Coceiras
Utilizando tecnologia de tomografia computadorizada (CT) para reduzir a claudicação. M. Ptaschinski
A tomografia computadorizada (CT) utiliza raios X para criar imagens em seções do corpo, combinando múltiplas imagens obtidas de vários ângulos e processadas por computador. Para sua realização, é necessário sedar o animal, sendo muito importante a posição em decúbito esternal. Os ensaios começaram na Topigs em 2008, na Noruega e no Canadá, estudando 8.500 reprodutores ao ano sobre um total de 50.000 animais, com cerca de 1.200 imagens por animal. Todos os dados foram armazenados e usados retrospectivamente.

Avaliam-se aspectos estruturais e a qualidade da carcaça (tamanho e conteúdo de músculo e gordura, tamanho de órgãos, capacidade e forma). Em trabalhos de 2019, 29% das causas de morte em matrizes foram por distúrbios locomotores, 39% eram desconhecidas e 15% por prolapsos de órgãos pélvicos. Problemas nos membros são a principal causa de descarte tanto em matrizes quanto em reprodutores.
A conformação e a longevidade têm baixa herdabilidade e são influenciadas por vários fatores, sendo prevalente a osteocondrose derivada de alterações no crescimento ósseo, causadas por falhas na vascularização na zona de crescimento das cartilagens (formação de cavidades, fragmentos soltos e cistos ósseos). Nos processos de ossificação por segunda intenção das cartilagens, podem ocorrer algumas dessas alterações, visíveis em animais necropsiados e analisadas por CT com uso de aprendizado de máquina (machine learning), baseado na localização da superfície e ângulos das cartilagens, para gerar imagens precisas que ajudem a identificar tais alterações — especialmente nas articulações dos membros posteriores, inclusive na medula espinhal.
Questiona-se se a osteocondrose é herdável, observando diferenças entre os membros: úmero medial esquerdo: h² = 0,17; úmero medial direito: r² = 0,21. Em diferentes estudos, estima-se que a osteocondrose tem herdabilidade de 31%, a longevidade ao 2º parto de 8% e ao 5º parto de 13%, sendo observada uma correlação favorável entre osteocondrose e longevidade. Por isso, passaram a incluir a osteocondrose nos valores genéticos preditivos para seleção de reposição nas granjas multiplicadoras nos EUA, eliminando matrizes com problemas locomotores e obtendo progresso na redução de osteocondrose (OC) e problemas de locomoção. Em leitoas de reposição, encontra-se correlação entre o valor preditivo de seleção para OC e o ganho médio diário.
Experiências práticas com claudicação em matrizes. C. Sievers – Swine Vet Center
A incidência de problemas locomotores varia muito entre granjas, sendo maior nas de maior porte e após a implantação de matrizes em grupos. Durante a gestação, reporta-se descarte de 15–20% das matrizes devido a problemas locomotores. Sua abordagem é multidisciplinar: equipe de produção, equipe da granja, nutricionista, patologista e ações veterinárias. O primeiro passo é compreender as causas e realizar um diagnóstico correto. O enfoque clínico considera se o quadro é agudo ou crônico, as possíveis lesões, infecções, localização das lesões, padrão das claudicações e quaisquer causas observáveis. Esses elementos formam a base da observação clínica e permitem compilar informações precisas para um plano de ação.
Em condições normais, não há um único padrão, e as melhores medidas são preventivas, focadas no tamanho dos grupos, espaço por matriz, manter grupos estáticos, momento de movimentação das fêmeas, atenção especial às fêmeas em cio, renovação de fêmeas agressivas/dominantes, e isolamento de fêmeas com claudicação.
As matrizes afetadas devem ser tratadas individualmente com antibióticos sensíveis, antissépticos e anti-inflamatórios. Lesões nas unhas acessórias estão frequentemente ligadas a pisos quebrados, alta umidade e sujeira ambiental (em destaque), falhas na seleção de leitoas de reposição. Se houver suspeita de processos infecciosos, o diagnóstico deve ser feito tanto em nível individual quanto de lote.
