Minimizar o Impacto das Patologias Entéricas para Aumentar a Produtividade da Suinocultura
O suíno pode ser considerado uma das espécies de maior potencial cárneo, por seu alto potencial reprodutivo, precocidade e alto rendimento de carcaça.
O custo de produção da carne suína inclui gastos com sanidade, mão de obra, amortizações das instalações e, principalmente, os gastos com a ração dos animais, que pode chegar a 65-75% do custo total.
Atualmente, vemos um cenário de alto custo de grãos com baixo preço da carne suína, o que leva os produtores de suínos a concentrarem-se nas variáveis que estão em suas mãos. Sendo assim, produtor e agroindústria devem focar suas ações em medidas que aprimorem a conversão alimentar (CA) e o ganho de peso (GP) dos suínos.
Algumas das variáveis que afetam a CA e o GP podem estar relacionadas à alimentação dos animais, tais como:
- Forma física da ração (tamanho de partícula, peletização, etc.);
- Desperdício de ração;
- Manejo alimentar e níveis nutricionais;
- Enfermidades clínicas e subclínicas;
- Temperatura e umidade do ambiente;
Outras variáveis são diretamente relacionadas ao animal:
- Genética;
- Sexo: Machos - Fêmeas - Castrados ;
- Perdas por mortalidade, ou apresentações clínicas e subclínicas.
Por mais que os fatores que influenciam os resultados produtivos sejam totalmente conhecidos, por questões econômicas poucos destes podem ser modificados facilmente na rotina das granjas.
Desta forma, o fator sanidade é um ponto chave para a melhoria nos parâmetros produtivos, pois o produtor e a agroindústria podem atuar rapidamente na mudança de suas práticas sanitárias. Alguns dos fatores que requerem menor investimento são:
- Aprimorar as práticas de biosseguridade nas granjas;
- Implantar práticas de manejo que melhorem a ambiência;
- Estabelecer um plano de higiene e desinfecção rigoroso (detergente + desinfetantes);
- Realizar controle de vetores de patógenos (veículos, visitantes, animais de estimação, etc);
- Corrigir erros na administração de medicamentos, levando em conta as características farmacológicas de cada molécula, dose correta e as possibilidades de tratamento.
O fato é que fatores como a piora na saúde intestinal e a incidência de diarreias, que ocorrem nas fases de crescimento e terminação, têm extremo impacto econômico ao setor suinícola, mesmo quando moderadas ou subclínicas.
A Saúde Intestinal dos Suínos
A saúde geral dos suínos e, particularmente, a saúde intestinal, encontra-se permanentemente em busca do equilíbrio entre a microbiota benéfica e os eventuais patógenos oportunistas. Este equilíbrio pode romper-se por introdução de um patógeno altamente agressivo, mas também por situações de estresse (mudanças alimentares e de temperatura, densidade, etc), que acabam por permitir que um habitante normal da microbiota (como E. coli, Salmonella e Clostridium) cause quadros de enfermidade.
As diarreias são o sinal mais comum dos complexos entéricos dos suínos, e o impacto das mesmas se manifesta geralmente com prejuízos nos resultados de mortalidade, GP e CA, além do aumento à susceptibilidade frente a outras enfermidades. Em casos agudos, de maneira prática, pode-se considerar que cada dia de diarreia severa na fase de crescimento ou terminação representa um atraso na chegada ao abate de 2 a 3 dias.
Entretanto, em muitos casos os quadros entéricos não são diagnosticados corretamente na granja, pois as apresentações das enfermidades mais comuns podem não ocorrer em sua forma clínica clássica (diarreias), mas sim de forma subclínica. Existem estimativas práticas que indicam que problemas entéricos crônicos, podem aumentar a conversão alimentar em 0.2 (200 gramas) e a mortalidade em 3%, elevando os gastos com medicação em pelo menos 50%. Estes quadros aumentam, consequentemente, os custos de alimentação dos suínos em torno de 10 a 15%.
Segundo Jensen & Boye (2005), as principais enfermidades entéricas na fase de crescimento e terminação são a disenteria suína, colite espiroquetal e enterite proliferativa, causadas pelos agentes Brachyspira hyodisenteriae, Brachyspira pilosicoli e Lawsonia intracellularis, respectivamente.
O dano ocasionado pela B. hyodisenteriae, B. pilosicoli e L. intracellularis provoca lesões na mucosa intestinal, reduzindo sua capacidade de digerir e absorver nutrientes e gerando um estado inflamatório que torna possível a manifestação de outros agentes infecciosos, como E.coli, Salmonella, Clostridium, entre outros. Devido a isto, os processos infecciosos entéricos nos suínos não se apresentam isoladamente, e por esta razão tem-se discutido a existência de um Complexo Entérico dos Suínos (Perfumo, 2006).
Controle Integral das Patologias Entéricas dos Suínos
Disenteria suína, colite espiroquetal e enterite proliferativa representam elevadas perdas econômicas durante as fases de crescimento e terminação dos suínos, tanto em suas formas agudas ou crônicas e subclínicas. O controle dessas enfermidades é baseado em controlar os agentes causadores e, para esta finalidade, normalmente, utilizam-se antimicrobianos específicos.
