Panorama do Consumo de Carnes no Brasil
O consumo de carnes no Brasil passou por transformações significativas nas últimas décadas, com a carne suína ganhando destaque especial a partir de 2018/2019. Segundo dados compilados pelo especialista Osler Desouzart, o consumo per capita de carne suína atingiu 19,00 kg em 2024, consolidando uma tendência de crescimento que vem se fortalecendo nos últimos anos, apesar de uma leve queda em relação aos 19,46 kg de 2023 e 19,55 kg de 2022.

Esta evolução representa uma mudança estrutural no mercado brasileiro de proteínas animais, onde historicamente a carne suína era consumida principalmente em datas festivas e na forma de embutidos. Hoje, ela está integrada ao menu semanal das famílias brasileiras e ganhou espaço significativo em churrascos, com cortes como costela, pancetta e picanha suína tornando-se presenças frequentes.
Fatores que Impulsionaram o Crescimento
O avanço da carne suína no mercado brasileiro foi impulsionado por múltiplos fatores convergentes:
- Crise da Peste Suína Africana (PSA) na China: A partir de 2018/2019, o episódio da PSA na China causou mudanças significativas no eixo de demanda do mercado internacional de carnes, elevando os preços internacionais de todas as proteínas, particularmente da carne bovina no Brasil. Isso abriu espaço para que a carne suína se tornasse uma alternativa mais acessível e atraente.
- Campanha "Um Novo Olhar para a Carne Suína": Liderada pela ABCS (Associação Brasileira dos Criadores de Suínos), esta iniciativa teve papel decisivo em educar os consumidores brasileiros sobre os benefícios nutricionais da carne suína, combatendo o preconceito enraizado de que seria sinônimo de gordura.
- Inovação em Cortes e Embalagens: A indústria lançou cortes suínos em embalagens com duas porções (≤ 500g para cortes sem osso e ≥ 700g para cortes com osso), devidamente temperados e prontos para ir ao forno. Alguns desses cortes são embalados em sacos para cozimento, facilitando o preparo para consumidores com pouca experiência culinária.
- Mudanças Demográficas: A nova realidade demográfica brasileira, com aumento de domicílios unipessoais (de 12,2% em 2012 para 18% em 2023) e redução do tamanho médio das famílias (de 4,51 pessoas por domicílio em 1980 para 2,79 em 2022), favoreceu o consumo de porções menores e de preparo mais simples.
Contexto do Mercado de Carnes
O consumo de carnes no Brasil é liderado pela carne de frango, que atingiu 47,06 kg per capita em 2024, recuperando-se após um período de estagnação em torno de 44-45 kg desde 2015. A carne bovina ocupa a segunda posição, com 35,10 kg per capita em 2024, também apresentando crescimento consistente desde 2021.
A análise comparativa do crescimento percentual entre 1997 e 2024 revela dados impressionantes: - Carne de frango: aumento de 141,66% no consumo per capita - Carne bovina: aumento de 83,41% no consumo per capita - Carne suína: aumento de 235,10% no consumo per capita (estimativa baseada nos dados disponíveis).
Estes números demonstram que, proporcionalmente, a carne suína foi a que mais cresceu em termos de consumo per capita no período analisado, embora ainda represente o menor volume absoluto entre as três principais proteínas animais.
Desafios e Oportunidades para o Setor Suinícola
Apesar do crescimento expressivo, o setor suinícola ainda enfrenta desafios importantes:
- Incertezas Demográficas: As inconsistências nos dados do Censo Demográfico de 2022 geram dificuldades para projeções precisas de consumo, exigindo o uso de fontes alternativas como as estatísticas da ONU.
- Insegurança Alimentar: Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE mostram que 64,5 milhões de brasileiros estavam em situação de insegurança alimentar em 2023, o que pode impactar o consumo de proteínas animais.
- Aumento nos Preços dos Alimentos: A elevação atual nos preços dos alimentos pode ter impacto negativo no consumo de todas as carnes, não apenas no Brasil, mas em todos os países em desenvolvimento.
Por outro lado, as oportunidades são igualmente significativas:
- Diversificação de Produtos: Há espaço para inovação em novos cortes e apresentações que atendam às necessidades das famílias menores e consumidores solteiros.
- Educação do Consumidor: Continuar o trabalho de desmistificação sobre a carne suína, destacando seus benefícios nutricionais e versatilidade culinária.
- Exportações: O Brasil tem potencial para expandir sua participação no mercado internacional de carne suína, aproveitando sua estrutura produtiva e status sanitário.
Perspectivas Futuras
As tendências demográficas e de consumo indicam que a carne suína continuará ganhando espaço na mesa dos brasileiros. A redução do tamanho das famílias, o aumento de domicílios unipessoais e as mudanças nos valores das gerações Y e Z têm um impacto profundo na demanda, decretando o que alguns especialistas chamam de "morte do quilograma e do corte de carne" em favor de porções menores e de preparo mais conveniente.
Para o setor suinícola, adaptar-se a essas mudanças significa não apenas garantir sua participação no mercado interno, mas também fortalecer sua posição como fornecedor global de proteína animal de qualidade, aproveitando a crescente demanda internacional por alimentos seguros e sustentáveis.
Maio de 2025 / Fonte: Análise baseada no documento "Per Capita Consumption of the Main Meats in Brazil 1997-2024" de Osler Desouzart.