Problemas nutricionais são difíceis de diagnosticar — é necessário analisar ração, ossos, urina, fígado e soro (para avaliar ossificação, cálcio, fósforo, vitamina D). Necropsias geralmente não trazem dados conclusivos, sendo as costelas um dos principais locais a serem observados. Matrizes com escore corporal excessivo são mais propensas a desenvolver distúrbios locomotores.
Investir tempo suficiente para selecionar corretamente as futuras reprodutoras é crítico para reduzir a incidência de claudicação, especialmente quando há alto descarte em nulíparas e primíparas. O uso de câmeras e inteligência artificial no futuro ajudará nesse ponto. A prevenção é a chave, com foco na seleção de fêmeas, estrutura de grupos de gestação e qualidade dos pisos.
Perspectiva nutricional sobre claudicação suína. J. Gebhardt – Kansas State University
Os problemas locomotores têm consequências e implicações legais elevadas, sendo precisa sua classificação e diagnóstico certero. Desde o ponto de vista nutricional, devemos analisar os problemas derivados de patologias metabólicas, excessos ou deficiências de nutrientes e a osteocondrose. O esqueleto (ossos) é o principal reservatório de cálcio (96–99%) e fósforo (60–85% do total corporal). O cálcio é um íon livre que se liga a proteínas e outros complexos. O fósforo está nos fosfolipídios das membranas celulares. O osso está em constante ciclo de remodelação pelos osteoclastos (destruição de tecido ósseo) e osteoblastos (síntese).
A raquetisiose é uma deficiência metabólica durante o crescimento em que ocorre uma falha na deposição mineral, particularmente nas placas de crescimento. Na mineralização óssea, o cálcio, o fósforo e as fitases são essenciais. O excesso de cálcio é problemático em dietas com fósforo em níveis marginais, sendo uma relação aceitável Ca/P de 1,05–1,30/1. Quanto aos níveis de fósforo, conhecemos bem os requerimentos em leitões e suínos de engorda, mas devemos aprender mais em matrizes gestantes e lactantes. A fitase aumenta a digestibilidade do cálcio, fósforo, outros minerais e alguns aminoácidos. As diferentes fitases têm diferentes graus de crédito no aproveitamento do fósforo, baseando-se na sua melhora da digestibilidade do fósforo, e seu uso incorreto pode ser problemático. Devemos conhecer se o substrato que temos na ração é o requerido para a atividade enzimática, a estabilidade da enzima nos processos de peletização e armazenamento, a concentração de diferentes produtos enzimáticos por grama de produto, a eficácia em diferentes doses quando misturadas com outras enzimas e ter expectativas realistas, pois podem causar problemas de mineralização se seu uso for impróprio.
Os níveis séricos de vitamina D3 (OH) 25 em suínos de diferentes sistemas de produção são muito variáveis (média de 25 ng/mL (10–50)), observando que os suínos saudáveis têm níveis mais altos que os suínos com problemas locomotores e que os suínos atrasados – "caudas" – (25 – 21 e 15,5 ng/mL, respectivamente). Há uma relação entre níveis de vitamina D3 e mineralização óssea (analisada na segunda costela – cinzas). Analisam o conteúdo de cinzas em ossos inteiros e desengordurados, obtendo melhores correlações de mineralização nos segundos (Williams, 2023). Os níveis adequados de cálcio e fósforo vêm sendo estudados desde R. Puls em 1994, que referia que o conteúdo em cinzas de costelas (2ª a 10ª), livres de gordura, estava entre 58–62%, obtendo-se valores atuais que vão de 48–61%.

Quanto à osteocondrose, a alimentação ad libitum após 10 semanas de vida tem uma elevada correlação, de 20% para cada 100 gramas a mais de crescimento. O uso de minerais orgânicos (Zn, Cu e Mn) demonstrou efeitos positivos na mineralização e níveis de osteocondrose no úmero e fêmur, tanto em suínos de engorda como em reprodutores. Os níveis recomendados de biotina são variáveis e com resultados inconsistentes na literatura. A inclusão de níveis de 20% de fibra detergente neutro é o mais utilizado na prática para a saciedade das matrizes em gestação, relacionando trabalhos com 30–40% com efeitos positivos sobre a saciedade das matrizes a nível experimental, que não são factíveis de aplicar na prática.
