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Requisitos nutricionais de suínos e atualização das Tabelas Brasileiras 2024 (II): Energia e aminoácidos para suínos em crescimento

Para que os suínos cresçam e sejam produtivos, sua nutrição deve garantir o consumo de energia e dos nutrientes necessários para a manutenção e a produção. Os nutrientes mais importantes são as proteínas, gorduras, minerais e vitaminas. As proteínas ingeridas e recicladas serão destinadas ao crescimento e reparo dos tecidos, funções enzimáticas e hormonais, transporte de substâncias, respostas imunológicas, equilíbrio hidroeletrolítico, contração muscular, sinalização celular e manutenção do pH.

Do total de energia consumida pelos suínos em crescimento, em média, 40% é utilizado para manter as atividades basais, a termorregulação e a renovação tecidual. Os 60% restantes são direcionados para o crescimento dos tecidos musculares e lipídicos.

As proteínas ingeridas e recicladas são utilizadas para o crescimento e reparo dos tecidos, funções enzimáticas e hormonais, transporte de substâncias, respostas imunológicas, equilíbrio hidroeletrolítico, contração muscular, sinalização celular e manutenção do pH. Essas funções apresentam demandas específicas em relação ao perfil de aminoácidos e às quantidades que devem ser fornecidas na dieta, uma vez que os aminoácidos não são armazenados quando fornecidos acima da capacidade de uso do organismo.

Diante disso, a seguir apresentamos as bases dos requerimentos de aminoácidos e proteínas para suínos em crescimento, com as atualizações das Tabelas Brasileiras de 2024 (TBAS 2024). Os requerimentos proteicos dos animais baseiam-se em alguns conceitos principais, destacados a seguir:

  1. A satisfação dos requerimentos de aminoácidos digestíveis visa suprir as necessidades diárias de aminoácidos essenciais, ou seja, aqueles que os suínos não conseguem sintetizar por conta própria.
  2. Os aminoácidos essenciais são exigidos em proporções específicas, estabelecendo-se um padrão conhecido como “proteína ideal”.
  3. O aminoácido de referência nesse padrão é a lisina, por estar presente em menor proporção nos alimentos em relação à demanda do animal, por não ser sintetizada endogenamente e por ser amplamente utilizada - quase exclusivamente - na síntese de proteína muscular.
  4. O atendimento às exigências de proteína total tem como objetivo suprir os requerimentos de aminoácidos não essenciais, evitando que os essenciais sejam desviados para a síntese dos não essenciais.
  5. Os requerimentos de aminoácidos são definidos com base na digestibilidade ileal estandardizada, que considera os aminoácidos efetivamente absorvidos, desconsiderando perdas endógenas basais.

Requisitos de lisina, proteína ideal e proteína digestível para suínos em crescimento

Os requerimentos apresentados nas TBAS (2024) se baseiam em determinar os requerimentos de lisina digestível para animais em crescimento, atualizar a proporção de aminoácidos na proteína ideal e determinar a proporção de nitrogênio essencial e nitrogênio total que permitirá cobrir as necessidades de proteína digestível e, consequentemente, de aminoácidos não essenciais.

Requisitos padronizados de lisina digestível ileal

A determinação dos requerimentos de lisina digestível ileal padronizada (Lis DIE) baseia-se em modelos fatoriais, com a determinação dos requerimentos de lisina digestível para manutenção e produção.

Assim, em relação à energia, o requerimento de lisina para manutenção é determinado pelo balanço de lisina igual a zero, estabelecido em diferentes tipos de ensaios experimentais. Nas TBAS 2024 foi atualizado o requerimento de lisina digestível para animais em crescimento, sendo o valor definido por Faria (2019), em (0,039 x Peso Médio^0,75).

Os requerimentos de lisina digestível para produção foram estabelecidos com base em dados de experimentos de dose-resposta com diferentes níveis de lisina realizados na UFV e publicados em revistas indexadas.

Considerando a base de dados utilizada na atualização, foram considerados um total de 165 resultados experimentais para estabelecer as equações de requerimento de lisina. Esses requerimentos baseiam-se no peso corporal médio dos animais na fase e na taxa de ganho de peso na fase de produção. Nesse cenário, foram atualizados os requerimentos de lisina digestível para suínos machos castrados, fêmeas, machos inteiros e machos imunocastrados (Quadro 1), destacando o uso de uma equação diferente para machos inteiros e machos imunocastrados.

Quadro 1 – Requerimento de lisina digestível ileal padronizada em g/dia para suínos em crescimento

Equações para estimar os requerimentos de Lis DIE
Suínos machos castrados Lis. Dig = (0,039 P0,75)
+
(16,844 + 0,0829 P - 0,0004 P2) G
Matrizes Lis Dig = (0,039 P0,75)
+
(16,235 + 0,136 P - 0,0009P2) G
Suínos machos inteiros (até 105 kg de peso) Lis DIE = (0,039 P0,75)
+
(16,074+ 0,1531 P - 0,0012 P2) G
Suínos Machos Imunocastrados (105 a 155 kg)1 Lis DIE = (0,039 P0,75)
+
(18,71) G

Assim como no uso de equações energéticas, as exigências de lisina digestível estão relacionadas com o peso médio do animal na fase e a taxa de ganho de peso prevista para a fase. Como o cálculo se baseia nas recomendações em gramas por dia, de acordo com os requerimentos de EM, o nível de EM da dieta e o consumo previsto, será estabelecida a porcentagem de lisina digestível na dieta.

