Uso de Ácidos Orgânicos e MOS no Controle de Salmonella

13-Set-2021
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A salmonelose é uma doença infecciosa que atinge normalmente suínos desmamados, podendo se estender até os cinco meses de idade. Manifesta-se por septicemia e enterite aguda ou crônica, mas muitas vezes, a infecção é inaparente.  A apresentação clínica e a gravidade dos sintomas depende das condições de resistência dos animais e da virulência da cepa. Por outro lado, são os sorovares que não causam doença clínica no suíno, os que têm maior importância para a segurança alimentar, uma vez que o animal portador não apresenta sintomas, mas é uma fonte permanente de contaminação, desde a granja até o processamento industrial. Existem mais de 2.600 sorovares, nos suínos os mais comuns são: S. Typhimurium e a S. Choleraesuis.

A S. Typhimurium, na maioria das vezes, não causa sintomas clínicos, sendo disseminada nas fezes e podendo contaminar as carcaças durante o abate. Já a S. Choleraesuis, pode ocorrer com manifestações brandas e sem sinais clínicos, como também podendo ocorrer a enterite aguda ou crônica. Em casos mais graves, pode levar a quadros de septicemia.

Na tentativa de melhorar a produtividade e contornar os problemas relacionados à salmonelose e aos distúrbios fisiológicos dos leitões, o emprego de antimicrobianos na suinocultura moderna tem sido praticado há cerca de 50 anos, em diversos países. Entretanto, o uso destes produtos vem sendo restringido pela União Europeia, nos blocos asiáticos e no Oriente Médio, devido à preocupação com a segurança alimentar.

Na contramão do uso dos antimicrobianos, uma fatia expressiva de aditivos alternativos (probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos, ácidos graxos, etc.) tem surgido no mercado. Dentre eles, os ácidos orgânicos e mananoligossacarídeos (MOS) têm sido utilizados como alternativas promissoras em substituição aos antibióticos, no controle da Salmonella e outros distúrbios entéricos, como também na substituição de aditivos melhoradores de desempenho utilizados em rações de suínos.

Os ácidos orgânicos, além de sua atividade antimicrobiana, podem prevenir a contaminação da carcaça de suínos por Salmonella no pré-abate.  Os ácidos difundem-se através das membranas celulares da Salmonella, alterando fisiologicamente suas funções. Dentro da célula bacteriana, na qual o pH é próximo de 7, o ácido irá dissociar-se acarretando em acumulo de ânios no interior da célula, modificando a pressão osmótica, interrompendo a síntese de ácidos nucleicos, bloqueando as reações enzimáticas e alterando o transporte através da membrana. Concomitante, os íons H+ provenientes da dissociação são bombeados para fora da bactéria por ação da bomba ATPase. Esse fenômeno consome energia e esgota completamente a bactéria.

Para exercer sua ação antimicrobiana, é fundamental que estes ácidos orgânicos consigam passar de forma inerte pelo trato gastrointestinal. Isto só é possível quando os ácidos orgânicos são protegidos, permitindo sua liberação gradual e constante ao longo do sistema gastrointestinal. Esta atividade antimicrobiana dos ácidos orgânicos leva a uma redução da excreção dos agentes patogênicos.

“Os ácidos orgânicos e mananoligossacarídeos (MOS) têm sido utilizados como alternativas promissoras em substituição aos antibióticos..., como também na substituição de aditivos melhoradores de desempenho utilizados em rações de suínos.”

Já o MOS, tem capacidade de se aglutinar (ligar) às fímbrias do Tipo 1, características na Salmonella, não permitindo que ela se ligue aos enterócitos. Essas fímbrias, ao permitir que a bactéria se fixe na superfície dos enterócitos, facilita sua penetração e adjacente infecção. Um trabalho in vitro realizado em 2009 por Borowsky, demonstrou essa aglutinação entre MOS e Salmonella, onde foram avaliadas 108 cepas, sendo que  74,2% foram aglutinadas pelo MOS e perderam a capacidade de adesão.

