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Ficha técnica: Farelo de soja (44-48% PB)

Valor nutricional (comparação de tabelas), produção, comércio e estudos mais recentes sobre o farelo de soja.

Farinha de soja. United Soybean Board
Farinha de soja. United Soybean Board

Introdução

A soja (Glycine max) é uma leguminosa da família Fabaceae classificada dentro do grupo das oleaginosas. Trata-se de uma planta de origem asiática, autógama e sensível ao fotoperiodo. A autogamia permitiu o desenvolvimento das variedades OGM nos E.U.A. Existem variedades de ciclo curto (90 dias) a longo (200 dias). Ainda que não seja permitido o cultivo na UE das variedades OGM, está permitida a sua comercialização.

O farelo de soja é obtido como um subproduto da extração do óleo de soja, sendo uma fonte de proteína e energia de alta qualidade para a alimentação animal. O farelo de soja frequentemente utilizados para a fabricação de ração procedem do processo de extração por pressão e solventes, com um tratamento térmico da semente de soja, dando farelo com uma alta concentração de proteína (+/-48%). Com o incremento parcial da casca são obtidas as diferentes gradações de proteína frequentemente utilizadas comercialmente.

É um ingrediente de alto valor alimentar já que representa a principal fonte de proteína e aminoácidos essenciais para os animais por ser rica em lisina, ainda que relativamente deficitária em metionina e triptofano. No entanto, a soja contém uma grande quantidade de fatores antinutricionais termolábeis (antitrípsicos, urease e lecitinas, que podem ser reduzidos após aplicar um correto processamento térmico) e termoestáveis (glicinina e ß-conglicinina, que podem levar a uma resposta imunológica, danificar a mucosa intestinal e produzir diarreia em animais jovens se a soja não for corretamente tratada).

Produção e comércio

1. Grão de soja

Figura 1. Evolução da produção mundial de grão de soja nos principais países produtores. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 1. Evolução da produção mundial de grão de soja nos principais países produtores. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 2. Evolução dos principais exportadores de grão de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 2. Evolução dos principais exportadores de grão de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 3. Evolução dos principais importadores de grão de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 3. Evolução dos principais importadores de grão de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.
2. Farelo de soja

Precisamos destacar que existem países com baixa produção de soja mas elevada produção de farelo de soja, como é o caso da União Europeia. Isto ocorre pois grande parte do grão de soja importado é processado transformando-se em farelo.

Figura 4. Evolução da produção mundial de farelo de soja nos principais países produtores. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 4. Evolução da produção mundial de farelo de soja nos principais países produtores. Fonte: 333, FAS-USDA.

Figura 5. Evolução dos principais exportadores de farelo de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 5. Evolução dos principais exportadores de farelo de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 6. Evolução dos principais importadores de farelo de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.
Figura 6. Evolução dos principais importadores de farelo de soja por período. Fonte: 333, FAS-USDA.

Estudo comparativo dos valores nutricionais

Os sistemas utilizados na comparação são a FEDNA (Espanha), o CVB (Holanda), o INRA (França), o NRC (E.U.A.) e o do Brasil.

