X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
Leia este artigo em:

Disenteria suína, velhos novos inimigos

As patologias digestivas em suínos, que antes eram tratadas individualmente contra um único patógeno, hoje formam um complexo digestivo suíno que deve ser enfrentado a partir de vários pontos de ação.

A produção suína moderna, com as novas genéticas, mudanças regulatórias, movimentos sociais e a redução do uso de antibióticos, tornou-se ainda mais profissionalizada e enfrenta desafios cada vez mais complexos em sua resolução.

Assim, as patologias digestivas em suínos, que antes eram tratadas individualmente contra um único patógeno, hoje compõem um complexo digestivo suíno que deve ser enfrentado por meio de múltiplas frentes de ação. Processos digestivos mal controlados já nas fases iniciais do desmame criam um terreno propício para a ação combinada de patógenos digestivos na fase de engorda: Brachyspira e Lawsonia (tabela 1). Dentre elas, a mais preocupante atualmente é a disenteria suína (Hidalgo et al., 2010).

Tabela 1. Agentes identificados em infecções mistas em granjas de engorda com problemas entéricos. (Digespor, 2008-2009)*.

Infecções mistas Granjas (%)
B. hyo + L. intr 25 (11,4%)
B. hyo + B. pilo 2 (0,9%)
B. hyo + S. ent 13 (5,9%)
L. intr. + B. pilo 4 (1,8%)
L. intr. + S. ent 11 (5%)
B. pilo + L. int 4 (1,8%)
B. hyo + L. int + S. ent 8 (3,6%)
B. hyo + L. int + B. pilo 3 (1,3%)
B. hyo + L. int + B. pilo+ S. ent 2 (0,9%)

*Digespor, Grupo de pesquisa em doenças digestivas do INDEGSAL (Instituto de Desenvolvimento Pecuário e Sanidade Animal – Universidade de León)

Qual Brachyspira está por trás dos problemas digestivos em suínos?

B. hyodysenteriae é o agente etiológico clássico da disenteria suína e continua sendo o mais frequente na União Europeia, enquanto B. hampsonii, descoberta na última década, está disseminada em granjas da América do Norte. Outra espiroqueta, B. suanatina, que pode ser isolada em aves, foi encontrada ocasionalmente em granjas com sintomas de disenteria (Burrough ER, 2016), embora com resultado negativo para outras espiroquetas, Lawsonia ou Salmonella.

Existem outras espécies de Brachyspira, fracamente hemolíticas, algumas das quais estão associadas à colite (B. pilosicoli), enquanto outras podem ou não estar relacionadas a patologias entéricas (B. intermedia, B. murdochii), ou parecem não patógenas (B. innocens) (Carvajal et al., 2019).

O que torna a disenteria um problema atual tão complexo de controlar?

Os fatores-chave residem principalmente em:

  • Baixas doses infectantes
  • Períodos prolongados de eliminação
  • Agentes altamente resistentes no ambiente
  • Existência de vetores biológicos e fômites
  • Maior controle no uso de antimicrobianos

Tudo isso favorece a fácil contaminação das granjas, o estabelecimento de infecções enzoóticas após o surto inicial e dificulta significativamente as medidas de controle e os programas de erradicação.

Com uma incidência atual de disenteria no mercado espanhol em torno de 20%, com maior ou menor manifestação clínica, o impacto econômico nas produções é mais do que preocupante.

A doença pode se manifestar de forma hiperaguda, aguda ou crônica, dependendo de fatores como o aumento da proliferação, da transmissão e da colonização por Brachyspira.

A ocorrência de disbioses mais ou menos graves, a nutrição ou o manejo nutricional, a qualidade da água e fatores de estresse de todo tipo (ambiental, nutricional, manejo etc.) serão determinantes na forma como a doença se apresenta e no impacto econômico que causará, seja:

  • de forma subclínica, reduzindo em maior ou menor grau os resultados produtivos, ou praticamente sem afetá-los;
  • de forma clínica agressiva, com aumento da mortalidade, alta morbidade, evidente deterioração dos animais, longos períodos de vazio sanitário nas granjas de engorda, aumento de refugos e tratamentos com antibióticos e perdas econômicas que podem chegar a até 15 € por animal.

Na metade do século XX, as medidas adotadas contra essa doença baseavam-se no vazio sanitário e em limpeza e desinfecção intensivas.

No final do século XX, os programas de erradicação baseavam-se em tratamentos antibióticos prolongados, limpeza e desinfecção intensivas e programas de DDD (Desinfecção, Desinfestação e Desratização).

Atualmente, com os marcos regulatórios atuais de bem-estar animal, com matrizes alojadas em grupo em vez de individualmente (aumentando a transmissão horizontal na granja), novas genéticas altamente produtivas com elevado consumo e rápido crescimento, restrições no uso de antibióticos, maior pressão de infecção por processos virais e aumento da resistência antimicrobiana, somados à ocorrência de processos digestivos mistos, o controle da doença e de sua transmissão torna-se extremamente desafiador.

O mercado precisa adotar uma nova abordagem para enfrentar o controle da doença, buscando ao mesmo tempo alcançar resultados produtivos ideais, economicamente viáveis e sustentáveis.

Devemos, portanto, abordá-lo de forma ampla, tanto em relação ao tempo, já que as patologias digestivas na fase de engorda têm início ainda em idades precoces, quanto à diversidade de agentes envolvidos, ainda que, ao final, um deles acabe se sobressaindo.

Conclusão

Uma análise correta e a identificação de pontos críticos ao longo do processo produtivo — contemplando desde a maternidade até a fase de engorda, com foco no enfrentamento de patógenos digestivos, programas de limpeza e desinfecção, manejo sanitário, controle ambiental e nutricional, permitirão a elaboração de um programa de controle que atenda às nossas expectativas.

Programas vacinais ajustados com base nos resultados obtidos, adequação correta dos programas nutricionais, uso de ferramentas nutricionais autorizadas pelas autoridades sanitárias e cientificamente comprovadas, programas de limpeza e desinfecção validados com frequência em diversos pontos da granja e também no transporte, além de um controle rigoroso de roedores e outros vetores, permitirão reduzir ao máximo o uso de antibióticos ao estritamente necessário e alcançar a máxima rentabilidade da produção, possibilitando competir com sucesso em um mercado altamente exigente (Gómez García M., 2022).

Comentários ao artigo

Este espaço não é um local de consultas aos autores dos artigos, mas sim um local de discussão aberto a todos os usuários da 3tres3.
Insira um novo comentário

Para realizar comentários é necessário ser um usuário cadastrado da 3tres3 e fazer login:

Você não está inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.br

Faça seu login e inscreva-se na lista

Você não está inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.br

Faça seu login e inscreva-se na lista