As Tabelas 1, 2 e 3 apresentam um resumo dos requerimentos de Lisina DIE e a concentração de lisina digestível nas dietas.

Tabela 1 – Requisitos de Lis DIE e % Lis DIE na dieta de fêmeas com alto potencial genético e rendimiento superior.

Idade (dias) 63 91 119 147 175
Peso (kg) 26,65 49,11 76,93 106,96 136,24
Ganho (kg/día) 0,643 0,889 1,041 1,077 1,017
Requerimento Lis DIE (g/dia) 12,79 19,17 23,27 23,37 19,93
Consumo de alimento (kg)1 1,054 1,804 2,730 3,117 3,362
Lis DIE (%) 1,21 1,06 0,91 0,75 0,59

1Dietas que contêm 3350 kcal/kg de EM dos 49 aos 182 dias de idade. Adaptado (Hannas et al. 2024)

Tabela 2 – Requisitos de Lisina DIE em g/dia, EM em kcal/dia e % de Lisina DIE na dieta para suínos machos castrados com alto potencial genético e desempenho superior

Idade (dias) 63 91 119 147 175
Peso (kg) 27,07 51,51 81,89 113,68 144,04
Ganho (kg/día) 0,692 0,970 1,124 1,137 1,043
Requerimento Lis DIE (g/dia) 13,48 20,20 24,61 25,34 22,98
Consumo de alimento (kg)1 1,160 2,081 2,978 3,538 3,678
Lis DIE (%) 1,16 0,97 0,83 0,72 0,62

1Dietas que contêm 3350 kcal/kg de EM dos 49 aos 182 dias de idade. Adaptado (Hannas et al. 2024)

Tabela 3 – Requisitos de Lis DIE EM e % Lis DIE na dieta de suínos machos inteiros e imunocastrados com alto potencial genético e rendimiento superior

Idade (dias) 63 91 119 147 175
Peso (kg) 25,83 48,62 79,40 116,17 156,06
Ganho (kg/día) 0,623 0,928 1,194 1,372 1,444
Requerimento Lis DIE (g/dia) 12,42 19,90 25,71 25,61 28,73
Consumo de alimento (kg)1 0,995 2,081 2,513 2,816 4,050
Lis DIE (%) 1,25 1,13 1,02 0,91 0,71

1Dietas que contêm 3350 kcal/kg de EM dos 49 aos 182 dias de idade. Adaptado (Hannas et al. 2024)

Padrão de aminoácidos essenciais na proteína ideal para suínos

Considerou-se o conceito de proteína ideal para determinar as necessidades dos demais aminoácidos. As proporções dos outros aminoácidos essenciais foram revisadas com base em experimentos realizados na UFV, em outras instituições e em uma base de dados revisada na literatura científica. Em condições específicas, especialmente relacionadas à saúde animal, essa relação pode ser modificada e outras proporções devem ser consideradas.

Na Tabela 4, apresentamos a relação de aminoácidos na proteína ideal sugerida para suínos em crescimento, dos 63 aos 175 dias de idade.

Tabla 4. Relação de aminoácidos na proteína ideal para suínos em crescimento

Aminoácido Digestibilidad
Lisina 100 %
Metionina 33
Metionina + Cisteína 60
Treonina 68
Triptofano 20
Arginina 42 %
Valina 69 %
Isoleucina 55 %
Leucina 100 %
Histidina 33 %
Fenilalanina 54 %
Fenilalanina + Tirosina 100 %

Níveis de proteínas totais e digestíveis para suínos

O fornecimento de aminoácidos cristalinos, juntamente com a aplicação do conceito de proteína ideal nas formulações de dietas para suínos, permite formular dietas com níveis proteicos mais baixos. Nesse sentido, a atenção dos nutricionistas deve estar voltada a garantir que a proteína total fornecida aos animais também cubra as exigências de aminoácidos não essenciais. Para isso, a partir de estudos sobre as relações entre o nitrogênio essencial e o nitrogênio total, foram estabelecidos os níveis mínimos de proteína digestível e proteína total que as dietas para suínos devem apresentar.

Os procedimentos e cálculos utilizados para determinar as concentrações de nitrogênio essencial e nitrogênio total, assim como suas relações, podem ser consultados nas TBAS 2024. De forma simplificada, é possível estimar os níveis mínimos de proteína bruta e proteína digestível com base na proporção de lisina digestível presente na proteína bruta e na proteína digestível, que são de 6,2% e 7%, respectivamente.

Como exemplo, leitoas com 119 dias de idade, peso médio de 76,9 kg e exigência de lisina digestível de 0,91%, apresentaram uma exigência de proteína bruta de: (0,91 x 100) / 6,2 = 14,68% e uma exigência de proteína digestível de: (0,91 x 100) / 7 = 13,0%, respectivamente.

Considerações finais

O conhecimento do potencial de crescimento dos suínos, alinhado à aplicação de equações para determinar os requerimentos nutricionais e aos conceitos nutricionais atualizados, permite a formulação de dietas mais eficientes e com melhores retornos econômicos, além da personalização de programas de alimentação de acordo com as características do sistema de produção de suínos.

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