A evolução do Circovírus Suíno, sua trajetória e impacto na produção brasileira

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O circovirus suino tipo 2 ou PCV2 é o agente viral da circovirose, uma das principais doenças da suinocultura e foi diagnosticada no Brasil em 1999.

O circovirus suino tipo 2 ou PCV2 é o agente viral da circovirose, uma das principais doenças da suinocultura (Opriessnig et al. 2020). A doença, caracterizada por refugagem e lesões graves no tecido linfóide, foi diagnosticada no Brasil em 1999 (Ciacci-Zanella e Mores 2003). A síndrome multissistêmica do definhamento suíno (SMDS) é uma das manifestações clínicas mais prevalentes e graves da infecção por PCV2, o qual faz parte do Complexo de Doenças Respiratórias Suínas (PRDC) (Rech et al. 2018). A circovirose apresenta-se atualmente como Doença Sistêmica ou Subclínica.

A família Circoviridae inclui outros circovírus suínos, o PCV1, isolado pela primeira vez em cultivo celular em 1982 e tem patogênese desconhecida. Os demais, PCV2, PCV3 e PCV4, recém identificado, estão associados a doenças sintomáticas (Opriessnig et al. 2020). O PCV3 foi detectado em suínos brasileiros, sendo o genótipo PCV3a caracterizado (de Souza et al. 2021). O PCV2 evoluiu genotipicamente, sendo classificado em oito genótipos diferentes, incluindo PCV2a, b, c, d, e, f, g, h (Franzo e Segalés 2020). A primeira mudança ocorreu em 2003, do genótipo de PCV2a para PCV2b, o qual se tornou mais prevalente, sendo associado a quadro mais severos de circovirose. Em 2012, um mutante do genótipo PCV2b, denominado posteriormente como PCV2d, foi isolado em rebanhos suínos vacinados no mundo todo, inclusive no Brasil (Figura 1). Pesquisa de genótipos de rebanhos de suínos vacinados em 2019 caracterizaram PCV2b (11/26 amostras) e PCV2d (13/26) (Nascimento et al. 2021). Estudos tem demonstrado que genótipos variados de PCV2 (ou mesmo coinfecção por PCV3) podem circular em no mesmo suíno ou em rebanhos vacinados ou não. Assim, o monitoramento genotípico adequado é fundamental para acompanhar a eficiência de vacinas.

Figura 1: Em 2012, um mutante do genótipo PCV2b, denominado posteriormente como PCV2d, foi isolado em rebanhos suínos vacinados no mundo todo, inclusive no Brasil.

Para o controle do PCV2, é importante implementar medidas de biosseguridade e correção dos fatores de risco nas granjas de suínos, manutenção do equilíbrio imunológico dos rebanhos, da baixa carga microbiana (viral), boas práticas de conservação e administração de vacinas, evitando falhas vacinais e consequentemente maior gravidade da doença (Opriessnig et al. 2020).

PCV2 e PCV3 infectam suínos domésticos e javalis, estando presentes em rebanhos de diferentes padrões sanitários e sistemas de produção. Desde a descrição inicial da SMDS, outras infecções ou síndromes foram identificadas e associadas à infecção por PCV2, como a síndrome da dermatite e nefropatia suína (PNDS), pneumonias, enterites ou falhas reprodutivas (Segales 2012). Os critérios para o diagnóstico de infecção devem incluir doença clínica, lesões macro/microscópicas e a associação com a presença de ácido nucleico ou antígeno de PCV2 (Figura 2).

Figura 2: Manifestação clínica da doença.

Figura 3: Achados de necropsia de animais com doença clínica. 

Figura 4: Lesões microscópicas.

Figura 5: Os critérios para o diagnóstico de infecção devem incluir doença clínica, lesões macro/microscópicas e a associação com a presença de ácido nucleico ou antígeno de PCV2. 

Desde a introdução das vacinas, a doença clínica, a detecção do PCV2 e a viremia diminuíram muito na população suína, mas a maioria dos suínos permanece infectada com PCV2 em níveis abaixo do limite de sensibilidade dos testes de qPCR. Atualmente a circovirose é uma doença controlada, mas a infecção subclínica pode ocorrer. Assim como em outros países produtores de suínos, no Brasil, mesmo com vacinação quase massiva, a infecção por PCV2 ainda é diagnosticada e há risco de reemergência. Em necropsias de casos variados, já se observa novamente casos de lesões típicas da infecção por PCV2.

Pode-se pontuar vários fatores que causam a recrudescência no rebanho, ou a instabilidade imunológica, dentre eles fluxo de animais com diferentes padrões imunológicos, a reposição de leitoas externas como fonte de contaminação, presença de porcas virêmicas na gestação ou lactação que causam transmissão precoce para a leitegada. Outros fatores de instabilidade: limpeza inadequada, variabilidade da população (idade), movimentação de animais dentro da granja (misturas), transporte entre granjas (origens), sem contar a própria evolução de genótipos PCV2 (ou PCV3, PCV4 ou outros), a dinâmica de infecção e interações patógeno-hospedeiro (coinfecções). Recomenda-se que cada granja desenvolva seu próprio programa de vacinação de acordo com seus desafios (Oliver-Ferrando et al. 2016), assim, a vacinação de leitões deve combinar baixos níveis de anticorpos maternos com o desenvolvimento de imunidade protetora contra o PCV2 através da vacina antes da infecção natural. Deve-se lembrar que a circovirose é uma doença multifatorial e que o PCV2 é um agente imunossupressor. O equilíbrio imunitário do rebanho é primordial, principalmente nas fêmeas suínas.

Autores: Janice Zanella e Rovian Miotto.

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