Mycoplasma hyosynoviae: o que sabemos (e principalmente o que não sabemos). M. Pieters – University of Minnesota
Os problemas locomotores são complexos e têm múltiplas origens, tanto não infecciosas (trauma, condições sanitárias, genética e nutrição) quanto infecciosas (Erysipelas rhusiopathiae, Streptococcus suis, Glaesserella parasuis, Mycoplasma hyopneumoniae, Mycoplasma hyorhinis). A artrite por micoplasma é factível, e temos escassa informação a respeito.
Mycoplasma hyosynoviae é um dos micoplasmas patógenos, havendo dúvidas se é um Mycoplasma ou Metamycoplasma (ambos os nomes são corretos). A bactéria foi identificada há 50 anos e atualmente há um aumento nos relatórios sobre sua detecção e relação com quadros clínicos, associadas ao seu isolamento. As dúvidas surgem ao se perguntar se é um agente comensal (prevalente em muitas granjas, detectado em tonsilas e cavidade nasal, coloniza suínos durante o desmame e engorda) ou responsável por patologias. A colonização depende da idade e os fatores predisponentes para sua disseminação são desconhecidos, concentrando-se entre 12 e 24 semanas de vida, similar ao Mycoplasma hyorhinis, que também se identifica entre 1 e 8 semanas de vida.
Em quadros clínicos, o Mycoplasma hyosynoviae provoca problemas locomotores agudos entre 3 e 5 meses de vida, afetando uma ou mais articulações, reduzindo o movimento, o consumo e o crescimento, e apresentando a postura de “cachorro sentado” provocada pela dor. Os sinais clínicos persistem de 3 a 10 dias, com baixa transmissão entre matrizes e leitões, assim como entre leitões desmamados, sendo encontrados muitos suínos ao abate que estão colonizados.
A detecção por PCR em suabes tonsilares e fluidos orais é utilizada para determinar sua presença e colonização. A correlação entre incidência de problemas locomotores e detecção mostra pouca relação em vários estudos. A colonização por Mycoplasma hyosynoviae e Mycoplasma hyorhinis em matrizes ao mesmo tempo não apresenta correlação.
O isolamento por cultivo é lento e específico de certos laboratórios, não sendo viável detectar anticorpos por ELISA, já que essa técnica normalmente não está disponível. A detecção de material genético por PCR oferece resultados rápidos e eficazes, sendo muito importante o tipo de amostra (fluidos orais). A sequenciação foi realizada recentemente (Bunger, 2024).
Para o controle, o foco está no desenvolvimento da imunidade, não havendo vacinas comerciais, mas sim vacinas autógenas, além do tratamento com antibióticos, sendo crítico o tratamento precoce e o conhecimento da dose mínima inibitória adequada. Existem dúvidas sobre a imunidade materna, a exposição precoce e a possibilidade de erradicação. No caso da vacinação, será necessário definir o momento ideal de aplicação para uma proteção correta (na lactação ou desmame, com uma ou duas doses, segundo um trabalho em desenvolvimento).
A diversidade da microbiota e sua composição desempenham um papel importante na regulação, controle e potencial eliminação de certas patologias tanto em humanos quanto em suínos, sendo estudado o microbioma de suínos com problemas locomotores e suínos saudáveis, observando-se maior abundância de Erysipelothrix e Pasteurellaceae do que de Firmicutes e Arcanobacterias, com variação considerável. Conclui-se que é importante realizar mais trabalhos de pesquisa e desenvolver um modelo animal adequado para avançar na etiologia das artrites infecciosas em suínos. A nível epidemiológico, a transmissão dos diferentes micoplasmas apresenta variações importantes.
