Ingredientes alternativos na alimentação de suínos

18-Nov-2025
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Diversos fatores têm intensificado a busca por fontes alternativas que sejam viáveis do ponto de vista nutricional, econômico e ambiental.

1. Introdução

No Brasil, a alimentação representa o principal custo na produção de suínos. Para os Estados do Sul (SC, RS e PR), a alimentação representou 73% do custo total de produção, enquanto para os Estados de MG, MT e GO, cerca 65% para o ano de 2024 (CIAS EMBRAPA, 2025), sendo o milho e o farelo de soja os ingredientes predominantes nas formulações de rações, por sua densidade energética e perfil de aminoácidos, respectivamente. No entanto, oscilações de preço, competição com uso humano e a expansão da demanda por biocombustíveis têm intensificado a busca por fontes alternativas que sejam viáveis do ponto de vista nutricional, econômico e ambiental.

Ingredientes alternativos são definidos como aqueles que substituem parcial ou totalmente os ingredientes convencionais, desde que mantenham a eficiência produtiva. Seu uso exige conhecimento detalhado da composição bromatológica, digestibilidade, presença de fatores antinutricionais e impacto sobre desempenho zootécnico, saúde intestinal e qualidade de carcaça. Além disso, a aplicação de tecnologias como a adição de enzimas (xilanase, fitase, protease e outras) e o uso de formulações baseadas em aminoácidos digestíveis e energia líquida permite ampliar o uso desses ingredientes com segurança.

O melhoramento genético também tem desempenhado papel fundamental na produtividade e adaptação de ingredientes alternativos, como no caso do sorgo com baixo teor de taninos, cereais de inverno com maior valor energético ou proteico, cultivares de canola com menor teor de glucosinolatos, entre outros. Essas inovações aumentam o potencial de utilização dos ingredientes em dietas práticas.

No Brasil, a publicação "Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos" (Rostagno et al., 2024) fornece dados atualizados de composição nutricional, energia metabolizável, aminoácidos digestíveis e limites máximos e práticos de inclusão para diferentes categorias, sendo uma ferramenta essencial no uso seguro e eficiente desses ingredientes.

2. Grupos de Ingredientes Alternativos

Cereais de inverno e sorgo

Cereais como trigo, centeio, cevada e triticale têm sido estudados como alternativas parciais ou totais ao milho na alimentação de suínos. Estes grãos apresentam níveis energéticos similares, porém maior teor de fibra insolúvel e solúvel, além de menor palatabilidade e presença de arabinoxilanos que podem interferir na digestibilidade.

Estudos demonstram que a inclusão de trigo e triticale pode substituir o milho em até 100% na fase de crescimento e terminação, sem prejuízos no desempenho (Krahl, 2014; Aarnink et al., 2020; Renteria-Flores et al., 2021). Contudo, a suplementação com enzimas como carboidrases, é recomendada para maximizar o aproveitamento dos nutrientes.

O sorgo é outro cereal de destaque como substituto ao milho. Inicialmente limitado pelo alto teor de taninos, hoje diversas cultivares de sorgo com baixo tanino foram desenvolvidas, permitindo ampla inclusão sem prejuízos à digestibilidade (Ciacciariello & Tyson, 2006; Nyachoti et al., 2000). O melhoramento genético também tem focado em cultivares com maior conteúdo de energia e menor teor de fibras, ampliando seu uso prático. Vale ressaltar que há necessidade de ajuste de alguns aminoácidos como a metionina e a treonina quando usado para substituição parcial ou total do milho na dieta de suínos (Adeola & Iji, 2018).

Subprodutos do processamento de grãos

Os grãos secos de destilaria com solúveis (DDGS) e seus derivados (DDG, WDG) são amplamente utilizados em países com forte indústria de etanol, como Estados Unidos e Brasil. Esses ingredientes apresentam alto teor de proteína bruta, energia e fósforo disponível, mas variabilidade nutricional significativa entre lotes e elevado teor de fibra.

Pesquisas recentes (Stein & Shurson, 2021; Kerr et al., 2022) apontam que o DDGS pode compor até 30% da dieta de suínos em crescimento e terminação, com efeitos neutros ou positivos sobre o ganho de peso e conversão alimentar. A limitação ocorre principalmente por impactos na qualidade da carcaça (aumento da gordura insaturada, que ocasiona gordura mais flácida) e potencial redução da palatabilidade em altas inclusões.

Farelo de arroz, farelo de trigo, polpa cítrica e casca de soja são alternativas energéticas e/ou fontes de fibra. A inclusão deve considerar o estágio fisiológico dos animais e o equilíbrio da dieta com aminoácidos e energia (Stein et al., 2008; Noblet & van Milgen, 2004; Zier-Rush et al., 2021).

O arroz e seus derivados, como o grão quebrado, o farelo desengordurado e o farelo de arroz gordo, apresentam potencial como ingredientes energéticos e/ou proteicos alternativos. O arroz quebrado é altamente digestível e palatável, especialmente para leitões, sendo uma opção viável ao milho quando disponível a custos competitivos (Siriwan et al., 1993). Já o farelo de arroz gordo apresenta maior valor energético devido ao teor de óleo residual, mas exige atenção quanto à estabilidade oxidativa e ao risco de rancificação. Sua inclusão pode ser benéfica em dietas de crescimento e terminação, desde que controlada e associada ao uso de antioxidantes naturais ou sintéticos (Woyengo et al., 2014). Já o farelo de arroz desengordurado possui menor teor energético, mas pode ser uma boa fonte de fibra digestível e proteína quando utilizado com moderação em dietas balanceadas (Stein et al., 2006).

