Probióticos na nutrição de porcas: impacto na saúde e desempenho de leitões lactentes
Samilly Pedroni Altoé
Roberta Pinheiro dos Santos
Vinicius Cantarelli
Universidade Federal de Lavras - UFLA
Os avanços genéticos que elevaram a prolificidade da fêmea suína não foram acompanhados, na mesma proporção, pelo desempenho dos leitões. Entre as estratégias para minimizar esse descompasso, destaca-se a suplementação nutricional, por sua praticidade de aplicação e por representar um dos pontos mais importantes para manter a produtividade e a lucratividade (Domingos, 2024). Dentre as alternativas emergentes, a inclusão de probióticos tem se mostrado uma ferramenta promissora, contribuindo para a sustentabilidade da produção e redução de antimicrobianos.
Os probióticos são compostos por bactérias benéficas que colonizam o intestino, competindo com bactérias patogênicas por nutrientes e sítios de adesão, além de modular o sistema imunológico e reduzir a inflamação (Choudhury, 2022; Lin, 2017, Mayer 2015). A manutenção do equilíbrio da microbiota, é essencial para o desempenho dos animais e consequentemente, para a rentabilidade do sistema de produção (Roselli, 2009).
O Bacillus subtilis (B. subtilis) é utilizado para melhorar o bem-estar diminuindo o desconforto dos animais e reduzindo o risco de doenças gastrointestinais (Guo, 2018; Jacquier, 2019; Whelan, 2019; Chen, 2020). Paralelamente, Bacillus amyloliquefaciens (B. amyloliquefaciens) produz enzimas que melhoram o aproveitamento dos nutrientes, contribuindo para o melhor desempenho e saúde intestinal (Lee, 2008; Tang, 2017; Blavi, 2019, Huting, 2023). Este estudo comprovou a eficácia da suplementação alimentar de matrizes suínas com Bacillus subtilis 541 e Bacillus amyloliquefaciens 516, fornecidos via ração durante as fases de gestação e lactação, promovendo melhorias no desempenho e nos parâmetros de saúde de porcas e seus leitões lactentes.
A suplementação do probiótico composto por Bacillus subtilis 541 e Bacillus amyloliquefaciens 516 na dieta das porcas resultou em benefícios significativos para as matrizes e para os leitões:
As porcas suplementadas com B. subtilis 541 e B. amyloliquefaciens 516 apresentaram aumento significativo na produção de leite de 0,7kg/dia, ou seja, acréscimo de 9% na produção média diária de leite, o que favoreceu diretamente o desenvolvimento dos leitões (Figura 1). Esses resultados estão em concordância com estudos anteriores (Hasan et al., 2018), que atribuem o efeito dos probióticos ao estímulo de uma microbiota benéfica, elevando a produção de ácidos graxos de cadeia curta e aumentando a disponibilidade de energia para a produção de leite. Esse acréscimo energético também pode reduzir o intervalo entre desmame e a nova concepção, melhorando o desempenho reprodutivo no ciclo subsequente.
Figura 1 - Produção de leite de fêmeas suínas (kg/dia) submetidas a dieta basal (controle) ou suplementada com probiótico contendo 2,75 × 10⁹ UFC/g de Bacillus subtilis 541 e Bacillus amyloliquefaciens 516 durante gestação e lactação.
Os leitões das porcas que foram suplementadas com as cepas probióticas tiveram o período de lactação mais longo (p < 0,001) e apresentaram maior peso ao desmame (5,143 kg) em comparação ao grupo controle (4,812 kg), com diferença significativa (p < 0,001). Esse ganho representa um aumento de 331 g por leitão. Entretanto, o maior ganho de peso diário (p < 0,007) deste grupo permaneceu mesmo após os ajustes necessários. Assim, com o ajuste de peso para o 21º dia de idade, eliminou-se o efeito dos diferentes dias de lactação entre os grupos, permitindo a comparação precisa do efeito do probiótico no ganho de peso médio diário dos leitões. O melhor desempenho dos leitões está relacionado ao papel protetor dos probióticos no epitélio intestinal, onde competem com bactérias patogênicas por nutrientes e locais de absorção (García et al, 2022), mostrando claramente o impacto do suplemento na nutrição e na imunidade.
