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Os maiores problemas das granjas são invisíveis (2/2)

Liderança é a competência-chave para identificar e tratar os problemas de maior impacto negativo sobre o engajamento da equipe e a produtividade de uma granja.

No artigo anterior, falamos a respeito dos desafios adaptativos, muito presentes nas granjas e que geram impacto negativo recorrente sobre os indicadores econômicos quando não são claramente percebidos ou devidamente solucionados. Surgem como efeito de inúmeras causas atuando em conjunto, não nos permitindo facilmente compreender onde começam e onde terminam.

Ao contrário dos problemas técnicos, cuja solução se obtêm com o conhecimento já existente, os desafios adaptativos são de origem comportamental e requerem mudança de mentalidade e de hábitos por parte de quem executa os trabalhos de rotina.

Se consideramos o desempenho de uma granja como fruto da relação entre Processos e Pessoas - alto desempenho sendo a soma de processos eficazes e pessoas comprometidas -, é fácil compreender que o seu resultado necessita de três elementos básicos: conhecimento, habilidade e atitude, que são atributos inteiramente dependentes das pessoas.

Quando o trabalho é coletivo e cada um dos indivíduos têm pleno conhecimento do processo , possuem as habilidades necessárias para executá-lo e acreditam valer a pena fazê-lo (atitude), o resultado positivo é garantido.

Acontece que o sucesso não se consegue imediatamente após a aquisição do conhecimento. Se assim fosse, qualquer funcionário novo já teria sucesso desde o seu primeiro treinamento.

O processo é complicado porque estamos trabalhando com pessoas, que são responsáveis por colocar em prática esse conhecimento e entregar resultados. E pessoas não são máquinas, que podem ser programadas para agirem da forma como queremos. Pessoas diferentes percebem o trabalho de forma distinta, são motivadas conforme as suas experiências individuais e são impactadas pela cultura e pela qualidade das relações pessoais no ambiente de trabalho.

Assim, entender alguns conceitos básicos sobre as pessoas abre portas à capacidade do líder em perceber qual tipo de adaptação comportamental é necessária para se trazer à tona problemas relevantes, até então invisíveis.

Vejamos alguns conceitos importantes sobre a natureza humana que podem servir de parâmetro para que o líder identifique se ele está diante de um desafio adaptativo:

Toda pessoa quer saber se está se saindo bem

Se o líder não tem o hábito de falar às pessoas sobre o trabalho que elas realizam, elas podem ter a sensação de não estarem contribuindo e de não serem reconhecidas pelo que fazem. Porém, é da natureza humana a necessidade de saber se o seu trabalho está atendendo às expectativas para a sua função.

Por exemplo, quando se delega a um colaborador de maternidade a responsabilidade pelo controle de um desafio entérico pontual dos leitões, é importante que ao final do próximo desmame o líder o apresente aos resultados dos seus esforços. Ele precisa entender se as suas ações contribuíram para solucionar o problema. Esse tipo de retorno reforça nas pessoas o desejo de continuar colaborando. Imaginemos o comportamento de uma equipe inteira percebendo essa mudança de abordagem por parte do seu líder! Pode ser a solução adaptativa para inúmeros problemas técnicos neste setor, onde normalmente há maior concentração de pessoas trabalhando juntas.

Acervo pessoal - Leandro Trindade.
Acervo pessoal - Leandro Trindade.

Conversar com as pessoas sobre o trabalho que elas realizam é uma solução adaptativa para inúmeros problemas que surgem pela falta de um espaço em que elas possam expor suas dificuldades e necessidades de melhoria.

Todo mundo inicia o seu primeiro dia de trabalho comprometido

Não faz sentido a ideia de se procurar por pessoas comprometidas no mercado. Quando buscam um emprego, é porque precisam e querem dar o seu melhor. Acontece que as suas experiências passadas, somadas aos seus valores pessoais e à forma como são recebidas e conduzidas em seu novo trabalho é o que determina o seu nível de comprometimento.

Quando o líder faz a sua parte, orientando adequadamente o novo funcionário sobre as regras da granja, sua função e seu papel, assegurando-lhe uma boa integração à equipe, as chances de demissão se reduzem significativamente. A questão é: quanto tempo estamos dedicando a essa tarefa tão importante?

Esse é mais um desafio adaptativo, que requer mudança de comportamento do líder. Muitas vezes isso explica a alta rotatividade persistente em muitas granjas. Cria-se uma alta expectativa sobre os recém-contratados, mas não lhes oferecem as condições básicas necessárias para que permaneçam no emprego.

Conflitos recorrentes são o principal obstáculo para o sucesso da granja

Um dos problemas de desempenho mais difíceis de lidar são os conflitos entre funcionários, cujas causas são bem diversas. Às vezes, as pessoas simplesmente não se gostam. Outras vezes, as queixas são reais, tanto pessoais como profissionais.

Se o líder está tendo que mediar cada discussão e isso tem sido frequente, a produtividade da granja pode estar pagando um alto preço pelos entraves que isso acarreta. Como solução adaptativa, ele precisa entender o que está levando as pessoas a desviarem o foco de suas tarefas. Talvez o gestor precise estar mais próximo da equipe, a par de todos os detalhes, para que possa distinguir quando o conflito faz sentido em relação a cada pessoa envolvida. Assim, estará numa posição mais vantajosa para avaliar e tomar decisões adequadas.

Os conceitos e exemplos citados reforçam a estatística que apresentamos no artigo anterior, de que os comportamentos determinam o desempenho. Entretanto, gerentes e coordenadores costumam aprimorar suas capacidades técnicas, mas não se empenham para se tornarem profissionais em lidar com o comportamento de pessoas e equipes, profissionais de liderança.

Passam a vida buscando ser eficientes, querendo fazer tudo bem-feito, mas não são eficazes, pois acabam buscando soluções pelo caminho errado. De que adianta fazer bem-feito a coisa errada? De que adianta aplicar uma solução técnica quando o problema é comportamental?

As granjas precisam de líderes, com urgência. Mas não me refiro a pessoas em posição de comando, e sim àquelas que influenciam outras a fazerem o que precisa ser feito, voluntariamente. Líderes com capacidade adaptativa para criar um ambiente de trabalho amigável e produtivo, onde as pessoas conversam sobre o que importa, cooperam e trabalham conscientemente como se fossem donas do negócio.

Para finalizar, deixo aqui um convite: de agora em diante, que tal formarmos as pessoas não apenas nos aspectos técnicos da suinocultura, mas também capacitá-las na arte de lidar com pessoas? Que tal incluir na agenda de atividades da granja ações de treinamento e desenvolvimento comportamental?

Quem sabe assim, poderemos contar com profissionais de suinocultura mais completos, que entendem muito bem de processos e de pessoas? E, desta forma, tornar visíveis e solucionar os maiores problemas do dia a dia da granja?

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