Substitutos proteicos ao farelo de soja

Farelos de canola, girassol, ervilhaca, além de proteínas concentradas vegetais e animais (quando permitidas), representam alternativas ao farelo de soja.

O farelo de canola, embora com menor teor de proteína e aminoácidos essenciais, apresenta boa digestibilidade e perfil nutricional favorável quando associado a uma formulação balanceada. Segundo Sanjayan et al. (2020), o farelo de canola, embora rico em metionina, contém glucosinolatos, que podem prejudicar o metabolismo tireoidiano e o consumo alimentar, exigindo limitação na inclusão e seleção de cultivares com baixo teor do composto, sendo a inclusão de até 15% considerada segura em dietas para suínos em crescimento e terminação. Já o farelo de girassol possui alto teor de fibra e menor teor de lisina, limitando sua inclusão em dietas para leitões, Coprodutos e ingredientes funcionais

Leveduras autolisadas, fibras fermentáveis (como casca de soja) e ingredientes com propriedades prebióticas têm ganhado destaque, principalmente em dietas de leitões e matrizes. Além do valor nutricional, esses ingredientes podem modular positivamente a microbiota intestinal e favorecer a saúde digestiva (Bosi et al., 2004; Li et al., 2008; Pluske et al., 2018).

A casca de soja pode ser utilizada em níveis moderados para fornecer fibra fermentável, contribuindo com a saúde intestinal de matrizes e suínos em terminação (Liao et al., 2019). A polpa cítrica possui elevada digestibilidade e é bem aceita, sendo viável como substituto parcial ao milho. Leveduras, quando utilizadas em forma hidrolisada ou autolisada, podem atuar como prebióticos e imunomoduladores, com bons resultados em dietas para leitões desmamados (Spring et al., 2021).

3. Fases de Produção e Tolerância ao Uso de Alternativos

  • Creche: maior sensibilidade a ingredientes com menor digestibilidade. Requer ingredientes altamente palatáveis, com baixo teor de fibra e alta digestibilidade. Alternativos funcionais (leveduras, proteínas hidrolisadas) são preferíveis.
  • Crescimento e terminação: maior tolerância a ingredientes com variação composicional e fibra. Ideal para inclusão de cereais de inverno, sorgo e coprodutos.
  • Reprodução: uso moderado de fibras fermentáveis pode favorecer a saúde intestinal de matrizes e melhorar o desempenho reprodutivo.

4. Benefícios do Uso de Ingredientes Alternativos

  • Redução do custo da ração, especialmente em cenários de alta volatilidade do milho e farelo de soja.
  • Valorização de cultivos regionais e aproveitamento de subprodutos agroindustriais.
  • Melhoria da sustentabilidade do sistema, com menor pegada de carbono, principalmente com o uso de áreas agrícolas de pousio (Ex: cereais de inverno no Sul do Brasil).
  • Em alguns casos, melhora na saúde intestinal e no desempenho zootécnico quando combinados com aditivos específicos.

5. Limitações e Cuidados na Formulação

  • Necessidade de formulações ajustadas com base em aminoácidos digestíveis e energia líquida.
  • Presença de fatores antinutricionais, como taninos (sorgo), glucosinolatos (canola), fitatos (grãos), entre outros.
  • Variabilidade composicional entre lotes e fontes.
  • Palatabilidade reduzida de alguns ingredientes e possível impacto na qualidade de carcaça.
  • Necessidade de suporte técnico para uso de enzimas e aditivos.

6. Considerações Finais

O possível uso dos alimentos alternativos na alimentação de suínos dependerá do reconhecimento das suas potencialidades e restrições, de modo a manterem produtividade e possibilitarem redução dos custos de produção, com efeitos diretos sobre a viabilidade e lucratividade da atividade. Outro importante aspecto é sua disponibilidade, pois de nada adiantam alimentos alternativos com excelente matriz nutricional se, por motivos culturais ou agronômicos, não se encontram disponíveis. Muitos destes alimentos alternativos podem apresentar sazonalidade de oferta, ponto a ser considerado na tomada de decisão.

Dentre as fases produtivas, o crescimento e a terminação apresentam o maior potencial para o uso de ingredientes alternativos, pois os suínos nesse estágio possuem maior capacidade digestiva e adaptabilidade a variações na composição nutricional dos ingredientes. Isso permite a inclusão de cereais de inverno, sorgo, subprodutos agroindustriais e coprodutos fibrosos, promovendo maior flexibilidade na formulação e redução dos custos sem comprometer o desempenho zootécnico.

As Tabelas Brasileiras para Aves e Suínos (Rostagno et al., 2024) oferecem base técnica para a tomada de decisão em diferentes cenários de formulação. Além disso, em cenários extremos em que se torna necessária a redução de custos, a experiência técnica do nutricionista pode ter alto impacto, pois o conhecimento sobre o uso de alternativos pode estar além dos limites das publicações científicas.

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