O uso dos antimicrobianos, além do controle de enteropatógenos, gera inevitavelmente uma redução da microbiota benéfica existente no trato gastrointestinal dos suínos. Em contrapartida, seus substitutos (os ácidos orgânicos), quando protegidos por uma base mineral (carrier), favorecem a proliferação de bactérias acidófilas, servindo como plataforma de multiplicação das mesmas, garantindo a manutenção da integridade intestinal.

Calveyra (2010) realizou a avaliação do efeito da adição de ácidos orgânicos e prebióticos na dieta sobre a excreção de Salmonella Typhimurium em suínos, em fase de crescimento e terminação, infectados experimentalmente.

Os resultados de excretores fecais de Salmonella Typhimurium após inoculação oral, nos diferentes dias e tratamentos estão representados na Tabela 1.

 

Tabela 1. Frequência (%) de excretores fecais de Samonella sp. por tratamento, entre o 3º e 28º dias pós a inoculação (DPI) oral de Salmonella Typhimurium em suínos.

T1 - dieta basal

T2 - dieta basal + ácidos orgânicos protegidos

T3 - dieta basal + ácidos orgânicos não-protegidos

T4 - dieta basal + MOS

O grupo controle (T1) e os grupos que receberam tratamento com ácidos orgânicos (T2 e T3) apresentaram uma maior freqüência de excretores de Salmonella sp. durante todo o período de experimento, comparado ao grupo que recebeu MOS. O grupo suplementado com MOS (T4), demonstrou uma tendência de menor número de animais com amostras fecais positivas no mesmo período.

Os resultados de quantificação de Salmonella apresentam interação entre tratamento e DPI (p=0,0056). As médias das quantificações em cada tratamento estão expressas na Tabela 2.

“A associação de ácidos orgânicos protegidos com MOS é uma alternativa para o controle de Salmonella sp. na produção de suínos.”

Tabela 2. Média da quantidade de Salmonella sp. (log10.UFC.g-1) nas fezes, erros padrão e níveis descritivos de probabilidade do teste F por tratamento, entre o 3º e 28º dias pós a inoculação (DPI) oral de Salmonella Typhimurium em suínos.

Já no 3º dia pós inoculação, todos os grupos apresentaram excreção de Salmonella com contagens variando de 0,61 a 5,75.

Médias seguidas de letras minúsculas (a, b, c) distintas nas linhas diferem entre si pelo teste t (p<0,05).

Médias seguidas de letras maiúsculas (A, B, C, D) distintas nas colunas diferem entre si pelo teste t (p<0,05)

T1 - dieta basal

T2 - dieta basal + ácidos orgânicos protegidos

T3 - dieta basal + ácidos orgânicos não-protegidos

T4 – dieta basal + MOS.

Decorridos os 28 DPI, os grupos T2 (ácidos orgânicos protegidos) e T4 (MOS) tiveram os melhores resultados, sendo o grupo tratado com MOS estatisticamente melhor, apresentando a menor contagem média de Salmonella sp. nas fezes no período. Sendo assim, a associação de ácidos orgânicos protegidos com MOS é uma alternativa para o controle de Salmonella sp. na produção de suínos.

 

REFERÊNCIAS:

BOROWSKY, L. Adição de mananoligossacarideos a dieta como alternativa para controle da infecção por Salmonella sp. em leitões de fase de creche. Porto Alegre, RS. 2009.

CALVEYRA, J. Efeito da adição de ácidos orgânicos e prebiótico na dieta sobre a excreção de Salmonella Typhimurim em suínos em fase de crescimento e terminação infectados experimentalmente. Porto Alegre, RS. UFRGS. 2010.

DE LIMA, M. Ácidos orgânicos em dietas de suínos. Jaboticabal, SP.  Universidade Estadual Paulista – UNESP. 2016.

KICH, J. Salmonela na suinocultura brasileira: do problema ao controle. 2015.

 

 

 

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