Claudicação suína no laboratório de diagnóstico. R. Derscheid. ISU
A interação/comunicação entre o veterinário das granjas e os técnicos do laboratório para centrar o diagnóstico é crítica. O primeiro passo é definir o problema: idade, morbidade, mortalidade, duração, apresentação clínica, mudanças nas rações, distribuição nos lotes de produção e resposta aos tratamentos. Em análises de seu laboratório entre 2017–2024 sobre claudicações, estudos recentes determinam que 44% se devem a artrites bacterianas (Streptococcus suis 35%, Mycoplasma hyorhinis 21%, Glaesserella parasuis 13%, Erisipela 8%), 36% são inespecíficas, 15% virais e <3% nutricionais.
O tipo de amostra a ser coletada e enviada ao laboratório é crítico para um diagnóstico preciso, devendo ser acordado com o laboratório antes do envio. O cultivo de bactérias em outros órgãos não significa que seja a causadora da artrite ou sinovite. O baço não é um órgão para o diagnóstico. Não devem ser descartadas lesões provocadas por injeções. O estudo de lesões histológicas é necessário em Rickettsias, Mycoplasma hyosynoviae, miosite e processos virais (mielite, encefalomielite – Sapelovirus, Teschovirus e Astrovirus).
Patologia macroscópica e histopatologia em suínos mancos. M. Pierdon. Pennsylvania University
Os problemas locomotores representam alterações no bem-estar dos suínos tanto do ponto de vista fisiológico (redução no consumo de água e ração), sentimento (dor e sofrimento) quanto comportamental (mais tempo deitados e redução do tempo de sono).
A nível macroscópico analisam-se problemas sépticos, lesões articulares e degenerativas. A Trueperella pyogenes e Fusobacterium necrophorum são encontradas em uma porcentagem importante dos processos sépticos. Nas celulites sépticas e tenossinovites dos ligamentos flexores não estão implicadas as próprias articulações (é necessário definir se as lesões são intra ou extra-articulares). Nas artrites sépticas é interessante avaliar se a cartilagem está danificada. Nas lesões da cabeça do fêmur deve-se identificar se há ou não epifisiólise. Os estudos atuais de microbioma articular em matrizes trazem novas informações sobre novos agentes oportunistas. A prevalência de problemas locomotores em suínos de engorda é muito variável e são difíceis de diagnosticar em laboratório.
Para os produtores, os problemas locomotores têm implicações sobre o bem-estar dos animais e sobre seu impacto econômico derivados de maiores taxas de reposição, mortalidades em diferentes fases de produção e redução de parâmetros produtivos, além dos custos com medicação..
Reprodução
Rastreabilidade do sêmen: onde estamos? D. Growth. Carthage Veterinary Service
O impacto financeiro das doenças transfronteiriças na indústria suinícola é crítico para o negócio dos produtores e do setor. A rastreabilidade é fundamental para sua contenção e para a continuidade do negócio. O US-SHIP estabeleceu um plano nacional de técnicas padronizadas e certificações de todos os estados participantes para a prevenção de doenças, a fim de demonstrar estarem livres das mesmas para o comércio e transporte de sêmen. Utilizam duas bases de dados nacionais em formato de aplicativo: AgView e Rapid Access Biosecurity (RAB). Assim, os centros de inseminação dispõem de informações rápidas e precisas.
Dólares e “bom senso” centrais de reprodutores suínos de competição. D. Hendrickson. Michigan Office
As granjas de multiplicação-seleção vendem suas matrizes para as granjas de produção e os cachaços para os centros de inseminação. O fornecimento de sêmen para as granjas é um ponto crítico em termos sanitários, sendo necessário analisar os machos, apesar de isso não estar formalmente regulamentado. Nos cachaços elite de centros de bisavôs/avôs, as doses de sêmen custam de 50 a 1.000 dólares por dose, sendo que o preço desses verracos varia de 50.000 a 300.000 dólares. O custo das doses varia sazonalmente, sendo comum misturar doses de sêmen de cachaços comerciais e utilizar monodoses nos elite. Os machos são utilizados em média duas vezes por semana, com doses de 3 a 3,5 milhões de espermatozoides por dose.
