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Estamos baixando a guarda contra a peste suína africana? Estamos preparados para quando o lobo chegar? (2/2)

Considerando a expansão da PSA nos últimos anos em nível global, estamos preparados para esse aumento do risco?

Chaves para a preparação

Em um país livre de PSA, estar preparados consiste em:

  • reforçar a biosseguridade das granjas,
  • minimizar o risco de introdução no país,
  • otimizar a detecção precoce
  • e ensaiar as medidas de controle em caso de surto.

Os parágrafos seguintes abordam cada um desses quatro pontos.

A biosseguridade das granjas suínas espanholas melhorou de modo geral. No entanto, não se pode esperar o mesmo nível de segurança em sistemas intensivos e extensivos. Com frequência, os custos associados à implementação de medidas de biosseguridade e, especialmente, as regulamentações vigentes (ambientais, municipais…) limitam a capacidade das explorações de cumprir todas as recomendações. Por exemplo, as normas que exigem a construção de barreiras físicas, como cercas perimetrais, representam investimentos significativos e muitas vezes requerem permissões que devem ser tratadas com a prefeitura e a Comunidade Autônoma. Contudo, a diferença às vezes está nas medidas mais simples. Análises de risco recentes demonstraram, por exemplo, que o uso de telas mosquiteiras reduz significativamente o risco de entrada do vírus, o que destaca a eficácia de medidas simples, porém fundamentais, na prevenção. De qualquer forma, todas as unidades produtivas devem se unir ao esforço de melhorar a biosseguridade. O pequeno percentual de descumpridores pode causar um dano importante para todo o setor.

Sabemos que a medida de biosseguridade mais essencial é uma cerca à prova de javalis, dupla ou muralhada, e ainda são muitas as granjas que, por diversos motivos, não a possuem.

É essencial minimizar o risco de introdução por meio de: animais vivos, produtos contaminados, comércio marítimo etc. Hoje, na Espanha, a importação de javalis infectados é, felizmente, muito improvável. Isso se deve, entre outras razões, à boa iniciativa do Ministério da Agricultura da Espanha em proibir esses movimentos no âmbito comunitário. Por outro lado, o comércio de suínos vivos não para de crescer. A Espanha já importou mais de 3 milhões de suínos vivos no primeiro semestre de 2025 (figuras 1 e 2). Projetando as importações desses primeiros seis meses, chegaremos a 6 milhões. Isso representa um risco enorme.

Figura 1. Origem das importações de suínos vivos para a Espanha (2020–2025).
Figura 1. Origem das importações de suínos vivos para a Espanha (2020–2025).

Figura 2. Número de suínos vivos importados na Espanha (2020–2025).
Figura 2. Número de suínos vivos importados na Espanha (2020–2025).

Este aumento no comércio de suínos vivos reflete uma tendência mais ampla na Europa, onde o comércio de animais vivos experimentou um crescimento significativo nos últimos anos. Apesar dos esforços das autoridades veterinárias e dos produtores, o transporte de animais por longas distâncias pode contribuir para a disseminação de patógenos entre diferentes países e regiões, especialmente se os protocolos de biosseguridade não forem aplicados de forma rigorosa. O risco é ainda maior durante surtos de doenças transfronteiriças, já que até pequenas falhas na cadeia de controle podem ter consequências devastadoras para a saúde animal e para a economia do setor.

No que diz respeito aos produtos de origem animal, os maiores riscos ocorrem quando javalis periurbanos têm acesso a lixo, como acontece em várias grandes cidades, em postos de serviço, áreas de descanso e locais semelhantes frequentados por transportadores e turistas, sobretudo quando esses locais são acessados por javalis. Perto dos grandes portos de Algeciras, Barcelona e Valência, onde todos os anos atracam milhares de navios provenientes da China e de outros países infectados, há javalis. E, claro, o risco também existe nas granjas suínas que ainda permitem que seus trabalhadores entrem com alimentos preparados em casa. Qualquer produto cárneo contaminado pode dar início a um surto.

Detecção precoce: É fundamental dispor de uma capacidade adequada de diagnóstico. Todo o setor suíno, especialmente os veterinários, conhece a importância de contar com uma capacidade diagnóstica robusta. A Espanha possui um sistema de diagnóstico de primeiro nível, o que é essencial para a detecção precoce dessa doença. No entanto, o temor das consequências de declarar uma possível infecção, como a paralisação da granja ou a aplicação de medidas drástica, leva muitos produtores a não informar casos suspeitos de PSA. Essa dificuldade poderia ser superada com maior flexibilidade no acesso aos testes diagnósticos. Um problema semelhante ocorre no ambiente silvestre, que é um dos principais fatores de risco na disseminação do vírus entre javalis. Por medo ou aversão à burocracia, quase não são notificados javalis encontrados mortos. Embora o setor cinegético esteja informado sobre a importância de comunicar casos suspeitos, muitos caçadores ainda desconfiam das administrações. Esse receio faz com que não sejam realizados testes suficientes, deixando muitos casos de mortalidade sem análise. Isso dificulta a detecção precoce da doença.

É fundamental conscientizar os caçadores de que a detecção precoce permite resolver o problema em um ou dois anos. Em contraste, a disseminação da PSA devido à detecção tardia resultará em uma epidemia prolongada, com efeitos dramáticos tanto para o setor suíno quanto para o cinegético (caça).

A Espanha fez sua lição de casa: investiu em planos de preparação e vigilância. Foram publicados manuais específicos, lançadas campanhas direcionadas a transportadores, caçadores e outros atores-chave, e existem protocolos bem definidos para qualquer suspeita de surto. Foram realizados dezenas de simulacros, tanto em suínos como em javalis, e tanto em ambiente de escritório como em condições realistas de campo. Esses simulacros buscaram envolver não apenas os serviços veterinários oficiais, mas também entidades de caça, forças de segurança e gestores do meio natural. Alguns deles foram coordenados com entidades supranacionais como a EUFMD-FAO (figura 3). No caso dos suínos, um dos grandes desafios a considerar é o protocolo de esvaziamento de grandes granjas em condições seguras.

No entanto, a experiência alemã demonstra que tudo isso, embora necessário, pode não ser suficiente.

Apesar de contar com um sistema veterinário bem estruturado e medidas preventivas avançadas, a Alemanha não conseguiu impedir a entrada do vírus em 2020, proveniente da Polônia, por meio de javalis infectados. Desde então, o vírus se estabeleceu na fauna silvestre, o que obrigou à implementação massiva de recursos e medidas de contenção que, anos depois, continuam em vigor, com sucessos apenas parciais e com impacto devastador nos setores afetados.

Figura 3: Simulacros de PPA en jabalíes.
Figura 3: Simulacros de PPA en jabalíes.

A conclusão é que não devemos relaxar. A vigilância e a detecção precoce, a formação contínua e uma comunicação fluida entre todos os atores (produtores, veterinários, caçadores, transportadores, gestores públicos) são essenciais para antecipar possíveis focos. A chave não está apenas em reagir bem, mas em estar sempre um passo à frente do vírus.

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