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Vacinas orais contra doenças respiratórias: ativando o Sistema Imune Comum das Mucosas

A vacinação oral em suínos, antes restrita a patógenos entéricos, ganha força como estratégia inovadora contra doenças respiratórias. Explorando o potencial do Sistema Imune Comum das Mucosas (CMIS), novas formulações permitem ativar respostas imunes em sítios distantes a partir do intestino.

Introdução

A imunização de suínos é essencial para a produtividade e bem-estar animal. Embora vacinas injetáveis sejam mais comuns, as vacinas orais surgem como uma alternativa promissora, não só pela facilidade de administração em massa e redução do estresse, mas principalmente por sua capacidade de modular o sistema imune das mucosas, barreira chave contra muitos patógenos entéricos e respiratórios.

Precedentes históricos e desafios

A vacinação oral em suínos não é algo recente. Uma vacina oral viva atenuada contra Peste Suína Clássica (PSC) testada em suínos e javalis mostraram proteção frente ao desafio, sem excreção da cepa vacinal. A formulação com iscas palatáveis reforça a viabilidade dessa via para imunizar grandes populações, incluindo animais selvagens, o que pode ser uma estratégia para controle de doenças em campo (Chenut et al., 1999).

Embora a imunização oral seja mais utilizada para uma resposta imune intestinal, há também desafios. A eficácia em campo pode ser inconsistente devido à degradação de componentes lábeis, como a degradação de antígenos no trato gastrointestinal (pH, enzimas, anticorpos maternos). Para superar isso, inovações tecnológicas que garantam estabilidade e proteção do antígeno vacinal são necessárias, como alguns exemplos citados acima.

Este texto explora os fundamentos da imunidade de mucosas em suínos, o Sistema Imune Comum das Mucosas (CMIS), o potencial da imunização oral para patógenos respiratórios e entéricos, e as inovações tecnológicas que superam seus desafios.

Fundamentos da Imunidade de Mucosas e o CMIS

O Sistema Imune Comum das Mucosas (CMIS) descreve a interconexão funcional entre os sítios mucosos. As mucosas (tratos gastrointestinal, respiratório e reprodutivo) são as principais portas de entrada de patógenos em suínos. O Tecido Linfoide Associado às Mucosas (MALT), com seus tecidos linfoides especializados (GALT - intestino, BALT - brônquios), inicia respostas imunes locais. A ativação de linfócitos T e B por células apresentadoras de antígenos (APCs) leva à proliferação de células efetoras e de memória. A migração de células de defesa para outros sítios mucosos é guiada por mecanismos de homing linfocitário (Figura 1), de modo que antígenos administrados oral ou intranasalmente podem induzir respostas imunes em mucosas distantes, como nasal, traqueal, intestinal, oral e vaginal. A imunoglobulina A secretora (sIgA) é um dos principais efetores, neutralizando patógenos no lúmen, mas a eficácia da vacinação depende da magnitude, localização, especificidade e isotipo das respostas de anticorpos (Guevarra et al., 2021; Wilson & Obradovic, 2015) . Um estudo com PRRSv demonstrou que a imunização oral induziu IgA tanto na mucosa oral quanto na vaginal, reforçando o impacto sistêmico das vacinas orais na imunidade de mucosas (Hyland et al., 2004).

A ativação de células imunes em um sítio mucoso pode levar à sua migração para sítios mucosos distantes

 1 Esquema da ativação do sistema imune comum de mucosas por vacina oral.

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Abordagem de vacinais orais contra patógenos respiratórios

Vacinas orais são comumente utilizadas para patógenos gastrointestinais, mimetizando a infecção natural e estimulando a imunidade local, como vacinas comercialmente disponíveis contra Escherichia coli e Lawsonia intracellularis. Apesar de serem historicamente focadas em doenças entéricas, as vacinas orais vêm abrangendo patologias complexas, impulsionadas pelo CMIS e novas tecnologias.

Uma vacina oral contra Mhyo foi desenvolvida utilizando-se sílica SBA-15 como adjuvante, revestida por polímero solúvel em meio básico, garantindo proteção contra ácidos estomacais e liberação do antígeno no intestino delgado. A vacinação oral reduziu em 90% as lesões pulmonares quando comparadas ao grupo controle, induziu IgA no trato respiratório, além de menores níveis de IL-8 no tecido pulmonar (Mechler-Dreibi et al., 2021).

Outra vacina oral inovadora baseada em esporos de Bacillus subtilis contra PRRSv induziu respostas imunes tanto humorais quanto mediadas por células, demonstrado pelos níveis significativos de IFN-γ e de anticorpos neutralizantes, com aumento considerável nos níveis de anticorpos específicos e citocinas em suínos (Min et al., 2024). No mesmo sentido, desenvolveram uma vacina oral contra PCV2 utilizando-se Bacillus subtilis recombinante expressando capsídeo de PCV2. Leitões imunizados apresentaram níveis elevados de IgA específica contra PCV2 nos tecidos mucosos do trato digestivo e respiratório, e IgG específica contra PCV2 no soro, além de aumento das citocinas IL-1β, IL-6, interferon-γ e β-defensina 2 (Zhang et al., 2020).

Conclusão

As vacinas orais representam uma fronteira promissora na imunoprofilaxia suína, com potencial para transformar as estratégias de prevenção na suinocultura moderna. Além da facilidade de aplicação em larga escala e da redução do estresse animal, elas se destacam pela capacidade de estimular a imunidade de mucosas, componente essencial na defesa contra patógenos entéricos e respiratórios. Evidências crescentes demonstram que, com o apoio de tecnologias inovadoras de formulação e entrega, será possível superar os desafios associados à via oral, como a degradação dos antígenos no trato gastrointestinal. Ao modular positivamente a resposta imune e até mesmo o microbioma intestinal, as vacinas orais podem se tornar uma ferramenta estratégica para uma suinocultura mais eficiente, sustentável e alinhada às demandas do bem-estar animal e da biosseguridade.

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