento da mortalidade e piora no índice de conversão, o que se soma aos custos adicionais sanitários, logísticos e de pessoal decorrentes dos esforços para mitigar o problema.

A diferença no custo de produção entre granjas, fluxos ou empresas com maiores desafios sanitários e aquelas menos afetadas frequentemente supera a margem de lucro histórica do setor. Isso significa que, em contextos de mercado menos favoráveis, há granjas, fluxos e empresas cuja rentabilidade e sustentabilidade econômica ficam comprometidas. Além disso, é importante considerar que o uso de antibióticos para tratar as doenças acumuladas nas populações suínas está se tornando cada vez mais restrito.

As bases de um programa integral de melhoria sanitária em um sistema de produção de suínos são:

  1. Prevenção (biosseguridade), para minimizar o risco de introdução de agentes infecciosos;
  2. Estabilização (controle), para mitigar o impacto das doenças existentes;
  3. Erradicação dos patógenos que possam ser eliminados a um custo razoável.

Para isso, técnicos e produtores contam com diversas intervenções sanitárias, como programas de biosseguridade, imunizações, medicação estratégica, manejo tudo dentro/tudo fora, manejo em bandas, fechamento da granja e aclimatação de reposição, que devem ser aplicadas conforme as circunstâncias.

Doenças como PRRS, influenza suína, pneumonia enzoótica (Mycoplasma hyopneumoniae) ou disenteria suína (Brachyspira hyodysenteriae) podem ser eliminadas de forma consistente mediante a combinação adequada de algumas das estratégias mencionadas anteriormente. No entanto, existem variantes altamente patogênicas de agentes como Actinobacillus pleuropneumoniae, Streptococcus suis, Glaesserella parasuis ou Escherichia coli, que não podem ser erradicadas das populações suínas sem recorrer a estratégias mais radicais, como o despovoamento e repovoamento ou a cesariana com privação de colostro e separação dos leitões.

Quando um ou vários desses agentes mais difíceis de eliminar provocam perdas significativas, ou quando coexistem várias doenças de alto impacto econômico, deve-se realizar uma análise sistemática para determinar se o despovoamento e repovoamento são a ferramenta mais adequada a ser implementada.

Figura 1. Árvore de decisão para avaliar a viabilidade de realizar um despovoamento e repovoamento. O despovoamento e repovoamento são de interesse para a minha granja?
Figura 1. Árvore de decisão para avaliar a viabilidade de realizar um despovoamento e repovoamento. O despovoamento e repovoamento são de interesse para a minha granja?

Planejamento

O despovoamento e repovoamento de granjas de suínos consistem na retirada completa dos animais existentes, seguida de uma limpeza minuciosa, desinfecção completa das instalações e posterior introdução de animais com status sanitário superior.

A experiência acumulada em 30 projetos de despovoamento e repovoamento pode ser resumida em cinco pontos críticos que determinam o sucesso do processo:

1. Processo de decisão para justificar e executar o projeto. Esta fase requer uma investigação rigorosa e um processo de deliberação que permita construir consenso entre as equipes de gerência, produção e sanidade antes do início do projeto. Os principais aspectos a serem considerados incluem:

  • A estimativa do impacto econômico atual das doenças presentes ou a projeção da redução dos custos de produção após alcançar o status sanitário desejado.
  • A avaliação do risco de reintrodução dos agentes patogênicos que se deseja eliminar ou o tempo estimado em que se espera manter a produção sob o novo status sanitário. A maioria dos patógenos de importância econômica, como Brachyspira hyodysenteriae, Actinobacillus pleuropneumoniae, Streptococcus suis ou Glaesserella parasuis, pode ser prevenida com um programa básico de biosseguridade, mesmo em granjas localizadas em áreas de alta densidade suína, já que a transmissão indireta desses agentes é menos provável.
  • A disponibilidade de marrãs de reposição, tanto inicial quanto futura, que possuam o status sanitário exigido e potencial genético competitivo.
  • A viabilidade real do projeto, considerando a disponibilidade de pessoal qualificado, instalações adequadas e apoio logístico suficiente.