A longevidade dos machos é um parâmetro de custo, assim como sua saúde, sendo analisado principalmente PRRSv por ELISA e PCR. Não utilizam vacinas vivas modificadas contra PRRSv devido ao risco de excreção do vírus no sêmen, aplicando principalmente vacinas contra Parvovírus, Erisipela e Leptospiras uma ou duas vezes ao ano. Embora os centros sejam negativos para sarna, desverminam os cachaços com ivermectina duas vezes ao ano.
Reprotoxinas e espermatotoxinas de importância clínica em centrais de cachaços. GC. Althouse. University of Pennsylvania
A produção suína começa pela reprodução. A maioria das granjas utiliza inseminação artificial, assim como tecnologia de reprodução assistida. Os machos são alojados individualmente e é coletado o sêmen fresco, que é analisado e processado em suas respectivas doses seminais, as quais são armazenadas e transportadas em temperaturas adequadas e controladas até as granjas de matrizes, onde permanecem entre 16–18 °C até sua aplicação por inseminação tradicional ou pós-cervical pelo pessoal treinado para tal fim.
Diante de problemas de baixa fertilidade nas fêmeas, um dos pontos a ser examinado é a qualidade do sêmen, já que qualquer contaminação penaliza os resultados. Os contaminantes biológicos são uma categoria entre microrganismos e metabólitos secundários, enquanto os contaminantes químicos incluem resíduos, consumíveis (luvas, plásticos), impurezas da água e pesticidas (biocidas, fungicidas, herbicidas, inseticidas).
A contaminação por luz ultravioleta é um fenômeno físico em que a radiação eletromagnética (espectro de 10–40 nm) pode causar tanto danos biológicos ao DNA como químicos por radicais hidroxila. Por isso, o uso de luz ultravioleta como germicida nas centrais de inseminação deve ser considerado para que seja eficaz, tanto na intensidade quanto no tempo de exposição ao sêmen e às doses seminais. Os microrganismos são os primeiros contaminantes biológicos, e incluem bactérias e fungos, que são responsáveis pela produção de metabólitos secundários (endotoxinas, exotoxinas, micotoxinas) com efeitos reprotoxicológicos e espermatotóxicos por mecanismos diretos e indiretos, dependentes da dose. Muitos deles podem estar no ejaculado, prepúcio, pele, pelos, fezes, secreções respiratórias e no pessoal, além da ração, cama, equipamentos, sistemas de ventilação e água, tanto potável quanto purificada (metais pesados, impurezas iônicas).
O uso responsável de antimicrobianos no diluente do sêmen tem sido uma prática comum nas últimas décadas. Outros metabólitos secundários como endotoxinas (lipopolissacarídeos, peptidoglicanos), exotoxinas (polipeptídeos e fatores de virulência) e micotoxinas (aflatoxinas, tricotecenos, ergotamina, fumonisinas, ocratoxinas e zearalenona) demonstraram ser prejudiciais à qualidade seminal. Devemos ser proativos na implementação de controles e medidas preventivas contra todas essas possíveis fontes de contaminação seminal.
Bem-estar e manejo
Questões atuais e direcionamento futuro do bem-estar dos suínos nos Estados Unidos. M. Pairis-García – North Carolina State University
Diferente da normativa europeia, a regulamentação americana sobre bem-estar animal é guiada principalmente pelos consumidores, que exigem transparência sobre como os alimentos são produzidos. Os consumidores pressionam mais os varejistas sobre a origem dos produtos desde a granja, com expectativas em relação aos padrões de bem-estar. Como médicos veterinários atuantes na suinocultura, temos obrigações éticas de salvaguardar o bem-estar dos suínos e desempenhar um papel crítico e representativo na indústria. Como profissão, devemos implementar práticas de manejo que garantam bem-estar nas granjas e buscar continuamente melhorias com base no conhecimento científico e tecnológico.
Desde o início dos anos 2000, a indústria suinícola americana tem feito grande esforço para melhorar o bem-estar nas granjas. O National Pork Board criou um comitê e contratou um diretor de programa em tempo integral em 2002, desenvolvendo o primeiro plano específico em 2003, conhecido como Swine Welfare Assurance Program (SWAP), posteriormente fortalecido pelo PQA Plus, atualmente em sua versão 5.0.
