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Sempre seremos salvos pela China?!

Precisamos de reflexão, ponderação, racionalidade e bom senso nas decisões de produção para ajudar a colocar a cadeia de suínos novamente na zona de lucro.

O título do artigo bem poderia ser “Revisitando as curvas de oferta e de procura propostas em 2020.” Só que ele seria muito morno. Esse, escolhido acima, tem mais a cara de manchete e traz mais impacto.

Mas, sugiro a leitura do que foi escrito em 2020, para se ter mais clareza do cenário que estamos vivendo agora em 2023. “Oferta x procura: como essa equação simples determina a complexidade do mercado” foi o título escolhido lá, que procurava, através dos movimentos previsíveis e esperados nos antecipar alguma coisa do futuro.

O mercado de suínos no Brasil e do mundo, estava didaticamente sob os efeitos do crescimento da demanda pela carne suína vinda da Ásia, principalmente da China.

Para facilitar o entendimento e as conclusões, mostramos que o primeiro evento da sequência foi o estímulo em 2019 que o aumento das exportações provocou. Ele deslocou a curva de demanda que arrastou os preços para cima: D1 subindo para D2 e P1 subindo para P2 (figura 1).

Figura 1. Figura para auxiliar no entendimento e conclusões. Siglas: P (preço), D (demanda), S (oferta), Q (quantidade/produção) e E (momento).
Figura 1. Figura para auxiliar no entendimento e conclusões. Siglas: P (preço), D (demanda), S (oferta), Q (quantidade/produção) e E (momento).

Na sequência, já em meados de 2020, o bom preço traria o aumento da oferta. O estado maior produtor do Brasil que é Santa Catarina, no seu segundo trimestre já crescia à exorbitante taxa de 15,96% em relação ao mesmo trimestre de 2019 e 11,60% no comparativo anual. Era S1 crescendo para S2 com P2 caindo para P3 (o S é de oferta em inglês, “suply”. Perdão pelo idioma, mas foi a melhor imagem conseguida para ilustrar).

A partir daí sugeríamos que a oferta seguiria crescendo de S2 para S3 pela inércia natural do sistema de produção, levando o novo equilíbrio para um preço mais baixo, caindo de P3 para P4, sendo esse momento representado pelo ano de 2021.

O grande medo era o possível “recuo da curva de demanda (D2 volta para D1), depois de a oferta ter crescido (S1 está em S3)”, trazendo o preço para P5.

E nós tivemos apenas uma “amostra” dessa possibilidade que foi o recuo das compras chinesas da nossa carne suína entre novembro de 2021 e maio de 2022, produzindo o trágico início do ano passado (gráfico 1).

Gráfico 1. Exportações de carne suína brasileira para China e Hong Kong. Número em toneladas. Fonte: SECEX – Secretaria de Comércio Exterior.
Gráfico 1. Exportações de carne suína brasileira para China e Hong Kong. Número em toneladas. Fonte: SECEX – Secretaria de Comércio Exterior.

Por sorte ou providência, o recuo da curva de demanda foi interrompido em junho de 2022 vindo o ano todo totalizar exportações praticamente idênticas ao 2021 (gráfico 2).

Gráfico 2. Exportações anuais brasileiras de carne suína in natura em toneladas. Fonte: SECEX – Secretaria de Comércio Exterior.
Gráfico 2. Exportações anuais brasileiras de carne suína in natura em toneladas. Fonte: SECEX – Secretaria de Comércio Exterior.

Para introduzir o debate final, revisitamos o parágrafo abaixo reproduzindo literalmente do texto original: “para finalizarmos, com analogias claras em relação aos movimentos de demanda de carne suína brasileira pela China, o momento inicial (E1) foi o primeiro semestre de 2019, o momento 2 (E2) o segundo semestre de 2019. Os dados de crescimento de abates divulgados pelo IBGE semana passada nos sugerem que estamos caminhando para E3, respondendo com aumento de produção. O momento E4 ainda não chegou e o E5 é constantemente discutido: será o recuo nas importações de carne do mundo inteiro pela China quando retomarem sua produção interna de carne suína.”

Por razões que não temos espaço para debater aqui, o que aconteceu até agora é que a China reduziu as suas compras de carne suína do mundo inteiro e praticamente manteve as do Brasil (gráfico 3).

Gráfico 3. Redução de compra pela China de carne suína no mundo, mas manteve as do Brasil. Números em toneladas. Elaborado pelo autor com dados da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior e OD Consulting).
Gráfico 3. Redução de compra pela China de carne suína no mundo, mas manteve as do Brasil. Números em toneladas. Elaborado pelo autor com dados da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior e OD Consulting).

Nós, que entre 2018 e 2021, fomos responsáveis por um número aproximado de 12% das suas compras passamos para mais de 24%! Imagine o ano de 2022 do nosso mercado interno sem esse volume de compras escoado para a Ásia! (gráfico 4).

Gráfico 4. Percentual de carne suína brasileira no total importado pela China. Elaborado pelo autor com dados da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior) e OD Consulting.
Gráfico 4. Percentual de carne suína brasileira no total importado pela China. Elaborado pelo autor com dados da SECEX (Secretaria de Comércio Exterior) e OD Consulting.

Se isso se mantiver, e o novo possível recrudescimento da Peste Suína Africana por lá, relatado agora em março, produzir mais demanda por nossa carne, poderemos mais uma vez ser salvos pela China.

O acaso vindo da Ásia salvou a suinocultura brasileira primeiro em 2018, limitou as perdas em 2022 e pode salvar novamente em 2023.

Para isso precisamos de reflexão, ponderação, racionalidade e bom senso nas decisões de produção. Para essa possível nova oportunidade, ajudar a colocar a cadeia de suínos novamente na zona de lucro.

É disso que todos precisamos nesse momento e estamos torcendo juntos!

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