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Saúde intestinal: reduzir bactérias patogênicas

Algumas estratégias nutricionais podem exercer atividade antibacteriana. Quer saber quais?

A redução da carga de bactérias patogênicas é um objetivo que, para ser eficaz, deve ser abordado mediante diferentes estratégias, como o uso de fármacos em determinadas ocasiões, uma limpeza e manejo adequados, e uma nutrição destinada a reduzir a sua presença e fortalecer a saúde intestinal.

Tabela 1. Ferramentas nutricionais para reduzir a carga de patógenos.

Redução níveis proteínas Prebióticos Dietas fermentadas
Facilitar trânsito digesta Ácidos inorgânicos e orgânicos Proteínas e peptídeos bioativos
Fibra fermentável Fitogênicos Dietas com baixa capacidade tampão
Probióticos Simbióticos Oligoelementos

Uma boa estratégia nutricional pode ser reduzir a fermentação proteica, já que a presença de proteína não digerida na digesta promove o crescimento de bactérias que a fermentam (como a E.coli sp., Proteus sp. e Clostridium sp.) e com isso aumentam a concentração, no cólon, de compostos potencialmente tóxicos para a mucosa intestinal como o NH3, as aminas biogênicas (histamina) e o sulfeto de hidrogênio. Para atingir este objetivo, sobretudo nas rações pós-desmame (devido à baixa capacidade de digestão dos animais nesta idade), podemos reduzir os níveis de proteína para facilitar a sua digestão e evitar a presença de proteína não digerida na digesta (suplementando se for necessário com aminoácidos sintéticos), ou fornecer hidratos de carbono fermentáveis (como a sêmea de trigo ou a polpa de beterraba) para reduzir a concentração na digesta de metabólitos derivados da fermentação proteica e aumentar a relação lactobacillus:enterobactérias (Pérez, 2013).

Outra estratégia seria facilitar o trânsito da digesta e a estabilização da microbiota intestinal através da administração de fibra insolúvel (Molist et al., 2012), como as cascas de cereais ou a incorporação de enzimas exógenas que diminuam a viscosidade da dieta, já que se considera que contribui para a presença de patógenos (Kiarie et al., 2013).

Ao nível dos aditivos, destacam-se os probióticos, que podem diminuir a presença de agentes patogênicos de forma direta através da exclusão competitiva (competem com o agente patogênico para se unirem no mesmo receptor do epitélio intestinal), agregando-se a agentes patogênicos através de receptores análogos aos do epitélio intestinal (impedindo a sua união ao epitélio) ou a produção de bacteriocinas com efeito antimicrobiano (Nig et al.2009). Por sua vez, também foram descritos mecanismos indiretos como o aumento da produção de ácidos orgânicos no intestino através da fermentação de hidratos de carbono da dieta, do aumento de uma microbiota favorável ou da potencialização da resposta imunitária do suíno (Oelschlaeger et al. 2010). Ainda assim, uma recente revisão do uso de probióticos em infecções experimentais com leitões pós-desmame, aponta que os seus efeitos são altamente influenciados pela estirpe e pelo contexto em que se utilizam (Barba–Vidal et al., 2018). Portanto, o uso destes aditivos tem que se planificar cuidadosamente para cada situação em concreto.

A determinados prebióticos são atribuídas as propriedades de aglutinarem-se a agentes patogênicos, de impedir a sua adesão no epitélio intestinal e de fomentar a sua eliminação (Spring et al., 2000). Por sua vez, podem contribuir para aumentar seletivamente a microbiota benéfica que exerce exclusão competitiva. Idealmente espera-se que uma estratégia prebiótica aumente as bactérias benéficas, como as bifidobactérias e os lactobacilos, diminuindo o número das putrefativas e patogênicas (como a Clostridia sp. e a E.coli sp.).

Por outro lado, diversos autores descreveram as atividades biológicas dos peptídeos bioativos. O glicomacropeptídeo, foi capaz de inibir a adesão da ETEC K88 na mucosa intestinal de animais desafiados (Hermes et al., 2013). Por outro lado, os anticorpos provenientes de galinhas poedeiras que foram sido vacinadas contra microrganismos patogênicos específicos, demonstraram ser úteis na prevenção de infecções por E.coli sp. em leitões ao desmame (Rizvi et al., 2001).

Também são largamente reconhecidas as propriedades antimicrobianas e antioxidantes dos produtos fitogênicos. Os extratos de planta como a berberina, um alcaloide presente em determinadas raízes, demonstrou ter um efeito bactericida e bacteriostático contra a E.coli sp., com efeitos equiparáveis à colistina (Tummaruk et al., 2009). Por outro lado, também se atribui efeito antimicrobiano aos óleos essenciais pelo seu conteúdo em princípios ativos como o carvacrol ou o timol, que têm a capacidade de danificar as membranas celulares e afetar a homeostase de bactérias pelo efeito dos elétrons deslocalizados e pela presença de um grupo hidróxilo no anel fenólico (Bassole e Juliani 2012). Este mecanismo apresenta uma boa sinergia com os ácidos orgânicos (Helvoirt e Dijk, 2009). Não obstante, o problema destes compostos é que se absorvem quase por completo nas primeiras partes do sistema digestivo (Michiels et al., 2008), por isso, é necessário protegê-los através de microencapsulação para que possam exercer o seu efeito antimicrobiano no intestino.

A utilidade antimicrobiana dos ácidos (orgânicos, de cadeia curta ou média, e inorgânicos) está ligada à capacidade acidificante, que impede a sobrevivência de certas bactérias patogênicas (Partanen e Mroz, 1999). Por sua vez, a forma não dissociada dos ácidos graxos de cadeia curta ou voláteis tem a capacidade de penetração dentro das bactérias patogênicas e, uma vez dentro, dissociar-se provocando um desequilíbrio celular e a lise bacteriana (Galfi e Bokori, 1990).

Para terminar, também se atribui capacidade antimicrobiana ao zinco em doses elevadas, com um amplo leque de aplicações não só na alimentação animal mas também em outras aplicações biológicas como a higiene e a desinfecção de superfícies ou a cosmética. Já se sabe que a incorporação de óxido de zinco em doses terapêuticas (>2500 ppm) já não é aceitável devido à problemática ambiental que implica. Não obstante, atualmente o mercado dispõe de produtos comerciais muito mais eficientes, como o ZnO microencapsulado que, com uma adição de 100 ppm, demonstrou uma eficácia similar à do ZnO convencional em doses de 3000 ppm contra a ETEC (Kim et al., 2010). Estes produtos estão ganhando muita popularidade no setor já que permitem um efeito similar ao do ZnO, ao que os produtores estavam acostumados, mas eliminam o problema ambiental.

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