Em 2016, foi desenvolvido o plano de auditoria da indústria suinícola (CSIA) para verificação nas granjas de produção e frigoríficos, utilizado em todos os estados e continuamente revisado com base em critérios científicos.
O manejo humanitário dos suínos é identificado como pilar essencial para garantir o bem-estar em todas as fases de produção, impactando diretamente na relação humano-animal e na qualidade da carne e da carcaça. Houve avanços significativos nas práticas de eutanásia e controle da dor, com destaque para os problemas locomotores das matrizes e a taxa atual de mortalidade de 13,6% (25-30% por claudicações).
Comunicação eficaz e defesa do bem-estar dos suínos junto ao público, setores externos e autoridades legais. C. Cunningham – Woodruff
Pesquisas realizadas por uma organização independente (NSF), associada à OMSA, em 2024, mostraram que 67% dos consumidores norte-americanos consideram o bem-estar animal extremamente importante para suas decisões de compra, e 68% dizem que é extremamente importante que as empresas demonstrem consistência e cumprimento dos padrões de bem-estar em toda a sua cadeia de fornecimento.
Sabemos que quando as pessoas não têm acesso a informações confiáveis, formam suas próprias conclusões. Quando não compreendem ou não confiam na pesquisa, tornam-se defensivas e rejeitam as informações apresentadas. Devemos lembrar que os apelos emocionais frequentemente se sobressaem à solidez da ciência.
Para combater a demonização da indústria por ativistas com ou sem agendas ocultas, nosso papel é empregar empatia aliada à ciência, argumentar com calma e gentileza em situações de pressão, criar uma mensagem estratégica, curta e objetiva, focando no que queremos transmitir enquanto consideramos o que o público deseja ouvir e entender, reconhecendo que há grande diversidade de conhecimento sobre produção suína e definições de bem-estar.
Comunicação eficaz e defesa do bem-estar dos suínos nas granjas .M. Battrell – Smithfield Hog Production
Em 2001, obtiveram a certificação ISO 14001 para o sistema de gestão ambiental. Nas suas diretrizes, o cuidado e bem-estar dos suínos é prioridade. Criaram um comitê específico para cuidado animal e contrataram dois especialistas (Stan Curtis e Temple Grandin) para identificar riscos, minimizá-los e desenvolver oportunidades de melhoria mensuráveis, criando um manual de produção com áreas de oportunidade e procedimentos padrão, além de treinar os funcionários por meio de cursos de orientação.
Realizam auditorias anuais por especialistas externos para avaliar os cuidados com os animais. Os gestores das granjas renovam as certificações PQA Plus a cada três anos e mensalmente apresentam um plano de cuidados aos funcionários, com base em 10 slides, em inglês e espanhol. As auditorias internas continuam sendo realizadas, embora em 2023 tenha sido decidido que poderiam ocorrer com menor frequência.
Avaliação e tratamento das preocupações com o bem-estar dos suínos sob uma lente objetiva. M. Strickland – Smithfield Hog Production
A Smithfield Foods possui um programa robusto de cuidado animal, incluindo pesquisas sobre bem-estar exigidas pela própria empresa. Elas são conduzidas por especialistas internos, como diretores de produção e veterinários, com apoio de consultores externos especializados em bem-estar de suínos. A comunicação totalmente transparente é essencial em todos os níveis da organização entre o pessoal de manejo.
Luzes, câmera, ação! Bem-estar dos suínos sob o microscópio. Um cenário facilitado e interativo de bem-estar dos suínos. M. Pairis-García. North Carolina State University
As novas políticas de bem-estar animal nos levam a definir protocolos precisos de atuação frente aos desafios da castração em machos, sendo a cirúrgica a mais comum nos EUA. Eles são castrados para reduzir o odor sexual e as agressões. Fisiologicamente, a castração provoca elevação nos níveis de cortisol, ACTH, glicose, creatina quinase e lactato em condições práticas, o que indica resposta ao estresse e sensibilidade à dor. Ao mesmo tempo, provoca aumento na pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória, com mudanças comportamentais como vocalização, tremores e coceira na região dorsal.
