Controle da ileíte em leitões

13-Out-2025
X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
A medida de controle da EPS mais frequentemente adotada é a utilização de antimicrobianos na forma injetável, na ração ou na água, de maneira preventiva ou terapêutica.

A enteropatia proliferativa suína (EPS), também conhecida como ileíte, é uma das causas mais frequentes de quadros entéricos em suínos de recria e terminação (Guedes, 2008). É uma doença entérica infectocontagiosa, caracterizada na forma aguda por diarreia hemorrágica e espessamento da mucosa intestinal com coágulos no lúmen intestinal, e acomete principalmente animais de recria e terminação, além de adultos jovens de reposição (Lawson e Gebhart, 2000). A forma crônica é caracterizada por espessamento irregular da mucosa intestinal, edema de mesentério, diarreia transitória, redução no desempenho dos animais, desuniformidade de lote e acomete animais de crescimento e terminação (Guedes, 2012).

A EPS causa muitos prejuízos econômicos devido a diarreia, aumento da mortalidade, diminuição no desempenho dos animais e gastos com medicamentos chegando a um custo anual de 20 milhões de dólares nos EUA em decorrência da EPS (McOrist, 2005).

A medida de controle da EPS mais frequentemente adotada é a utilização de antimicrobianos na forma injetável, na ração ou na água, de maneira preventiva ou terapêutica. Os antimicrobianos mais eficientes para tratar EPS são os macrolídeos, tetraciclinas, lincosamidas e pleuromutilinas (França & Guedes, 2008). Dentre estes, os mais utilizados são a tilosina, clortetraciclina e tiamulina (Burch, 2000). Tilosina é um macrolídeo, que inibe a síntese protéica bacteriana (Kim et al, 2008), atua como bacteriostático e pode também atuar como bactericida quando em altas concentrações (Barcellos et al, 2012).

Algumas características da Tilosina são desejáveis para tratamento de enfermidades:

  • Período de carência curto quando administrada de forma terapêutica,  uma vez que a doença também atinge animais de terminação que logo chegarão ao abate.
  • Lipossolubilidade que permite atravessar barreiras celulares e, consequentemente, chegar ao agente alvo mais facilmente, auxiliando a eficácia do tratamento (Spinosa et al, 2002).

A eficácia da Tilosina já foi demonstrada em diversos estudos com inoculação experimental de L. intracellularis em suínos (Lee et al, 2001; Marsteller et al, 2001; McOrist et al., 1997).

Estudo experimental para avaliação da eficácia da Tilosina contra EPS

No presente estudo, foram utilizados 60 leitões machos, de cinco semanas de idade e peso médio de 9,5Kg, provenientes de uma granja livre de Mycoplasma hyopneumoniae, Actinobacillus pleuropneumoniae, Brachyspira hyodysenteriae, B. pilosicoli, Salmonella enterica sorovar Choleraesuis, Pasteurella multocida toxigênica e Herpesvirus suíno tipo I (vírus da doença de Aujeszky).

A eficácia do antimicrobiano é avaliada pela diminuição da extensão e severidade das lesões intestinais, melhora no desempenho e diminuição na eliminação do agente nas fezes (Walter et al, 2001; França, 2007). Um antimicrobiano eficiente contra L. intracellularis necessita chegar ao local de ação, interior de enterócitos, de forma ativa e em concentração adequada (McOrist et al, 1995b).

Desafio com L. intracellularis

Para tal, no dia 0, todos os animais foram inoculados individualmente, via intragástrica, com 43 mL de inóculo de homogeneizado de mucosa intestinal de suínos sabidamente infectados por L. intracellularis, como descrito por Guedes et al (2002). Cada animal recebeu cerca de 1,6 x 107 organismos de L. intracellularis. A linha do tempo do experimento pode ser observada na Figura 1.

Figura 1. Linha do tempo mostrando a fase experimental. Dia -2: animais foram pesados e coletadas fezes individuais. Dia 0: inoculação dos 60 animais, com 43mL de inóculo contendo 1,6x107 bactérias. Dia 13: pesagem dos animais para cálculo da dose de medicamento e início da medicação às 19h (1ª dose). Dia 14: 2ª dose de medicação às 7h e 3ª dose de medicação às 19h. Dia 21: eutanásia dos 60 animais, por eletrocussão seguida de sangria

Avaliações clínicas individuais de todos os animais foram realizadas diariamente pela mesma pessoa, desde o dia -2 até o fim do experimento. Os parâmetros observados foram comportamento, escore corporal e grau de diarreia (grau 0 = sem diarreia, grau 1 = fezes pastosas, grau 2 = fezes líquidas, grau 3 = fezes com sangue).