2. Fonte de reposição com status sanitário superior. A empresa deve possuir garantias sólidas quanto à sanidade da granja de origem das marrãs de reposição. Essa granja deve estar livre de agentes epidêmicos de alto impacto, como PRRS, Actinobacillus pleuropneumoniae, Mycoplasma hyopneumoniae ou Brachyspira hyodysenteriae. Além disso, deve-se conhecer com precisão a diversidade e o impacto clínico dos agentes endêmicos presentes, como Streptococcus suis, Glaesserella parasuis, Escherichia coli ou PCV2, entre outros.

3. Manejo da recria e cobertura em uma granja externa. Na ausência de uma granja externa destinada à recria e cobertura, um projeto de despovoamento e repovoamento implicaria uma interrupção na produção de leitões desmamados por um período de 20 a 22 semanas, o que, na maioria dos casos, torna o projeto economicamente inviável. Para minimizar essa perda produtiva, recomenda-se dispor de uma instalação externa e biossegura que permita acumular, recriar e cobrir as marrãs de reposição, de forma que estejam prontas para serem introduzidas na granja no momento adequado (Fig. 2). Essa estratégia permite reduzir o período sem produção para 4 a 6 semanas, das quais uma parte significativa pode ser recuperada graças ao melhor desempenho produtivo dos novos animais.

Figura 2. Diagrama de linha do tempo e fluxo de animais durante o despovoamento e repovoamento.
Figura 2. Diagrama de linha do tempo e fluxo de animais durante o despovoamento e repovoamento.

4. Procedimento de esvaziamento e descontaminação das instalações. Cinco ou seis semanas antes de iniciar as coberturas na granja externa, suspende-se o serviço de coberturas na granja que será despovoada. A partir desse momento, todas as matrizes desmamadas são enviadas para abate, e inicia-se o processo de esvaziamento, limpeza e desinfecção da granja, que se estenderá pelas 20 semanas seguintes. É fundamental planejar detalhadamente as atividades semanais para garantir a remoção de 100% da matéria orgânica de todas as áreas, o manejo adequado das fossas de dejetos, a execução das manutenções e reformas necessárias, o controle de pragas, e a limpeza de vestiários, armazéns, escritórios e arredores da granja, além da inspeção sistemática de cada seção. Cada empresa pode possuir protocolos específicos de limpeza, desengorduramento e desinfecção, mas o sucesso do processo depende principalmente de uma implementação meticulosa e coerente em cada etapa do projeto.

5. Reintrodução e início da nova população. Uma vez validada a eliminação total de matéria orgânica, poeira e biofilme, e comprovada a aplicação correta dos desinfetantes nas concentrações recomendadas, bem como a ausência de umidade nas instalações, a duração do período de vazio sanitário torna-se um fator menos crítico para o sucesso do projeto. Em alguns casos, justifica-se o uso de animais sentinela para confirmar a ausência de agentes infecciosos antes da introdução da nova população. Após um investimento dessa magnitude, é essencial garantir que os veículos de transporte utilizados representem risco sanitário mínimo. A entrada das marrãs deve ser feita de forma escalonada, começando por aquelas próximas à cobertura ou ao parto, e deixando para o final as últimas marrãs cobertas na recria externa, com o objetivo de facilitar a implantação embrionária. Para assegurar o sucesso produtivo da nova população, é essencial treinar as marrãs no sistema automático de alimentação durante a gestação, além de realizar um manejo cuidadoso da condição corporal durante a recria externa.

Conclusão

O despovoamento e repovoamento são uma estratégia eficaz para interromper os ciclos de transmissão de doenças de alto impacto. Sua correta implementação permite não apenas melhorar o status sanitário das granjas, mas também recuperar a eficiência produtiva e a rentabilidade a longo prazo. No entanto, o sucesso do processo depende de um planejamento rigoroso, de uma execução meticulosa e de uma avaliação técnico-econômica prévia que justifique sua viabilidade. Diante de um cenário sanitário cada vez mais desafiador e de um mercado mais competitivo, estabelecer a estratégia mais custo-efetiva pode ser o fator decisivo entre a sustentabilidade econômica e o fracasso de uma empresa suinícola.

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