Para aliviar a dor, utiliza-se cloridrato de lidocaína, que gera efeito 10 minutos após a injeção, com duração de até 1 hora. Outros produtos são usados como analgésicos, como os anti-inflamatórios não esteroidais, sendo o flunixin meglumine um dos mais comuns, atuando também como antipirético. Outros produtos aprovados são o meloxicam e o cetoprofeno.
Uma alternativa à castração cirúrgica é a imunocastração com antiGnRH, que leva à redução dos hormônios LH e FSH, com aplicação dupla: uma de 8 a 11 semanas antes do abate e a segunda 4 semanas antes. É necessária a implementação das melhores práticas de manejo para sua aplicação.
Reduzindo a mortalidade de matrizes: um prolapso de órgão pélvico (POP) por vez. L. Glowzenski
Os prolapsos pélvicos em matrizes podem ser de bexiga urinária, retais, uterinos e vaginais. As causas de mortalidade de matrizes por prolapsos nos EUA são 21% de todas as baixas, 39% desconhecidas, 29% por problemas locomotores. Estima-se que recuperar essas matrizes reduzirá a mortalidade, aumentará a sobrevivência dos leitões lactentes e a rentabilidade das matrizes, além de reduzir o trabalho com a remoção dos cadáveres, melhorar a biosseguridade e a moral dos trabalhadores.
O objetivo é desenvolver um protocolo para reparar os prolapsos de órgãos pélvicos das matrizes de forma simples e segura, considerando seu custo-benefício. Os prolapsos também ocorrem em outras espécies como vacas, ovelhas e cabras (comuns em pequenos ruminantes). Devido ao comprimento dos cornos uterinos, a ruptura das artérias uterinas representa alto risco de morte. Prolapsos vaginais podem ser reparados pelos trabalhadores resolvendo a inflamação, reposicionando a vagina no canal pélvico e tratando o edema em poucos dias, e as matrizes geralmente sobrevivem.
Utiliza-se lidocaína intramuscular a 2% nas laterais da vagina e agulhas curvas com sutura para ligar, junto a um hemostático. Os prolapsos retais são tratados com ressecção parcial, inserção de um tubo plástico interno ligado e ajustado com um calibrador Smart blander, que coloca um anel de borracha para necrosar a parte prolapsada, que normalmente cai sozinha em 5-7 dias (como os anéis usados em caudectomia), permitindo que a matriz vá para o abate.
Aproveitando o BLAST com sequências do PRRSV: como comparar duas sequências de forma rápida e fácil. N. Benjamin
Usam as sequências de nucleotídeos ou proteínas com a técnica BLAST para comparar diferentes cepas virais de forma rápida e simples, determinando o percentual de alinhamento. A Iowa State University possui um banco de dados considerável de cepas sequenciadas com árvores filogenéticas. O NGPhylogeny.fr é outro programa usado para analisar a filogenia e as semelhanças entre cepas. Recomenda-se garantir que a cópia sequenciada do PRRSV esteja correta. É necessário lembrar que o PRRSV se recombina e pode coexistir simultaneamente na mesma granja (ORF5 – 1% por ano). Outras opções de dendrogramas incluem o Bioportal da Universidade de Minnesota (Morrison Swine Health Monitoring Project desde 2011), IQ-TREE, MEGA-X e Jalview.
Avaliações clínicas e manejo da disenteria suína e outras doenças entéricas em terminação. M. Hammer
Os problemas entéricos que causam diarreia mucosa hemorrágica incluem Brachyspira hyodysenteriae, hampsoni, pilosicoli, Lawsonia intracellularis e Salmonella spp., com coinfecções sendo comuns. É necessário analisar a clínica, a recorrência, fazer um diagnóstico completo e avaliar os impactos em parâmetros produtivos e aumento de custos. Se a infecção por Brachyspira for grave, trata-se; se for leve, busca-se a erradicação, dependendo do impacto econômico, número de granjas afetadas e risco de disseminação na pirâmide produtiva.