Tratamento

No dia 12 do experimento, 19 dos 60 leitões apresentavam diarreia, sendo 10 (33,3%) leitões diarreicos no grupo não medicado e 9 (30%) no grupo medicado, atingindo o mínimo esperado de 25% de animais com diarreia para que o tratamento fosse iniciado.

No dia 13 após a inoculação, quando pelo menos 25% dos animais apresentaram diarreia causada por L. intracellularis, todos os leitões do grupo medicado foram tratados com tilosina injetável (Tilosina 20%, Eurofarma Laboratórios S.A.), 1mL/20Kg p.v., e o grupo controle recebeu volume proporcional ao peso vivo de salina estéril, via intramuscular, em três doses, em intervalo de 12 horas. Os animais foram eutanasiados no dia 21 após a inoculação.

Após o tratamento, que ocorreu nos dias 13 e 14, observou-se redução gradativa de diarreia nos dois grupos, ocorrendo uma redução maior no grupo medicado.

O grupo não medicado apresentou 23 animais com diarreia no período anterior ao 13º dia e após este período 17 animais apresentaram diarreia, enquanto no grupo medicado, 26 animais apresentavam diarreia no período inicial e após a medicação apenas 11 (Figura 2).

Figura 2: Percentual de animais acometidos com diarreia nos grupos medicado e não medicado, nos períodos anterior (dia 1 a 13) e posterior ao tratamento (dia 14 a 21). Teste Qui-quadrado

Lesões macroscópicas ao abate

À necropsia, foram observadas lesões típicas de EPS de grau 1 no íleo (Figura 3) em 16 leitões, sendo a quantidade numericamente maior no grupo controle (10 leitões) quando comparado com o grupo medicado (6 leitões) (P>0,05). As lesões encontradas foram de espessamento discreto de mucosa intestinal no íleo, com hiperemia discreta e a extensão de lesão por cada animal variou de 6cm a 65cm.

Figura 3: Lesão macroscópica observada à necropsia, grau 1, espessamento de mucosa intestinal.

A extensão da área total de lesões observadas nos animais não medicados foi maior quando comparada com os animais do grupo medicado (p=0,031) (Tabela 1).

Tabela 1: Intensidade de lesões macroscópicas e média de extensão de lesões, em cm, por animais afetados dos grupos não medicado e medicado. Qui-quadrado.

*Grau 0 = normal; grau 1 = espessamento da mucosa; grau 2 = espessamento e necrose da mucosa; grau 3 = espessamento de mucosa e hemorragia com formação de coágulos intraluminais.

Análise de imunomarcação por Imuno-histoquímica

Houve diferença (P=0,032) na imunomarcação observada entre os grupos, estando presente em 16 animais do grupo controle (53,3%) e em 8 animais do grupo medicado (26,6%). Todas as marcações observadas foram observadas no íleo e classificadas como grau 1 (até 25% das criptas infectadas)

Os animais do grupo medicado apresentaram menor imunomarcação no íleo (p<0,032) em comparação com os animais do grupo não medicado, mostrando que a presença de antígeno da L. intracellularis foi mais frequente nos animais não medicados.

Discussão e conclusão

A tilosina (Eurofarma Laboratórios S.A.) injetável, nas condições do presente estudo, foi eficiente no controle da enteropatia proliferativa suína em leitões experimentalmente infectados, pois reduziu significativamente a extensão de lesão e o nível de infecção por L. intracellularis.

A apresentação da medicação como forma injetável, utilizada no presente estudo, é mais vantajosa pois permite a absorção completa do medicamento, garantindo que o animal receba toda a dose necessária (Karriker et al., 2012). Medicação intramuscular possui outra vantagem quando comparada à medicação na ração, pois animais doentes têm menor ingestão de alimento (Apley et al. 2012).

A terapia medicamentosa no início do curso de qualquer enfermidade é fundamental para garantir o bem-estar animal e o desempenho do grupo (Marsteller et al., 2001), fatores que melhoram os índices produtivos na granja.

X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
curtidascomentáriosFavoritos

Produtos

Contato:

Entre em contato conosco através do formulário

Pearson Saúde Animal está presente nas seguintes categorias