PCV2 em suínos: impacto produtivo, coinfecções e pontos chaves para controle

O circovírus suíno tipo 2 (PCV2) é um dos patógenos mais relevantes da suinocultura moderna. Longe de ser uma enfermidade uniforme, engloba um conjunto de síndromes clínicas que podem se manifestar em diferentes etapas do ciclo produtivo e afetar distintas funções fisiológicas do animal. Sob o termo “doença associada ao PCV2”, incluem-se a doença sistêmica (PCV2-SD), a infecção subclínica (PCV2-SI), os transtornos reprodutivos (PCV2-RD), o complexo respiratório suíno (PCV2-PRDC) e, com menor frequência, a doença dos desmamados pós-desmame (PMWS) ou a nefropatia com dermatite suína (PDNS).
Cada uma dessas manifestações pode comprometer o rendimento da granja, seja de forma aguda, com perdas evidentes em pouco tempo, ou de maneira crônica, gerando perdas produtivas difíceis de quantificar a olho nu. A apresentação clínica depende de múltiplos fatores, como a idade dos animais, seu estado imunitário, o momento de exposição ao vírus e a pressão de infecção na granja.
Um dos aspectos mais desafiadores da doença associada ao PCV2 é sua capacidade de atuar em sinergia com outros patógenos. Raramente se apresenta de forma isolada: sua interação com vírus como PRRSV ou com bactérias como Mycoplasma hyopneumoniae intensifica a severidade dos quadros clínicos, aumenta a inflamação sistêmica e reduz de maneira significativa o potencial produtivo. Essas coinfecções prejudicam a resposta imune, prolongam a duração da infecção e, em muitos casos, aumentam a disseminação viral no plantel.
Nas infecções subclínicas, a ameaça é silenciosa, mas igualmente onerosa. Embora os animais não apresentem sinais clínicos evidentes, o vírus afeta a conversão alimentar, atrasa o crescimento e reduz o peso final ao abate. Estudos demonstraram que até mesmo uma redução modesta no ganho de peso diário, mantida ao longo do ciclo, pode gerar perdas econômicas elevadas para a produção. Além disso, a infecção subclínica cria condições para manter o vírus circulando dentro da granja, facilitando a exposição contínua dos animais e dificultando as estratégias de controle.
A diversidade genética do PCV2 e sua capacidade de rápida evolução acrescentam complexidade ao seu controle, pois o vírus apresenta taxas de mutação comparáveis às de muitos vírus de RNA, permitindo o surgimento de variantes com vantagens adaptativas. Atualmente, o genótipo PCV2d consolidou-se como o predominante em grande parte do mundo, substituindo os genótipos históricos (a e b) e associando-se a casos de maior virulência. Essa evolução genotípica tem implicações diretas no controle da doença, uma vez que as diferenças na sequência da cápside podem influenciar a eficácia da resposta imune.
Resumo
- O PCV2 não é uma única doença, mas um conjunto de síndromes (PCV2-SD, PCV2-SI, PCV2-RD, PCV2-PRDC, PMWS, PDNS) que podem afetar diferentes etapas do ciclo produtivo e são suscetíveis a coinfecções.
- Impacto produtivo direto e indireto, desde perdas agudas até reduções silenciosas que afetam a conversão alimentar, o ganho de peso diário e o peso final ao mercado.
- Controle integral necessário, incluindo manejo sanitário, controle de estresse, manejo de coinfecções e vacinação adaptada ao contexto epidemiológico.
Referências
- Opriessnig T., et al. (2011). Porcine circovirus type 2: current status of knowledge. Vet. Microbiol.
- Segalés J. (2015). Best practice and future challenges for vaccination against porcine circovirus type 2. Vet. Microbiol.
- Saade G., et al. (2020). Coinfections and their impact on pig health. Porc. Health Manag.
- D’Annunzio R., et al. (2023). PCV2d in Latin American swine populations. Transbound. Emerg. Dis.
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