Um bom parto depende do manejo nutricional periparto

05-Jun-2025
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Na suinocultura altamente tecnificada, plantéis com fêmeas de alta prolificidade trazem ao suinocultor incremento de produtividade, principalmente em índices como número de desmamados/fêmea/ ano.

Sabemos que a evolução genética das fêmeas suínas trouxe o benefício do aumento do número de leitões, juntamente com alguns desafios no período gestacional (periparto), tais como diminuição do fluxo sanguíneo uterino por leitão, o tamanho do leitão e da placenta, aumento na duração do parto e natimortalidade. A taxa de sobrevivência dos leitões depende principalmente da oxigenação fetal, que por sua vez está relacionada com a duração do parto, duração e intensidade das contrações uterinas, e do fluxo sanguíneo placentário (den Bosch et al, 2023).

Nos últimos anos observamos avanço em conceitos e aditivos nutricionais voltados às fases de gestação como um todo e lactação, mas pouca atenção é dada ao período específico do periparto ou período de transição (5 a 7 dias antes do parto e 2 dias pós-parto). Deve-se lembrar que o processo de parto é desafiador tanto para a porca quanto para seus leitões, pois para a porca, o parto é um evento de mudança hormonal drástica com alta demanda de energia e para o leitão um evento de sobrevivência ao tempo de parto cada vez mais prolongado. Devido a isso, este período está sendo estudado sob o ponto de vista comportamental e endócrino.

Aproximadamente dois dias antes do parto, os fetos começam a sintetizar cortisol desencadeando o processo de parto, afetando a síntese de esteroides na porca. Os níveis de estrogênio aumentam, induzindo a síntese de prostaglandinas, que causam luteólise e o consequente declínio da progesterona (Sumoy & Puig, 2016). Assim, o parto da fêmea é desencadeado e as contrações uterinas expulsam os leitões. O tempo de parto é variável e cansativo para a porca, mesmo em condições de normalidade. Entretanto, o estresse na porca, pode aumentar seus níveis de cortisol e desencadear partos lentos (aumento de natimortalidade) e redução da secreção de leite.

Conhecendo esses desafios e para ajudar no processo fisiológico do parto das fêmeas, alguns estudos vêm sendo realizados para determinar quais os nutrientes voltados a contrações uterinas, fluxo sanguíneo placentário (Feyera et al., 2018, Guillemet et al., 2007), prevenção de constipação, redução de tempo de parto e produção de colostro.

Nesse sentido, alguns aspectos relevantes na nutrição de fêmeas no período periparto, devem ser considerados.

1. Nutrição voltada a produção de colostro            

Aproximadamente 30% das porcas produzem colostro insuficiente para sua leitegada (Foisnet et al., 2010; Decaluwé et al., 2013). O colostro é produzido durante o último mês de gestação, mas principalmente durante a última semana antes do parto e a transformação de gordura corporal durante esta última semana de gestação está positivamente associada com a produção de colostro (Decaluwé et al., 2013).

Durante o final da gestação, o metabolismo da porca se adapta poupando glicose para os fetos e lactação, enquanto a própria porca começa a usar mais substratos de energia cetogênica (Robert e Kensinger, 1998). Assim, uma boa estratégia de transição do metabolismo da gestação para o da lactação é essencial para um bom desempenho da lactação (Martineau et al., 2013).

Sabe-se que produção de colostro quanto sua a composição nutricional é influenciada pela condição corporal das porcas e pela estratégia de alimentação periparto (Decaluwé et al., 2014). A maior produção de colostro e a maior concentração de nutrientes são alcançadas em porcas com condição corporal moderada (17 a 23mm de espessura de toucinho).

Portanto, práticas como uso de dieta específica com suplementação gordura durante o final da gestação e fase de transição pode aumentar os lipídios totais no colostro, o conteúdo de lactose colostral e as concentrações de IGF-I (Farmer & Quesnel, 2009).

Pensando nesse sentido, o uso de um produto específico de transição voltado a atender essas demandas fisiológicas, pode trazer benefícios para a produção de colostro e leite da porca, além de outras condições favoráveis ao parto.

 

 2. Redução da Constipação,  do Tempo de parto e Número de Natimortos

O fornecimento de nutrientes corretos para a porca e seus fetos interfere diretamente no desenvolvimento placentário, crescimento fetal e pode afetar o fluxo sanguíneo uterino a duração do parto. Portanto, estratégias nutricionais no período perinatal visando diminuir natimortos e aumentar a vitalidade dos leitões logo após o nascimento, visam estimular as contrações uterinas (frequência ou intensidade), aumentar o suprimento de nutrientes e/ou oxigênio da placenta para o feto e/ou fornecer à porca energia para prevenir a fadiga e reduzir a constipação.

Devido ao elevado número de leitões nascido, sabe-se que as porcas modernas têm limitação na energia disponível durante o parto. Van Kempen et al. (2007) sugeriram que a exaustão da porca durante o parto causada pela depleção de energia pode prejudicar o número e a intensidade das contrações uterinas, aumentando assim a duração do parto e, consequentemente, aumentando a taxa de natimortos.