FEDNA (44) FEDNA (48) CVB (44) CVB (48) INRA (46) INRA (50) NRC (44) NRC (48) BRASIL (44) BRASIL (47)
MS (%) 88,0 87,9 87,7 87,2 87,6 87,6 88,8 89,0 88,1 88,8
Valor energético (kcal/kg)
Proteína Bruta (%) 44,0 48,5 42,6 48,5 43,3 47,2 43,9 47,7 44,1 48,1
Extrato Etéreo (%) 1,9 1,9 2,2 1,9 1,7 1,5 1,2 1,5 1,1 1,1
Fibra Bruta (%) 5,9 3,2 6,0 3,7 6,1 3,9 6,6 3,9 5,4 4,6
Amido (%) 0,1 0,5 0,9 0,8 0,0 0,0 1,9 1,9 1,9 3,0
Açúcares (%) 7,0 7,0 9,1 10,3 8,5 9,2 - - - -
EM crescimento 3070 3265 - - 3170 3290 3382 3294 3118 3253
EL crescimento 1950 2025 1964 2048 1920 2000 2148 2087 1947 2043
EL fêmeas 2110 2195 1964 2048 2070 2120 2148 2087 2036 2120
Valor proteico
Digestibilidade proteína bruta (%) 85 87 86 88 87 90 85 87 90 91
Composição Aminoácidos (%)
Lys 6,08 6,16 6,20 6,20 6,10 6,10 6,29 6,20 6,17 6,05
Met 1,35 1,46 1,40 1,40 1,40 1,40 1,37 1,38 1,34 1,31
Met + Cys 2,83 2,97 2,90 2,90 2,90 2,90 2,92 2,85 2,81 2,83
Tre 3,91 3,96 3,90 3,90 3,90 3,90 4,01 3,90 3,92 3,89
Trp 1,30 1,35 1,30 1,30 1,30 1,30 1,34 1,38 1,41 1,39
Ile 4,45 4,56 4,60 4,60 4,60 4,60 4,46 4,48 4,69 4,64
Val 4,70 4,90 4,80 4,80 4,80 4,80 4,40 4,67 4,89 4,76
Arg 7,22 7,30 7,50 7,50 7,40 7,40 7,22 7,23 7,38 7,26
Digestibilidade ileal estandartizada (%)
Lys 88 91 88 90 90 92 88 89 90,1 91,2
Met 89 92 89 91 91 93 89 90 91,8 92,5
Met + Cys 86 90 85,5 87,5 89 91 87 87 90,3 90
Tre 85 88 84 86 86 89 83 85 86,4 87,5
Trp 86 90 87 89 89 91 90 91 89,2 90,3
Ile 87 90 87 89 89 91 88 89 89,4 90,2
Val 86 90 86 88 88 90 80 87 88,1 89,5
Arg 92 95 92 94 94 95 92 94 94 94,7
Minerais (%)
Ca 0,29 0,29 0,31 0,30 0,34 0,34 0,35 0,33 0,24 0,35
P 0,61 0,65 0,66 0,64 0,62 0,62 0,64 0,71 0,59 0,59
Pfítico 0,40 0,43 0,46 0,45 0,37 0,37 0,36 0,38 0,37 0,36
Pdisponível 0,19 0,21 - - - - - - 0,22 0,23
Pdigestível 0,24 0,26 0,28 0,27 0,20 0,20 0,25 0,28 0,27 0,27
Na 0,02 0,02 0,02 0,02 0,00 0,03 0,01 0,08 0,02 0,02
Cl 0,02 0,06 0,04 0,04 0,04 0,09 0,05 0,49 0,05 0,05
K 2,20 2,20 2,19 2,18 2,12 2,11 1,96 2,24 1,83 2,11
Mg 0,27 0,27 0,30 0,29 0,29 0,29 0,29 0,27 - 0,23

ED = Energia digestível; EM = Energia metabolizável; EL = energia líquida; PB = Proteína Bruta