A estimativa de perda econômica é de US$ 9,52 por suíno (US$ 5,29 por pior conversão alimentar, US$ 2,91 por mortalidade – 3%, e US$ 0,74 por menor crescimento). Classifica-se a gravidade em três graus: G1 – diarreia pastosa; G2 – diarreia aquosa com muco; G3 – diarreia aquosa com muco e sangue. A recomendação é tratar com tiamulina (Denagard 10 a 35 g/tonelada = 200 g/t para eliminação) uma semana antes dos sinais clínicos e seguir até uma semana antes do abate. Para controle, aplicam dois tratamentos de três semanas com seis semanas de intervalo e mais quatro semanas de tratamento.
Ele disse, ela disse: usando a imunologia para descobrir a verdade. V. Novak
Realizaram um ensaio em uma granja, acompanhando por ELISA os títulos de anticorpos de leitões vacinados ao desmame contra circovírus/micoplasma. Três e seis semanas após o desmame, os leitões não apresentaram anticorpos — e a surpresa foi que, de fato, não haviam sido vacinados. A conclusão é que não se deve assumir que os procedimentos foram realizados. É essencial comunicação aberta e transparente, mantendo o fluxo de informações entre a equipe da granja e os técnicos, além de conhecimento preciso sobre as vacinas. Erros em protocolos vacinais são comuns.
Além do POP: novas perspectivas sobre bem-estar animal. B. Kitting
A Seaboard Marine, do grupo Seaboard Foods, exige estratégias empresariais precisas e meticulosas voltadas às mudanças de mercado, exigências de clientes, biosseguridade, sanidade, novas regulações sobre antibióticos e bem-estar, crises econômicas e diferentes abordagens de futuro. Cada navio tem seu capitão e seu trabalho é influenciado pela equipe. O capitão deve estar presente diariamente – o “efeito espelho” – o poder do exemplo.
Nutrição, ambiente, saúde e comportamento formam a base do bem-estar dos suínos. Na Seaboard Foods, o bem-estar dos animais é uma prioridade nas decisões, baseadas em experiência e ciência. Eles conscientizam todos os colaboradores, explicando e solucionando dúvidas. Premiam a excelência em bem-estar (top 10 por fase) para quem cumpre 90% ou mais dos objetivos, enquanto os que não alcançam recebem planos de melhoria.
"O efeito espelho ressalta um princípio que os líderes nunca devem esquecer: o poder do exemplo. Você pode falar o quanto quiser sobre comportamentos e expectativas para sua organização, mas, no fim das contas, a vida que você modela será a aula que realmente será assimilada."
Tim Elmore (Habitudes, The Mirror Effect)
Pôsteres:
- Em vários estudos, administrar AINEs (anti-inflamatórios não esteroides) às matrizes no momento do parto favorece o consumo de colostro pelos leitões, melhorando sua sobrevivência e peso ao desmame.
- Vários trabalhos referem o tamanho amostral necessário de fluidos orais para que o diagnóstico seja significativo em diferentes patologias, razão pela qual devemos considerá-lo junto ao número de animais, tamanhos de lotes, tempo de permanência das matrizes e prevalência esperada.
- Um pH da água de bebida abaixo de 4 impede a proliferação de Escherichia coli, sendo necessário realizar estudos para verificar como isso pode afetar o consumo, tanto de água quanto de ração.
- Em um estudo realizado na Espanha, foi avaliada a ingestão de colostro pelos leitões recém-nascidos sobre um total de 4.104 leitões de 114 granjas, analisando-se os níveis de IgG no soro por reflectometria entre 24 e 36 horas de vida. A concentração média de IgG foi de 27,12 mg/ml com um coeficiente de variação de 40,69% e 27,13% dos leitões apresentaram níveis inferiores a 20 mg/ml. Os níveis foram maiores quanto mais pesados eram os leitões; entre os leitões com menos de 1 kg, 45,7% apresentaram níveis abaixo de 20 mg/ml e uma média de 22,88. Em relação ao número de partos das matrizes, os leitões das fêmeas de primeiro parto tiveram níveis mais baixos, subindo nos de segundo a quarto parto e diminuindo gradualmente a partir do quinto parto.
Antonio Palomo Yagüe