Na prática, os tratamentos com antimicrobianos são orientados geralmente em função da eficácia demonstrada in vivo, já que estas bactérias são de isolamento e cultivo fastidioso, complicando assim a realização rápida de testes de sensibilidade aos antimicrobianos. A eleição da molécula utilizada ocorre em função da eficácia percebida em tratamentos anteriores, custos, idade dos suínos, período de carência do medicamento e presença de outras enfermidades concomitantes, que possam ser controladas pelo mesmo antimicrobiano.
Pulsos medicamentosos de 2 semanas via ração, com intervalos de 3 semanas, são prática usual em suínos de crescimento e terminação, e a rotação de princípios ativos é altamente recomendada. Atualmente, observa-se no campo uma reduzida eficácia dos tratamentos medicamentosos, e um rápido retorno ao quadro clínico após o término do pulso com ração tratada. É preocupante esta situação, já que os problemas entéricos têm sido cada vez mais frequentes e há poucas alternativas viáveis de tratamento que tenham eficácia a um custo aceitável.
Também deve-se considerar, que o controle dessas enfermidades entéricas é um procedimento complexo, que envolve não somente o tratamento dos suínos contra o agente infeccioso em questão, mas também a redução ou eliminação dos fatores predisponentes antes mencionados.
A erradicação dos agentes causadores das principais enfermidades entéricas, quando possível, é um processo extremamente difícil, caro e geralmente implica em práticas de despovoamento e vazio sanitário, associados a monitoramentos constantes, tratamentos preventivos e medidas rígidas de desinfecção e biosseguridade. A complexidade da erradicação faz com que se prefira trabalhar com programas de controle destas enfermidades, aceitando a presença do agente em níveis controlados e minimizando a ocorrência de fatores predisponentes.
O grande desafio para o controle das patologias entéricas é reduzir a carga bacteriana do suíno e, por consequência, do ambiente, ponto este muito crítico.
A Situação dos Tratamentos Antimicrobianos e suas Alternativas
A suinocultura brasileira está mudando constantemente, para tornar-se mais competitiva e menos flutuante economicamente. Por outro lado, os consumidores continuam demandando produtos seguros e de alta qualidade, comparados com outras fontes proteicas alternativas. Os produtores de suínos devem continuar incorporando tecnologias para melhorar a eficiência da produção, reduzindo custos e buscando alternativas eficazes que assegurem a sanidade, os parâmetros produtivos e a segurança dos consumidores.
Na última década, as enfermidades entéricas apresentaram uma maior incidência pela proibição imposta pelos órgãos reguladores do uso de produtos que demonstravam alta eficácia no seu controle, como o Carbadox. Os antimicrobianos mais utilizados atualmente para o controle dos enteropatógenos dos suínos já possuem baixa eficácia real, devido ao seu prolongado tempo no campo (há mais de 50 anos em uso). Parte da resistência microbiana cruzada entre moléculas, se dá pela transmissão de plasmídeos e consiste na alteração do ribossomo, impedindo assim a fixação do antimicrobiano. A duração dos tratamentos antimicrobianos também deve ser levada em consideração, já que no caso da Lawsonia, a excreção pode perdurar por 8 semanas, indicando que o tratamento antimicrobiano deveria durar ao menos este período.
A subdosificação dos antimicrobianos é outro fator crítico, já que a dosificação por ppm realizada normalmente via alimento, muitas vezes não se correlacionam com as doses terapêuticas, que são ajustadas por mg/kg de peso vivo. As doses em ppm foram estabelecidas quando os suínos ingeriam uma maior quantidade de alimento do que na atualidade, e por isso deveriam ser seguidos critérios mais precisos de medicação para obter a eficácia esperada.
Outro fato importante no que tange aos antimicrobianos é o período de carência. Muitas das apresentações atuais das enfermidades entéricas tem ocorrido em fases finais do ciclo de terminação, e muitas vezes não mais é possível fazer uso dos antimicrobianos de eleição, pelo seu período de carência prolongado.
Os antimicrobianos usados na alimentação dos animais tem sido extremamente visados pela opinião pública. A pressão do consumidor, exigência dos países importadores, e as próprias regulamentações que estão sendo estudadas no MAPA, demonstram claramente que teremos cada vez menos possibilidades de uso de antimicrobianos, como tratamentos preventivos na alimentação dos suínos. Este padrão segue o ocorrido na Comunidade Europeia e também as recentes mudanças nos EUA para restrição do uso de antimicrobianos na produção animal.
A crescente ineficácia dos tratamentos antimicrobianos contra enfermidades entéricas, bem como a pressão pela redução do uso desses na produção animal, tornam fundamental a avaliação e busca por produtos alternativos aos antimicrobianos tradicionais, que apresentem alta eficácia e possuam custo de tratamento viável para o produtor.
Pesquisas científicas e experimentos práticos direcionados aos patógenos causadores das patologias entéricas dos suínos, já demonstraram que existem produtos naturais capazes de realizar a prevenção e controle destas enfermidades. Estas alternativas são importantes, pois não apresentam resistência microbiana, não possuem período de carência, e não afetam negativamente a microbiota normal dos suínos, se corretamente formuladas.
Frente a todas as dificuldades que enfrentamos com os tratamentos antimicrobianos tradicionais, é importante considerar que hoje já existem medidas naturais para auxiliar nestes desafios.