Além disso, houve redução significativa no uso total de medicamentos pelos leitões de matrizes suplementadas com as cepas probióticas do estudo, com diminuição de 5,9% nos tratamentos realizados. Especificamente, os tratamentos para artrite reduziram de 2,8% para 2,1% dos leitões, uma redução relativa de 25% (p < 0,05), demonstrando a melhora na saúde geral e robustez imunológica dos animais.
Em termos microbiológicos, notou-se número maior de Bacillus sp. nas fezes das porcas suplementadas e de seus leitões aos 7 e 17 dias de idade (p < 0,05), mostrando que houve transferência vertical da microbiota da porca para os leitões e demonstrando que a suplementação materna é uma forma eficaz de colonização probiótica no início da vida do leitão (Figura 2a).
Figura 2a – Contagem (log₁₀ UFC/g) de Bacillus sp., Escherichia coli e Clostridium perfringens nas fezes de leitões lactentes aos 7 e 17 dias de vida, provenientes de matrizes suínas alimentadas com dieta basal (controle) ou suplementada com probiótico durante gestação e lactação.
Outrossim, foi observado um aumento significativo de Bacillus spp. nas fezes dos leitões aos 17 dias, acompanhado pela redução nas contagens de coliformes totais, Escherichia coli e Clostridium perfringens. (Figura 2b). Esse efeito ocorreu devido aos mecanismos de ação específicos das cepas probióticas utilizadas no estudo, incluindo a modulação das populações bacterianas, dificultando a colonização e proliferação de bactérias patogênicas e promovendo o restabelecimento da microbiota mais saudável.
A leitegada das fêmeas que receberam suplementação com o probiótico apresentaram menores níveis de interleucina 6 (IL-6) no íleo. Essa citocina é fundamental na modulação da resposta imune intestinal, fortalecendo a barreira epitelial e estimulando a ativação de neutrófilos e a produção de Imunoglobulinas A (IgA) por células B, essenciais na defesa contra patógenos entéricos. A produção de IL-6 ocorre de forma rápida e transitória em resposta a infecções ou lesões, promovendo a resposta inflamatória, a produção de células sanguíneas e outras reações imunológicas. No entanto, uma resposta imune exacerbada e hipervigilante não é esperada quando o animal não está em desafio, como nas leitegadas das fêmeas suínas suplementadas com as cepas probióticas nesse estudo. Quando há menor exposição aos patógenos, como neste caso, o excesso de IL-6 pode representar uma ativação imune desnecessária, de forma que a energia mobilizada para a reação imunológica poderia estar sendo convertida em desempenho.
Figura 2b – Contagem (log₁₀ UFC/g) de Escherichia coli e Clostridium perfringens nas fezes de leitões lactentes aos 7 e 17 dias de vida, provenientes de matrizes suínas alimentadas com dieta basal (controle) ou suplementada com probiótico durante gestação e lactação.
A suplementação da dieta de porcas com Bacillus subtilis 541 e Bacillus amyloliquefaciens 516 além de melhorar a produção de leite, promoveu outros benefícios significativos, incluindo a redução nos níveis de estresse 6 dias pós-parto, evidenciada pela diminuição na concentração de cortisol no soro sanguíneo (0,600 µg/dL no grupo suplementado vs. 1,110 µg/dL no grupo controle), com diferença significativa (p < 0,001), contribuindo para o bem-estar das fêmeas (Figura 3). Esses efeitos positivos se refletem nos leitões, resultando em maior ganho de peso, melhor desenvolvimento da morfologia intestinal e resposta imunológica mais eficiente. A modulação da microbiota intestinal favorece um ambiente intestinal mais equilibrado e maior resiliência no período de desmame.
Figura 3 - Índice de cortisol 2 dias antes do parto e 6 dias após parto de fêmeas suínas alimentadas com dieta basal suplementada com probiótico contendo 2,75 × 10⁹ UFC/g de Bacillus subtilis 541 e Bacillus amyloliquefaciens 516 durante gestação e lactação.
Tabela 1 - Desempenho de leitões na maternidade provenientes de fêmeas suínas alimentadas com dieta basal (controle) ou suplementada com probiótico contendo 2,75 × 10⁹ UFC/g de Bacillus subtilis 541 e Bacillus amyloliquefaciens 516 durante gestação e lactação.
Dessa forma, a inclusão estratégica de cepas probióticas específicas na dieta das porcas representa uma ferramenta eficiente e direcionada para os desafios das fêmeas hiperprolíficas e suas leitegadas.
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