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Vacinação contra Salmonella em suínos: o que se pode esperar?

Será que a vacinação contra a Salmonella em suínos é tão fundamental como é nas aves?

Atualmente a infecção por Salmonella em suínos é considerada um problema de saúde pública. A carne e seus produtos procedentes de carcaças suínas contaminadas por Salmonella são as principais causas das infecções humanas associadas ao suíno, e os dejetos que eliminam Salmonella no abatedouro o principal fator de contaminação destas carcaças. O seu controle na suinocultura é complexo, com atuações que vão desde o aumento das medidas de higiene e biossegurança à mudanças no manejo dos animais ou à introdução de dietas ou aditivos na água ou na ração que ajudem a controlar a infecção a nível intestinal (alimentação líquida fermentada, prebióticos, probióticos, ácidos orgânicos, óleos essenciais, etc.).

No entanto, nenhuma destas medidas por si só parece ser eficiente e requer sempre a sua aplicação em conjunto com as outras, com melhores ou piores resultados. A vacinação começa a aparecer como uma nova ferramenta que poderá contribuir para o controle deste problema nas propriedades. De fato, a vacinação contra a Salmonella tem sido a estratégia chave na redução da prevalência da infecção por Salmonella em galinhas poedeiras e reprodutoras. Atualmente a prevalência de infecção em aves encontra-se próxima de 0%, sendo o objetivo final a erradicação nas produções. Será que a vacinação contra a Salmonella em suíno é tão eficiente como foi nas aves?

A realidade é que ainda que os fatores de risco da salmonelose são semelhantes para aves e suínos (deficiente limpeza e desinfecção entre lotes, contaminação da ração e da água, o estado sanitário dos animais, contaminação cruzada por botas e utensílios contaminados, densidade animal, presença de vetores como roedores, escaravelhos, aves selvagens e moscas, contaminação durante o transporte para o abatedouro, etc.), tanto a dinâmica de infecção nas aves como os sistemas produtivos diferem substancialmente dos suínos. A transmissão vertical de Salmonella através do ovo, um dos principais fatores de risco a ser considerado nos programas de erradicação nas aves, tem sido amplamente anulada pela eficácia de uma correta vacinação de galinhas reprodutoras e de produção, bem como, de frangos livres de Salmonella. O controle rigoroso (biossegurança) dos galpões onde são criados estes frangos é ponto fundamental do sucesso. Em resumo, a vacinação tem sido essencial, junto com a biossegurança e o manejo nos programas nacionais de controle de Salmonella em aves.

A situação nos suínos é diferente. O ciclo produtivo do suíno é muito mais longo, com mais fases produtivas e é muito mais difícil o controle da biossegurança devido ao maior movimento de animais entre galpões/propriedades. E mesmo que não exista transmissão vertical, os leitões lactantes são infectados com Salmonella (procedente ou das fezes da mãe ou da contaminação ambiental da produção) e posteriormente também durante as fases de crescimento e terminação.

A vacina contra Salmonella pode ser utilizada com a intenção de controlar a doença clínica ou para reduzir a excreção da bactéria em animais infectados sub-clinicamente. Os estudos mostram que, em geral, a vacinação é eficiente para o controle de surtos clínicos associados aos sorotipos mais patogênicos, S. Choleraesuis e S. Typhimurium (e seguramente a sua variante monofásica). Mas a situação muda quando o que se quer é tentar evitar a excreção no abatedouro com o objetivo de proteger os consumidores da infecção. Neste caso, são muitas as estirpes e sorotipos a controlar e, frequentemente, pertencem a grupos antigênicos diferentes do antígeno vacinal, surgindo problemas de proteção cruzada. Por isso, neste último caso, o foco da vacinação foi posto no controle da excreção de S. Typhimurium e a sua variante monofásica, os sorotipos de maior carácter zoonótico associados com o suíno.

Sendo assim, primeiramente, terá que ser determinado se estes sorotipos circulam na propriedade e, nesse caso, planejar uma estratégia de vacinação. São várias as que podem ser aplicadas em função do tipo de produção, a idade e as etapas. Por exemplo, vacinação prévia ao parto para reforçar a imunidade passiva em leitões através do colostro, vacinação de leitões lactantes para reduzir a infecção após o desmame ou inclusive na fase de engorda, ou vacinação dos animais no crescimento.

A avaliação da eficiência destas vacinas em suíno não é fácil. Ainda que sejam numerosos os trabalhos publicados a respeito, os resultados obtidos foram muito variáveis. Em um dos trabalhos mais recentes (Smith et al., 2017), a vacinação sistemática de reprodutoras com uma vacina viva reduziu a prevalência de Salmonella em produções de ciclo completo, em todas as suas fases de produção e, especialmente, nos animais destinados ao abate. Também foi observada uma redução da contaminação ambiental por este agente, mas não é possível pensar na eliminação do agente das propriedades se não forem aplicadas outras medidas de controle complementares. Outro trabalho (de la Cruz et al., 2017), que analisou um grande número de estudos prévios através de técnicas de meta-análises, chegou à conclusão de que a maioria dos estudos de vacinação encontram um efeito benéfico, ainda que variável, independentemente do tipo de vacina (viva ou morta) e do protocolo utilizado para a vacinação (dose, idade, etc.). De acordo com este estudo, a vacinação reduzia cerca de 28,6% (95% CI: 22,4 a 34,7) o número de amostras (principalmente fezes) com cultivo positivo.

A conclusão geral que podemos ter é que a vacinação contra a Salmonella em suínos deve ter uma abordagem ligeiramente diferente da que teve em avicultura, por não ser capaz de alcançar as mesmas porcentagens de redução de prevalência. Ela se torna então uma estratégia adicional dentro de um programa de controle na propriedade, onde o número de ações a realizar para reduzir a pressão de infecção dependerá da prevalência na e dos sorotipos presentes.

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