1 Farelo de soja com proteína bruta de 44%
2 Farelo de soja com proteína bruta de 48,5%

A maioria dos sistemas de avaliação classificam o farelo de soja em função do conteúdo em proteína sendo este valor o que dá nome ao produto à exceção do INRA que contempla como valor o conteúdo em proteína mais gordura residual após a extração. Isto dá, para as diferentes tabelas, um intervalo entre 4 e 5 farelos de soja com diferentes % de PB procedentes da extração. No entanto, para a presente revisão foram escolhidos os valores máximos e mínimos coincidindo com os extremos utilizados comercialmente. O conteúdo em proteína está inversamente relacionado com o conteúdo em fibra que age como fator de diluição e é quem determina majoritariamente o conteúdo final de proteína nos farelos comercializados (R2 = -0,86). A exceção do BRASIL, que dá os coeficientes de digestibilidade da proteína mais altos para ambas as qualidades de farelo de soja, o resto dos sistemas, FEDNA, CVB, INRA e NRC, apresentam coeficientes de digestibilidade muito semelhantes entre eles. No caso do farelo de soja de alto conteúdo em proteína, onde os coeficientes de digestibilidade da proteína são similares entre FEDNA, CVB e NRC, os coeficientes de digestibilidade aplicados para INRA e BRASIL são superiores. É importante destacar que, em termos de energia líquida (EL), no NRC dá um valor mais alto (entre 180 e 230 kcal/kg a mais que o resto dos sistemas) para o farelo de soja 44%PB incluindo que para 48%PB, o valor EL para o resto de sistemas FEDNA, BRASIL, INRA e CVB é muito similar (menos de 100 kcal/kg). Quanto à soja 48% PB, o valor atribuído à EL pode ser considerado muito similar entre os sistemas de avaliação. Independentemente dos valores EL atribuídos pelos diferentes sistemas (FEDNA, INRA, NRC ou BRASIL) deve ser destacado que o CVB oferece equações para a previsão do valor energético do farelo de soja em função dos coeficientes de digestibilidade considerando basicamente a proteína, a gordura, os polissacáridos não amiláceos, açúcares e amido. No entanto, os coeficientes de digestibilidade atribuídos à proteína, gordura e polissacáridos não amiláceos são os mais influentes e variáveis em função do tipo de farelo dentro do intervalo 44 a 48% PB para este sistema. Em termos gerais (exceto a NRC para o farelo de soja 44%PB) e da mesma forma que para o conteúdo em proteína a estimativa do valor EL está basicamente determinado pelo conteúdo em fibra posto que esta condiciona o conteúdo em proteína e ambos são os determinantes da estimativa do valor EL (com R2 = 0,77 em sentido positivo e R2 = 0,67 em sentido negativo, para a proteína e a fibra respectivamente). O conteúdo em amido também apresenta uma relação positiva sobre o conteúdo em energia não depreciável e inclusive com maior influência que o conteúdo residual de gordura.

Em termos de aminoácidos totais, tomando como referência a lisina, pode-se observar que para a soja 44%PB , enquanto que FEDNA e INRA dão valores semelhantes, NRC, CVB e BRASIL apresentam valores superiores no conteúdo de lisina (mas as diferenças não são nunca superiores a 3,5%). No entanto, para o farelo de soja 48% PB, INRA e BRASIL apresentam valores semelhantes e mais altos que NRC, CVB e FEDNA que apresentam valores mais baixos e semelhantes entre eles. Os valores para o resto dos aminoácidos totais são bastante proporcionais à lisina para as diferentes qualidades do farelo. O coeficiente de digestibilidade da lisina apresenta um intervalo entre 88% (FEDNA, CVB e NRC) e 90% (INRA e BRASIL) para o farelo de soja 44%PB. No entanto, o NRC tem menores diferenças dos farelos de soja 44%PB e a 48%PB, ficando em valores intermediários de 90-91% CVB, FEDNA e BRASIL e INRA destacando-se o farelo com 92%.