Assim a suplementação energética no periparto, deve atender tanto às necessidades de manutenção como para contração, crescimento fetal e mamário, produção de colostro e leite. Um estudo mostrou que a ingestão energética diária ideal no dia do parto depende do tamanho da leitegada e duração do parto, e os autores sugeriram que o gasto energético da porca era de 583 kcal de energia metabolizável/leitão nascido e 2068kcal de energia metabolizável para cada hora de duração do parto. De forma prática, um parto com 14 leitões nascidos demanda, aproximadamente, um gasto energético de 8159 kcal ou um parto 4,5h necessita de 9308kcal de energia.

Além da suplementação energética, o papel das fibras alimentares na nutrição das porcas em torno do parto vem sendo estudado, já que podem ser fonte de energia para as bactérias intestinais até várias horas após o trato, além do efeito direto na prevenção da constipação. Segundo Dumniem (2024), a suplementação de fibra alimentar durante os períodos de transição levou à diminuição na prevalência de constipação de 46,3% para 17,6%.

Oliviero et al. (2010) revelaram que porcas com constipação tiveram períodos de parto prolongados, com duração de mais de 300 min. Essas descobertas enfatizam a importância de abordar problemas de constipação em porcas no período de periparto, pois são fatores primários e cruciais que contribuem para o desenvolvimento da síndrome da disgalactia pós-parto em porcas, levando subsequentemente a taxas elevadas de mortalidade entre leitões antes do desmame.

Também, quando falamos de nutrição em fase de transição, não podemos nos esquecer da importância do cálcio de vitamina D em todo esse processo.

Sabe-se que o cálcio é um mineral essencial para as contrações musculares e, portanto, também essencial para as contrações miometriais durante o parto. A vitamina D é essencial para a absorção intestinal de cálcio, desempenhando um papel central na homeostase do cálcio e impactando diretamente nas contrações. Assim, a adequada suplementação de cálcio e vitamina D com ajuste do balanço eletrolítico, são fundamentais para melhor condição de parto.

 

Conclusão

A atenção especial à nutrição do período de transição ou periparto faz-se necessária devido a criticidade deste período, que é determinante para o excelente desempenho ao parto e lactação. Sabe-se que a adequação de dietas e manejo nutricional neste período é fator determinante de sucesso para a produtividade de fêmeas hiperprolíficas.

 

Referências Bibliográficas

  1. Decaluwe R., Janssens G., Declerck I., de Kruif A., Maes D. Induction of parturition in the sow. Vlaams Diergeneeskd. Tijdschr. 2012;81, 158–165.

  2. Decaluwe, R.; Maes, D.; Cools, A.; Wuyts, B.; Smet, S.; Marescau, B.; Deyn, P.; Janssens, P. Effect of peripartal feeding strategy on colostrum yield and composition in sows. Journal Animal Science. 2014, 92, 3557-3567

  3. Den Bosh, M.; Soede, N.; Kemp, B.; den Brand, H. Sow Nutriton, Uterine Contraction, and Placental Blood Flow during the Peri-Partum Period and Short-Term Effects on Offspring: a review. Animals. 2023, 13

  4. Dumniem, N., Boonprakob, R.; Panvichitra, C., Thongmark, S., Laohanarathip, N., Parnitvoraphoom, T., Changduangjit, S., Boonmakaew, T., Teshanukroh, N., Tummaruk, P. Impacts of Fiber Supplementation in Sows during the Transition Period on Constipation, Farrowing Duration, Colostrum Production, and Pre-Weaning Piglet Mortality in the Free-Farrowing System . Animals. 2024. 14, 854.

  5. Farmer, C., Quesnel, H., Nutritional, hormonal, and environmental effects on colostrum in sows. Journal of Animal Science. 2009, 87, 56-64.

  6. Feyera T., Pedersen T.F., Krogh U., Foldager L., Theil P.K. Impact of sow energy status during farrowing on farrowing kinetics, frequency of stillborn piglets, and farrowing assistance. J. Anim. Sci. 2018; 96:2320–2331.

  7. Guillemet R., Hamard A., Quesnel H., Père M.C., Etienne M., Dourmad J.Y., Meunier-Salaün M.C. Dietary fibre for gestating sows: Effects on parturition progress, behaviour, litter and sow performance. Animal. 2007;1:872–880.

  8. Oliviero, C., Heinonen, M., Valros, A., & Peltoniemi, O. (2010). Environmental and sow-related factors affecting the duration of farrowing. Animal Reproduction Science, 2010. 119(1-2), 85–91.

  9. Sumoy, L.; Puig,R. Implementation of a peripartum feed. pig333.com 2016

  10. Van Kempen, T. Supplements to facilitate parturition and reduce perinatal mortality in pigs; Nottingham University Press: Nottinghan, UK, 2007.

 

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