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A Proposição 12 e os regulamentos europeus de bem-estar animal podem ter impacto na América Latina?

Nos últimos anos, as novas disposições sobre bem-estar animal nas granjas de suínos avançaram de forma constante nos principais mercados mundiais, daí a importância de antecipar as possíveis consequências que nossa região pode enfrentar.

Como resultado de uma pergunta que surgiu no painel de palestrantes do CIPORC 2022, onde me perguntaram sobre os efeitos econômicos das novas regulamentações sobre bem-estar animal que estão em andamento nos Estados Unidos e na Europa e suas implicações para a suinocultura latino-americana, resolvi investigar a fundo e tentar elucidar os efeitos que eventualmente poderiam afetar nossa região. Para começar, vamos dar uma olhada no que tratam esses regulamentos e as possíveis consequências de sua implementação no nível local.

Estados Unidos

Os efeitos econômicos da implementação da proposição 12 preocupam a grande maioria das organizações da indústria americana, como o NPPC (National Pork Producers Council), que afirmou que isso implicaria um ônus econômico muito alto para os produtores de suínos que devem renovar ou expandir sua instalações existentes para atender aos novos requisitos.

Por outro lado, em termos de preços ao consumidor, seria de se esperar que estes subissem significativamente no interior da Califórnia, tendo em vista o déficit de abastecimento que seria gerado, já que pouquíssimas granjas atendem atualmente aos requisitos da norma. E ainda mais considerando que o referido estado participa com cerca de 15% do consumo interno de carne suína e que representa mais de 10% da produção nacional.

E é que essa medida, que aparentemente tem alcance local, também afetará indiretamente outros estados e até países como o México que são fornecedores, já que é proibida a venda de carne suína de animais criados em condições fora dos padrões estabelecidos sem importar seu estado ou país de origem; o que pode gerar certo desequilíbrio e rearranjo do mercado ao provocar déficit de produção e abastecimento na Califórnia e excesso de carne suína nos demais estados ou países que atuam como fornecedores.

Europa

Sindicatos como a Anprogapor e diferentes analistas concordam que o esforço econômico necessário para cumprir as futuras normas de bem-estar animal não estaria ao alcance de todos os suinocultores, o que faria com que a produção de suínos diminuísse consideravelmente e se concentrasse nas grandes empresas, favorecendo uma realocação da atividade suína e o encerramento de muitas pequenas e médias granjas, dado o aumento significativo e insustentabilidade dos custos de produção.

No entanto, dada a limitação da oferta interna, acredita-se que haverá um alto risco de que as importações de terceiros aumentem para compensar o déficit de carne suína no mercado local, já que dentro do que está sendo considerado, não importa se cumprem ou não os regulamentos europeus.

Paradoxalmente, estima-se que a implementação destas medidas de bem-estar animal aumentaria o impacto ambiental, dada a iminente redução de produções que hoje já são eficientes em termos de emissões de CO2, situação que contribuiria para o aumento das emissões de outros países. que acabariam por aumentar suas produções para suprir a demanda europeia. Por fim, todas essas consequências acarretariam naturalmente ao consumidor final, pois dificultaria o acesso à carne suína, devido aos seus altos preços.

Possíveis efeitos na América Latina

Inicialmente, poderíamos pensar que essas normas de bem-estar animal estariam longe de serem apresentadas, debatidas e aprovadas em nossa região, e que o que aconteceria nos Estados Unidos e na Europa não deveria afetar diretamente a dinâmica da atividade suinícola na LATAM (América Latina). Porém, lembremos que vivemos em um mundo globalizado e que eventualmente estaríamos diante de uma espécie de “nova barreira” que limitaria o comércio, agora aludindo à questão do bem-estar animal.

Assim, um dos efeitos imediatos, além de uma maior pressão e oferta de produtos americanos tentando entrar em nossos mercados, tornaria ainda mais difícil para a carne suína latino-americana entrar em mercados estrangeiros que exigem como requisito o acesso que o produto vem de locais que atendem ao padrão de bem-estar animal, como o que está acontecendo atualmente na Califórnia.

Diante disso, o que também pode acontecer é que aquelas grandes empresas cujo core business é o mercado externo, passem a fazer investimentos significativos em suas instalações para atender às normativas estabelecidas visando às exigências do mercado internacional, pelo que podemos constatar no futuro, "granjas de bem-estar" na LATAM que aos poucos permeariam a necessidade de adaptação de outras granjas em nível geral.

O mais importante disso é entender que esse tipo de legislação previdenciária que é aprovada nos países líderes indiretamente tem alcance global na medida em que se torna um requisito adicional para acessar seus mercados.

Conclusão

É sabido que a questão do bem-estar animal na suinocultura tem muitas arestas, e o debate está aberto para discutir se essas novas regulamentações ressoam mais com as exigências de limitar direta ou indiretamente a produção e os fluxos comerciais para promover outros produtos substitutos de carne. Ou se realmente deseja alcançar um melhor bem-estar na pecuária, mesmo sabendo que dentro dos atuais parâmetros de produção, esta questão recebe a importância que merece.

Por enquanto, em nível latino-americano devemos estar muito atentos, já que esta questão é uma tendência que está avançando aos trancos e barrancos no mundo e que está muito perto de começar a impactar nossa região, por isso devemos nos antecipar sobre os possíveis efeitos que enfrentaríamos Seja por questões políticas, comerciais ou mercadológicas, a suinocultura terá uma nova batalha pela sua sobrevivência.

Por: Charly the Economist

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