Descobertas recentes

  1. O farelo de milho-soja fermentado elevou os níveis de IGF1 em suínos em crescimento e terminação.
    O farelo de milho-soja fermentado pode aumentar significativamente a união de C/EBPβ ao promotor IGF1, potenciando a expressão e produção hepática de IGF1, melhorando o crescimento do suíno.
  2. Efeito de uma inclusão elevada de farelo de soja e de fitase sobre o crescimento de suínos desmamados alojados em condições comerciais.
    Os níveis de farelo de soja podem ser aumentados nas dietas precoces de transição sem afetar o crescimento e inclusive pode ser favorável em suínos procedentes de granjas com fêmeas positivas a PRRS ao reduzir os custos dos tratamentos medicamentosos. A suplementação de fitase a níveis muito elevados pode melhorar o crescimento independentemente do nível de farelo de soja da dieta.
  3. Avaliação do farelo de soja bioprocessado sobre o rendimento e o estado imune entre os lotes.
    O farelo de soja bioprocessado é uma alternativa adequada à farinha de peixe e/ou ao plasma seco em spray nas dietas da fase I e II das baterias, baseadas no crescimento do porco. A hipersenssibilidade prolongada à ovalbumina (OVA) indica que o farelo de soja bioprocessado pode ter um impacto positivo sobre a imunidade dos suínos. O fato de duplicar a quantidade de IgG anti-OVA garante futuras investigações sobre o efeito do farelo de soja bioprocessado sobre a imunidade dos suínos.
  4. Comparação da digestibilidade dos aminoácidos da soja integral, dos farelos de soja e farinha de amendoim em frangos de corte e suínos em crescimento.
    A digestibilidade da proteína bruta e da maioria dos AA foi menor em frangos de corte do que em suínos, mas o padrão das diferenças na digestibilidade de AA entre ingredientes foi semelhante em ambas as espécies.
  5. Uso de aminoácidos e composição corporal de suínos em crescimento alimentados com farelo de soja processado ou farinha de colza com ou sem suplementação de aminoácidos.
    O processamento da soja afeta negativamente a retenção de nutrientes e o uso pós-absorção dos AA digestíveis (DIE) para a sua retenção. Os efeitos do processamento foram compensados suplementando com AA sintéticos.
  6. Efeito da substituição do farelo de soja convencional por farelo de soja com teor reduzido de oligossacarídeos sobre o crescimento e as características da carcaça suína em crescimento.
    A redução de oligossacarídeos ao substituir o farelo de soja convencional por farelo de soja com baixo teor de oligossacarídeos na fase inicial, média ou final do período entre desmame e terminação não melhorou o crescimento nem as características da carcaça dos suínos.
  7. Composição química e digestibilidade de aminoácidos do farelo de soja produzido nos EUA, China, Argentina, Brasil ou Índia.
    A digestibilidade ileal estandartizada da proteína bruta e AA depende do país em que é produzido o farelo de soja. Esta diferença e a variabilidade dentro de cada país deve ser avaliada quando se formulam dietas para suínos.
  8. Digestibilidade de aminoácidos em farelo de soja para alimentação suína produzido em diferentes regiões dos EUA.
    O valor da proteína não difere entre o farelo de soja produzido nos EUA independentemente da localização das fábricas de processamento.
  9. Efeito da substituição de farelo de soja convencional por farelo de soja baixo em oligossacarídeos para dietas de transição.
    O farelo de soja baixo em oligossacarídeos reduziu a viscosidade do conteúdo intestinal mas não teve efeitos sobre o crescimento nem a morfologia intestinal ao ser fornecido para leitões durante as 2 primeiras semanas após o desmame.
  10. Valor nutritivo da torta de soja prensada a frio extrusada ou suplementada com multi-enzimas.
    A suplementação com enzimas avaliada neste estudo melhorou a digestibilidade de alguns AA, mas teve um efeito limitado sobre a digestibilidade de energia e, logo, da EL da torta de soja prensada a frio.
  11. Efeitos da isoflavona de soja sobre a capacidade antioxidante intestinal e as citoquinas em leitões alimentados com óleo de peixe oxidado.
    A suplementação dietética com isoflavonas pode reduzir parcialmente o efeito negativo do óleo de peixe oxidado ao melhorar a morfologia intestinal, assim como a capacidade antioxidante e a função imunológica dos leitões.

Referências

Foreing Agricultural Service. USDA. https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html
FEDNA: http://www.fundacionfedna.org/
FND. CVB Feed Table 2016. http://www.cvbdiervoeding.nl
INRA. Sauvant D, Perez, J, y Tran G, 2004, Tables de composition et de valeur nutritive des matières premières destinées aux animaux d'élevage,
NRC 1982. United States-Canadian Tables of Feed Composition: Nutritional Data for United States and Canadian Feeds, Third Revision.
Rostagno, H,S, 2017, Tablas Brasileñas para aves y cerdos, Composición de Alimentos y Requerimientos Nutricionales, 4° Ed,

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